17.2.07

Brilho eterno de uma mente sem lembranças

Sexta-feira de carnaval, quase meia noite, e estou aqui escrevendo. Mas esse não é qualquer assunto. Acabo de assistir ‘Brilho eterno de uma mente sem lembranças’, indicação de Verena que resolvi ir atrás tardiamente. Melhor assim, ele tem tudo a ver com meu momento: hoje é carnaval, e entro no ritual de reflexões que marca essa época em mim nos últimos anos. Nietzsche está lá. Korgis e a maior filosofia que me ronda nos últimos tempos também.

Estou lendo ‘Além do Bem e do Mal’ e a citação é daquelas que martelou na cabeça quando li. Nada demais, quase tudo martela na minha cabeça quando leio, mas gosto quando algo que assisto, leio, ouço aparece em outra obra que estou assistindo, lendo e ouvindo. O mesmo com acontece com Korgis, que me lembram muito algumas pessoas que amo e estão distantes, e tenho escutado exaustivamente. E as duas melhores no mesmo filme? Sem comentários, isso já bastaria para marcar a noite. Mas daí a tratar da (minha) maior filosofia dos últimos tempos? Aplausos para o filme que tem Jim Carrey maravilhoso (eu sei que não se aplica tão bem o nome dele à ‘drama’ nem ‘maravilhoso’, mas isso faz com que o filme seja mais surpreendente) junto à Kate Winslet como protagonistas.

Vamos à filosofia, que partiu do diálogo:
- Acho o seu nome mágico.
- É isso, Joel. Daqui a pouco vai acabar.
- É, eu sei.
- E o que podemos fazer?
- Enjoy! (não admito traduzir ‘enjoy’)

Aviso aos navegantes: Viver não é preciso! A vida é um acumulado de incertezas que nós fingimos não enxergarmos para conseguirmos poder de ação, pois somos covardes numa série de quesitos. A fonte de todo sofrimento é a constatação da vitória do que negamos para nós mesmos desde o início de qualquer história. Você não tem como garantir as pessoas que ama eternamente ao teu redor. Ou a vida, ou a morte, podem tirar isso de você a qualquer momento. Não se frustre por deixar de constatar o óbvio logo no início.

É isso: ENJOY!

O que dá a você alguma certeza de futuro? O que dá a certeza que sua saúde é infalível, que sua empresa não vai quebrar, que seu doce preferido não vai ser revelado como o vilão mais recheado de gorduras trans? Que o seu maior amor estará vivo daqui 50 anos ou, pior, vai te querer nos próximos 50 anos? Que seus filhos vão partir depois de você e você pode deixar para dizer que os ama amanhã? Que o ano que vem terá estações bem definidas e você poderá programar sua viagem dos sonhos? Que na véspera da competição você não quebrará a falangeta? Já parou para pensar que ninguém te pertence? Que seus planos são apenas planos? Que sua vida é frágil? Não deixe de agir. ‘E se isso, e se aquilo? Se? SE?’ Os ‘mas’ e os ‘se’s vão limar quase todas as suas oportunidades.

Há certeza (não, não há!) que algo lhe trará sofrimento? Hum... E??? Se o sofrimento não for por si a paga da sua escolha, ele trará crescimento, vivência, maturidade. Há algo que pague isso?

O que fazer? ENJOY! Viva, de verdade...

E então, na seqüência, dentro da casa que não lhes pertence (como tudo em nossa vida), ele diz:
- Eu queria ter ficado. E agora que eu queria ter ficado, eu também queria ter feito um monte de coisas. Queria sim.
- Eu queria que tivesse ficado.
- Eu também, mas saí. Fui embora.
(...)
- Estava com medo? – ela diz
- Sim.
- Por quê?
- Pensei que soubesse que eu era assim.
(...)
- E se você ficasse, dessa vez? Volte e faça uma despedida pelo menos. Vamos fingir que tivemos uma.
E olhando nos olhos dele, ela diz sorrindo:
- Goodbye, Joel.
- Eu te amo.

Depois disso eu quis voltar a várias situações na minha vida e fazer as coisas novamente, assim como gostaria de ter feito. ‘Queria sim’. Mas e daí? Eu sou a somatória de todas as coisas boas e ruins pelas quais passei. Olhar para trás, só se for para suspirar e aplaudir, independente do fim de cada história.

Assista. Se já assistiu, reprise.

Don’t look back!

‘Enjoy!’

Everybody’s got to learn sometime...

7.2.07

Filhos

Eu realmente não quero ter filhos. Torço fortemente para que isso mude um dia, mas a idéia, hoje, me apavora. E todo mundo questiona isso. Afinal, como EU, a mãe do mundo, posso não querer filhos?
Nada contra crianças. Amo minhas sobrinhas como amo minha própria vida. Mas ter um filho exige coisas de uma pessoa que acho que nunca estarei preparada para oferecer.
Ter um filho pede desprendimento e doação extremos.
Para se ter um filho você precisa ter estômago para cuidar do machucado e disposição para passar as madrugadas ao lado dele na convalescência.
É preciso engolir o ciúme diante da primeira namorada, estar pronta para ser avó antes do tempo e saber apoiá-lo se isso acontecer.
É preciso ser incentivadora para os estudos do vestibular e as defesas de teses da faculdade e da pós, além de conseguir receber com um sorriso a notícia de que vai morar fora de casa, talvez do país.
Saber ser fria para dar uma bronca. Saber ser força numa possível depressão. Saber ter força se ele partir antes de mim.
Para ter um filho preciso aprender, antes, ser guerreira, psicóloga, matemática, professora, médica e colo. Eu realmente não sei se tenho vida prá aprender tanto.

Daí alguns desvairados saem arrastando uma criança de 6 anos pelas ruas e eu concluo que não consigo nem sonhar com a possibilidade de ter um filho MESMO!