21.12.08

Amanhã

Sou como você: alguém que busca incessantemente preencher-se, procurando sempre o não-sei-o-quê potencial cumpridor desse papel. Alguém que vive da ilusão que o próximo passo pode trazer o sentimento de completude.
Combinemos que isso não existe. No fundo, sabemos. Talvez não tão no fundo, e por isso nossos momentos de lucidez nos deixam tristes e insatisfeitos com o universo ao redor imediato. Algumas coisas surgem em nossas vidas para habitar o plano do 'e se...', só. E lá devem ficar, pois fora de lá perdem todo o sentido. Minha terapeuta me dizia que se estivermos 99% preenchidos e felizes, ainda assim vivemos buscando o 1% que falta como se ele fosse essencial para nossa felicidade.
Fato.
Após o abraço longo de quem não vê alguém que ama há meses, meu querido me fez uma pergunta intrigante. Eu respondi, na lata (pois consigo ser totalmente transparente com ele e praticamente com mais ninguém). Analisando agora, a resposta da pergunta se resume no seguinte: a gente se lança nas coisas impulsivamente para preencher vazios, buscando preservar o que se tem na ilusão de que o que está lá, lá está e vai ficar. No fundo, o conforto dos 99% nos faz pensar que há garantias. É... Mas elas não existem, meu bem. Nem para mim, nem para você. Nem para o corpo, o emprego ou as amizades. Muito menos para as promessas: essas ignoram completamente o amanhã.

25.10.08

1.000.000 Kcal

Apaixonei pela música.
Mas o que mais me chama atenção é como alguém pode pular por tanto tempo! Cansei só de assitir...



Goldfrapp - Happiness

1.10.08

Fleet Foxes

Eu já havia baixado Fleet Foxes há algum tempo, mas só passei para o iPod há poucos dias.

Nem conhecia o tal do indie barroco, mas sabe que gostei? Me empolguei, mostrei para muitas pessoas, a maioria achou parecido com Beach Boys. E eu acho parecido com muitas coisas, menos Beach Boys: eles não têm nada de surf music, que é a principal característica que identifico nos garotos da praia. Bem diferente disso, Fleet Foxes me passa um clima de Idade Média, faz com que me sinta ouvindo um coral que não é gospel dentro de uma catedral gótica. Eles me lembram muito os Shins, e me parece que o produtor de ambos, inclusive, é o mesmo.

Acho que uma boa forma de apresentá-los para aqueles que não os conhecem é deixando a música que me fez baixá-los. E, ainda melhor, vai o clipe que também é supimpa (eu adoro filmes feitos com massa de modelar!).


31.8.08

Domingo quero ver acabar

Estou cansada, e não é fisicamente.
Se pudesse, me implodia e começava tudo de novo, em outro lugar do planeta, com tudo novo ao meu redor. A parte mais difícil da vida é não ter um comando undo.

***

Mana está prestes a casar e estou com um misto de alegria e angústia aqui dentro. Ponto para a ansiedade, ela sempre ganha de mim. Correria, correria.

***

Terça está chegando. E há um abraço imenso guardado aqui que pretendo despejar sobre alguém nesse dia! Como já diria um de meus ídolos:

Lord I miss Daniel, oh I miss him so much
Daniel my brother...

26.8.08

Satisfação de uma workaholic

Faz tempo que não 'piso' aqui pois o trabalho volta a me consumir. E, se querem saber, estou feliz da vida com isso. Por mais que eu reclame não há nada que faça com que me sinta mais viva do que um dia cheio, bem cheio de coisas para resolver. Sou uma nata resolvedora de problemas.
Quando meu dia se preenche de tarefas parece que os problemas se tornam menores, as ansiedades somem e a gente passa a ver o quanto coisas podem ser supérfluas e desnecessárias. Sabe aquele punhado de pequenas coisas que parece consumir nosso pensamento o dia todo e que, no fundo, não serve para nada se resolvido? Então: trabalho é um ótimo remédio para isso.
Quando estou tranquila demais eu fico preguiçosa e viciada compulsivamente (isso é um pleonasmo?) em coisas muito desnecessárias, tais como checar o e-mail de 5 em 5 minutos e bisbilhotar a internet das formas mais esdrúxulas. E isso me faz tão mal! Sorte que me livrei do msn diário e do Orkut há muito tempo. Fico tão feliz em passar o dia longe do computador fazendo 300 telefonemas, mandando uma série de e-mails profissionais e todas as coisas que envolvem meu trabalho, sabe? Não fossem as benditas reuniões eu estaria plenamente satisfeita.
Eu não nasci para ver novela ou ser dondoca. Eu poderia ser uma gari cantarolante ou uma dona de casa exemplar, jamais uma desocupada. O velho ditado que diz que quanto menos se faz, menos se quer fazer é pura verdade, e graças ao bom Deus não tenho previsão de tempos tranquilos tão cedo.

24.7.08

Lei Seca

Eu si divirto com as discussões acaloradas dos meus amigos em torno da lei seca. Sinceramente, para mim não faz a menor diferença, já que nunca fui chegada na embriaguez. Então vai um incentivo para meus queridos que insistem em discutir a nova lei, para que vejam o lado positivo da coisa!

15.7.08

Estranha essa coisa de sintonia, essa coisa de alguém passar exatamente por coisas que passamos nos mínimos detalhes.

Então vejo aquela mulher, linda e cheia de vontade de viver, tropeçando nos mesmos buracos que eu já tropecei. E o impressionante é que eu praticamente pude prever certas coisas.

E daí que ela quer dar um jeito no caminho. E eu digo que não há jeito.

Bem que poderia: também estou cansada disso, mas já briguei demais. Desisti.

Me pergunto se isso é algum tipo de comportamento padrão ou se é algo do além mesmo.

7.7.08

Esperança

A coisa triste de partir é a obrigação de deixarmos coisas que não queremos deixar. E assim foi com o meu convívio com a Fer, que é uma mulher que amo, quando saí do meu penúltimo emprego. Sinto muita falta das nossas conversas sobre todos os assuntos, sobre os desabafos e confidências de uma época de nossas vidas que, sem dúvida, fez de nós pessoas muito mais maduras.

E ela me presenteou há alguns dias com um poeminha de Vicente de Carvalho sobre a esperança, que não é um poeminha meigo de ninar, e sim uma forma real de enxergar essa coisa que nos move mesmo que nunca alcancemos o que esperamos.

Há duas coisas que eu tenho como alicerces, das quais não posso abrir mão se quiser me sentir viva: o convívio com os outros - pois realmente acredito que a vida é a arte de conviver, e ainda vou dissertar sobre isso por aqui- e a esperança. Desde sempre pensei que posso até não alcançar o que espero, pero sin perder la esperanza jamás. E talvez seja esse mesmo o mecanismo da esperança: não ser conquistado para continuar nos alimentando todos os dias com a vontade de viver.

Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos
.

27.6.08

Eu, Tu, Eles

Sei lá por qual motivo, desde os 23 eu sempre me atribuí mais idade. Ao ser questionada sobre isso era muito comum, senão regra, ter o impulso de responder '28'. Quando percebia que não era 28 ainda tinha que pensar e fazer contas de quantos anos eu realmente tinha para responder. Isso era num instante de um flash, mas acontecia todas as vezes. E vai ver era um prenúncio, pois aos 28 realmente minha vida começou a tomar outro significado.

Aos 28 eu comecei a me apavorar com o tempo e com os rumos da vida, percebendo que os sonhos devem ser muito bem sonhados pois não podemos levar todos adiante. Alguns se perdem no caminho, alguns são descartados por outra série de fatores, mas o fato é que a eleição de sonhos é algo muito complicado: por mais consciente que seja o descarte ele sempre gera um sentimento de frustração latente, como se essa frustração fosse o preenchimento das lacunas que os sonhos não possíveis deixam em nós. Mas foi bom, e o ano dos 28 foi o meu melhor ano de auto-conhecimento.

Aos 28 eu comecei a responder que eu tinha 30 quando questionada sobre a idade. E, bem, agora tenho 30. Acho isso pavoroso, de verdade. Pois o simbolismo dos 30 anos é cruel, um divisor de águas muito claro. Hoje, por exemplo, me olho no espelho e tenho plena consciência do meu envelhecimento. Falo de corpo (e minhas calças não me deixariam mentir) e falo principalmente de alma. O corpo, sinceramente, eu tiro de letra. Tenho meus momentos de crise como toda mulher, principalmente se os hormônios contribuem, mas convivo e tomo minhas atitudes. Por mais drama que eu faça isso nunca me foi um problema de fato: a pequena crise desses momentos em que me dou conta do aumento do manequim ou da perda de elasticidade da pele não dura o suficiente para me deprimir. Triste é o envelhecimento da alma.

Quando pego minhas fotos e me comparo aos 15 e aos 27 anos eu não vejo diferença: vejo um rosto de menina, um sorriso de menina e um olhar de menina. E isso sempre foi algo que eu ouvi dos outros quando me reencontravam depois de um longo intervalo: 'você não mudou nada!' era uma frase recorrente. Problema é a comparação hoje. O sorriso é mais contido e as ruguinhas são visíveis a olho nu, e não que rugas sejam um problema (eu até gosto delas) mas a origem delas não é a idade, e sim o estado de espírito.

Então ontem estive com a minha família. E nesses momentos eu mais observo do que falo. Minha mãe sempre tão mãe e demonstrando o tempo todo o amor inigualável que sente por nós: pega na mão, beija, externa orgulho. O meu irmão mais velho me chamando de oráculo e cobrando uma presença minha mais constante, minha irmã linda como só ela sabe ser, uma pessoa de espírito forte e único. E tem o Tu, o caçula.

Na noite anterior eu havia tido um pesadelo com meu irmão mais novo, daí que ontem eu o olhei por mais tempo do que normalmente olho. Ele é lindo. Ele sou eu há alguns anos, quando eu respondia que tinha 28: sorridente, leve. A única diferença está no nível de responsabilidade, mas acho que isso é natural pela diferença de sexo. E eu, que sou declaradamente apaixonada por minha família, fico embasbacada a cada vez que deparo com esse sentimento diante deles. Meu irmão mais velho é totalmente meu filho, assim como minha mãe. Minha irmã é alguém em pé de igualdade, amiga mesmo. A melhor que tenho, e nenhuma mulher chegou perto de ser para mim o que ela é. Agora, o pequeno... É uma paixão doida! Se eu fosse menininha e não fosse irmã, morreria de outras manifestações de amores por ele. Não é possível lembrar dele triste, nem parado, e até quando ele apronta as piores coisas eu não consigo ser dura o suficiente pois ele me amolece. E pensando aqui, talvez seja pq me vejo muito nele, e vejo toda bondade possível em um ser humano materializada nele, coisa que já tive também.

Como é que um ser humano pode ser tão bom, tão leve, tão bonito e outros serem tão opostos a isso tudo, não é? E, pior, como pode um ser humano ser tudo isso de bom e transformar-se em algo tão oposto a isso???

Os minutos de contemplação (e essa é a palavra correta, já que por mais de uma vez alguém falou comigo e eu não ouvi nada pois estava olhando para ele, com o pensamento longe) me fizeram refletir muito. Pensar nos sonhos que eu tenho direito de continuar sonhando, no enterro que devo fazer de tantos outros que não cabem mais, na vontade de fazer planos (que se perdeu em algum lugar do caminho e eu preciso recuperar), na fé - que, infelizmente, foi a minha maior perda nos últimos tempos, no sorriso verdadeiro, na leveza (essa vai ser a mais difícil de reencontrar).

Os 30 me trouxeram consciência de uma série de coisas, mas também me trouxeram coisas que sempre critiquei. Me tornei menos paciente, menos persistente, menos empreendedora, menos sonhadora. Estou a 1 passo de me tornar aquele tipo abominável que só fala de sonho mas não age, que precisa começar a ginástica mas adia diariamente, que traça metas mas não busca cumprí-las, que passa o dia sentada pensando em sobreviver ao invés de viver, comodista, conformada. Mas, por outro lado, me trouxeram maturidade para reconhecer tudo isso e buscar a reinvenção.

Estou respirando fundo para ver por onde devo começar. Torçam por mim!

23.6.08

Sintonia

Depois de uma conversa de horas com meu irmão gêmeo, pensei em algumas coisas que eu precisava registrar para não esquecer de lembrar. Não precisei, nosso lado Mônica já havia batido nele e encontrei a lista sobre nossas indisposições pronta que, claro, saiu praticamente igual à que eu iria montar. Então vou dar o ctrl+C / ctrl+V em tudo o que se aplica do lado de cá, que dá na mesma:

* Cultivar novas amizades - o projeto é CONSERVAR as antigas. Só.
* Ensaiar ou tentar manter relacionamentos - minha vida é COMIGO MESMO e faço questão de que seja assim porque EU NÃO PERTENÇO.
* Acreditar em promessas de trabalhos maravilhosos sem data pra começar nem salário definido - No meu caso serve e máxima 'não insistir demais em coisas que começam com a cara de que não vai dar certo'.
* Trocar o CERTO pelo DUVIDOSO AO EXTREMO.
* Falar com gente 'nada a ver' por motivos 'mais nada a ver ainda'.
* Perder tempo com a porra do MSN. CAN-SEI!
* Ficar acordado até muito tarde... Sim, não sou mais o mesmo! - e o fôlego também não! Varar a noite, agora, só se for na gandaia. Fora isso, não me liguem depois das dez da noite! ZZZZZZZZZZZZZZ
* Lidar com gente que não merece nenhum grande esforço de atenção.
* Dizer "sim" quando preciso dizer "não".
* Ficar muito tempo longe de quem verdadeiramente amo e sinto falta.

É isso aí: coisas para não esquecer jamais!

19.6.08

5:55

Deus ajuda quem cedo...


Amém!

16.6.08

Upa, upa cavalinho!

Eis que Pé-de-Pano ganhou um Voodoo pra Jacu: olhem meu imponente cavalinho!


Só uma amiga querida, quase uma irmã mais nova, poderia ter a paciência de fazer isso por mim. Acho que foi o presente mais criativo que ganhei na vida! Estou tãããão feliz com ele...
Má, obrigada por tudo, não só pelo Pé-de-Pano! Há de se ter muita paciência para ouvir meus lamentos diários e conseguir recebê-los bem sempre.
Amo você! E que a vida ainda me reserve muito de sua presença!
Beijos meus e do mascote! (quando você pegar uma carona comigo, vai ver que lindo ele lá cuidando de si próprio! hahaha)

Pensou mesmo que ele fosse grande?

Ah, o frio...

Tem como não gostar?

9.6.08

As flores já não crescem mais

Há mais de 1 mês trabalho aos finais de semana e estou acabada fisicamente. Não consigo fazer NADA em casa, nem ler meus livros, nem passar um mísero hidratante nas pernas. Estou cansada demais da conta...

Já estou morrendo de saudades dos meus queridos, com um sentimento de frustração enorme por não ter atingido meus objetivos e preferir buscar outros caminhos ao invés de lutar por algo que quero, como sempre fiz profissionalmente. Mas o que me fez desistir é lembrar que na maioria das vezes o desgaste é tão grande na batalha que não compensa a vitória. Então desisti, dane-se!

O que me anima são as coisas que vou retomar pessoalmente: as regas diárias no lírio da paz que já está quase morrendo, jantar decentemente após chegar de um dia produtivo no trabalho, rever pessoas que amo, organizar meus filmes antigos e minhas músicas, me exercitar antes do galo cantar, correr aos finais de semana... Além da lista de coisas que sonho há anos e ainda não consegui concretizar por falta de tempo.

Eu geralmente não espero a virada de ano, o aniversário ou a segunda-feira para fazer listas ou começar a ir atrás das coisas que desejo ver concretizadas. Isso me é um exercício constante. Tenho alguns planos bem antigos que pretendo realizar em breve, agora que estarei num lugar mais parecido comigo e a inspiração de renovar meu (quase nenhum) tempo livre parece estar brotando novamente. Eu ainda vou fazer flamenco, violino, gastronomia, teatro e filosofia. Só não sei por onde começar.

Mas minha maior ansiedade é outra. Assim que colocar meu sono em dia volto à minha rotina: acordar na madrugada, fazer exercícios, tomar um banho seguido de um café da manhã decente, trabalhar feliz, chegar em casa e tomar o outro banho cheio de rituais, ler um livro e dormir de sonhar. Quando a saudade bater, olharei fotos de ontem e ligarei para as meninas, marcaremos um almoço ou happy hour, vamos rir um monte com as besteiras que brotam sem parar e pronto! Vai ficar tudo bem...

Agradecimentos infinitos por vocês, que me fizeram resistir além das forças. Se eu pudesse, levaria todos comigo. E tchau, que estou quase chorando!

28.5.08

Um dia com meus pensamentos

Ontem uma pessoa que AMO ligou para mim tardíssimo da noite e passamos uma hora ao telefone. Falamos de maternidade, de planos de trabalho, de crises existenciais e tal. Pensei no quanto ela se parece comigo, e no quanto meu amor pelos amigos é algo enorme: sempre adoto as pessoas com quem me identifico como filho, irmão, pai e o que mais for possível. A vida faz questão de afastar de nós as pessoas mais queridas, isso é putamente injusto. Se dependesse de mim, levava meus amados à tiracolo!

***

Talvez eu nunca perca o hábito de acordar de madrugada para trabalhar. Pude acordar mais tarde durante 1 mês, mas meu relógio biológico insistia em me acordar às 5 todos os dias. E não gosto de enrolar na cama nem aos fins de semana: fato.

***

Tem coisas que só o modo shuffle do player faz por você! Há tempos não coloco Wonkavision para ouvir por conta própria, mas hoje lembrei de uma frase que é recorrente nas minhas crises pessoais por conta do modo aleatório:

Diz que não é assim, que eu devia lutar. Mas lutar pelo quê?
Se não posso vencer a guerra de mim mesmo sem eu mesmo perder...


Né?

***

Odeio sindicatos. Odeio muito. Por conta dessas malditas manifestações que tentam esconder as falcatruas dos líderes em meio aos escândalos, uma série de pessoas se prejudica em seus empregos por causa do trânsito. Uma hora e meia para chegar ao trabalho = 45 reais de táxi. Vou à falência.

***

Eu me preocupo com os outros, sempre e muito. E se pudesse, evitaria todo motivo de chateação alheia. Eu preciso muito parar com isso, pois geralmente isso não traz nenhum bem, nem à mim nem ao outro. Será possível mudar algo tão intrínseco em um ser?

***

Certas coisas me fazem um mal enorme.

***

...

***

Meus planos de trabalho sempre dão errado: eu sempre extendo os meus prazos de permanência e, pelo jeito, jamais terei férias nessa vida. Serão mais 15 dias de tortura. Deus há de continuar sendo pai!

21.5.08

Amanhã é feriado.
Que legal pra vocês!
>:(

19.5.08

Opinião pública

Larguei a TV há uns bons 3 anos. Me limito a acompanhar alguns pouquíssimos seriados e reality shows (nada parecido com BBB, vamos deixar claro), mas dias atrás precisei passar diariamente na casa da mamãe durante a noite e lá a TV impera absoluta na sala de visitas. Foi inevitável não me espantar com o vulto que o caso da menininha jogada pela janela na Zona Norte levou. Eu costumo acompanhar as notícias pela internet e noto a repercussão de um caso conforme o tempo que a notícia aparece em negrito na página inicial dos sites, mas na TV a coisa é bem pior: as emissoras fazem questão de direcionar a opinião pública tocando na ferida o tempo inteiro, e na falta de assunto se discute até o que o preso tomou no café da manhã, quantas vezes ele chorou e qual a cor do cobertor que o cobriu. Absurdo.

Daí eu lá esperando o jantar quando vejo uma multidão, mas MULTIDÃO mesmo, diante do prédio que o pai da garotinha estava pouco antes de se entregar junto com a mulher. E juntamente com a indignação de ver tanta gente-sem-ter-o-que-fazer-da-vida veio uma reflexão que eu estou há dias querendo partilhar, mas o tempo não deixa.

Antes de mais nada, quero deixar claro que isso não é uma opinião sobre culpados de coisa alguma. Meu achismo diante disso, que não quer dizer %*&&@ nenhuma do ponto de vista jurídico, é de que há grande possibilidade deles realmente serem os culpados. Mas calma lá: nem mesmo a polícia, com todo o embasamento técnico que eles possuem com as investigações e a perícia, pôde afirmar isso de forma conclusiva até o momento. E lendo alguns criminalistas que se pronunciaram sobre a prisão preventiva deles pude constatar minhas suspeitas: tudo é uma questão de opinião pública. E, sinceramente, como acredito que esse povão ignorante não tem opinião própria, tudo é uma questão de manipulação midiática.

Há 1 ano uma menininha sumiu do quarto que estava hospedada com os pais em Portugal, e todos devem se lembrar disso. Inexplicavelmente a garotinha sumiu praticamente sem deixar pistas. Então a polícia conseguiu ir mais adiante na linha de investigação que acusava aos pais, já que cães farejadores apontaram cheiro de cadáver no porta malas do carro alugado do casal e em alguns de seus objetos pessoais. Encontraram também uma seringa utilizada no quarto que apontou vestígios de tranqüilizantes. Daí surgiu uma teoria do casal ter aplicado a substância na filha para que ela dormisse e eles pudessem sair para jantar, encontrando-na morta na volta. No desespero de ter matado a própria filha, eles poderiam ter ocultado o corpo e sugerido a invasão do quarto e o seqüestro da mocinha. Houve uma comoção pública tão grande que rechassava a teoria que a polícia conseguiu avançar em outras linhas de investigação, ainda sem conclusões. Um outro mané também foi declarado suspeito e até hoje não conseguiu retomar o ritmo de sua vida pessoal (talvez nem consiga). Os pais conseguiram sair de Portugal com o apoio da opinião pública e um ano depois dessa história ter começado, o saldo é um crime com suspeitas diversas que consideram um possível envolvimento dos pais, ou o de uma rede de pedofilia, ou de um possível mané que, se inocente, deu um puta azar de estar no local errado, na hora errada. Ou seja: NADA. Mas intrigada mesmo fiquei com fundação criada pelos pais da Madeleine, que recebeu milhões de euros em doações (de grandes personalidades, inclusive) cujo dinheiro ninguém teve mais notícias, e ainda conta com uma loja que vende camisetas e pulseiras da organização. E esse é outro caso sem conclusão, que conseguiu até agora juntar o maior número de indícios contra aqueles que deveriam ser as vítimas da situação: os próprios pais da garotinha. No entanto a situação deles é bem diferente por uma questão de opinião pública.

Daí que o Guinness Book ganhou um novo record por esses dias: em Dallas um homem inocente foi solto após 27 anos preso acusado de cometer estupro seguido por homicídio de uma mulher. Imaginem: o cara foi preso, todos os indícios apontaram para ele desde o início. Ele alegou inocência desde sempre, mas o povo deveria odiá-lo por um crime brutal. Então ele foi condenado por algo que não cometeu e 27 anos depois, após perder toda a vida na prisão, ele consegue provar sua inocência. Que será que pensam aqueles que o julgavam culpado nesse momento? E o que pode ser feito para ressarcir uma vida que ficou injustamente enclausurada por 27 anos?

Então chego no questionamento que queria chegar: até que se prove a autoria de um crime, como pode vazar tanta informação de um inquérito que deveria ser absolutamente confidencial? Será que a mídia deve mesmo ter o direito de divulgar fotos pericias ou depoimentos de um processo em andamento? Eu li o depoimento inteiro da mãe da mocinha num jornal eletrônico, isso é um absurdo! Deus queira que o pai e a madastra da menininha da Zona Norte sejam mesmo culpados desse crime estúpido, e que os pais da garotinha inglesa não sejam também culpados pelo sumiço da própria filha. Assim estará tudo bem ao final das contas. Pois senão teremos como resultado famílias maculadas e traumatizadas injustamente, um prejuízo sem conserto para o resto da vida dos acusados por plena incapacidade de lida de uma investigação por aqueles que deveriam ser os primeiros a se preocupar com a integridade moral dos cidadãos.

Quando pego pessoas pedindo a morte do casal da Zona Norte, converso sobre isso. Elas pensam sobre o caso e dizem que, vendo assim, realmente é para ser mais cauteloso para julgar o caso e me perguntam se acho que eles são inocentes. Olha: não. Não acho, mas uma parte grande de mim quer acreditar que um pai não comete com um filho algo nojento desse tanto. E no entanto temos um crápula austríaco que molestou a filha por 24 anos. 24 ANOS! Consegue imaginar? Eu não... Nada do que se faça devolve a vida daquela mulher e nenhum castigo seria o bastante. Na minha cabeça isso é inconcebível e até eu, ponderada que sou, tenho vontade de estrangular o velhote.

O mundo é triste. Triste de verdade.

11.5.08

Genesis

Meu pai tem um gosto musical fantástico. Ele sempre foi tão apaixonado por música que acabamos, todos em casa, sendo contaminados com isso. E o curioso é que quando me lembro dele ouvindo música chego a sentir saudades: era uma das coisas boas que ele tinha.

Cresci ouvindo muitas coisas, nem daria para listar: minha casa tinha um acervo invejável de vinis com muito de Beatles, Pink Floyd, Deep Purple, Alan Parsons, Queen, Creedence, Jethro Tull, Eagles, Supertramp... Mas sem sombra de dúvidas, Genesis é a minha herança musical preferida e não há nada no acervo que eu goste mais. São eles os culpados de meu fascínio pelo progressivo, que para mim é algo muito maior do que trilha musical de reportagens televisivas (verdade: me parece que o progressivo é a escolha oficial dos editores das emissoras! rs)

Como a maior parte dos verdadeiros fãs de Genesis, eu também acho a fase Peter Gabriel infinitamente superior, não só pela obra que é incomparável mas também por toda a performance do líder da banda nessa fase, que é algo impressionante. Não que eu possa dizer que gosto da fase pop, mas meu pai ouvia e acabei me habituando com algumas coisas (adoro Mama, Follow you, follow me, Throwing It All Away...), além de me derreter com a voz do Phill Collins e o considerá-lo extremamente carismático (se ele não tivesse dito que se interessa menos por música do que por sua memorabilia da Batalha do Álamo, poderia dizer que sou apaixonada por ele). Para mim, a birra que os fãs ortodoxos têm dele é uma injustiça. Tudo bem, acho boa parte da obra da banda sob sua liderança dispensável, mas a saída do Peter Gabriel me soa mais como um ego ferido por ter alguém talentoso se sobressaindo no grupo do que por descontentamento com uma possível veia pop que sequer havia dado as caras na formação. De qualquer forma concordo que é outra banda, voltada ao comercial, e estou falando da primeira aqui. Nem conto com Ray Wilson, e se conheço algo dessa fase é totalmente sem querer: havia coisa mais útil para gostar nos anos 90, e meu gosto já era mais inclinado ao indie.

Eu não sou opinião adversa em considerar Seeling England by the Pound a melhor obra do Genesis. Também não sou uma pessoa difícil de agradar, ponto pacífico, mas posso dizer que esse álbum está num estágio além das coisas que gosto muito e escutá-lo é experiência sem igual: há uma dinâmica perfeita entre as faixas e raramente me permito escutar uma música isolada. Mas se você me mostrar uma, qualquer uma delas isoladamente, eu vou delirar quase da mesma forma.

Do resto gosto muito, muito de Nursery Crime. Mais que Fox Trot, que costuma ser o segundo na lista dos fãs ortodoxos. Gosto bem de Trespass e do Lamb Lies Down, mas do From Genesis to Revelation eu mais rio do que qualquer outra coisa: é ruim. Ruim. Se não fosse In Limbo e Windows, eu o teria apagado do meu player. Quando os ortodoxos criticam o Phill certamente estão ignorando essa fase obscura de Peter Gabriel.

Para quem não sabe, os álbuns progressivos são como livros e a sequência de composições oferece uma dinâmica que deve ser respeitada para que o conto faça sentido. Por isso é muito difícil fazer uma lista de músicas preferidas: isoladamente elas não têm o mesmo efeito que quando inseridas em seu contexto. Mas farei, mesmo assim, duas indicações por álbum que, digamos, são os meus capítulos preferidos:

From Genesis to Revelation
Windows
In Limbo

Trespass
Visions of Angels
Stagnation

Nursery Crime
Musical Box
Absent Friends

Fox Trot
Can-Utility and the Coastliners
Supper's Ready

Seeling England by the Pound
Firth of Fifth
I Know What I Like
(Se eu pudesse citar 3 músicas, citaria Dance in the Moonlight Night na sequência)

The Lambs Lies Down on Broadway
Carpet Crawlers (que deve ser a minha preferida depois do trio que inicia o álbum anterior)
Cuckoo Cocoon
(eu poderia citar a dupla The Lambs Lies Down on Broadway e The Light Dies Down on Broadway, mas eu extrapolaria o meu limite)


Sim, sim, meus caros: eu sou cara de pau e dei um jeito sutil de quebrar as minhas próprias regras ao citar as preferidas. Mas ouçam, e então vocês conseguirão me entender!

Enjoy it!

7.5.08

Café da manhã

Quer mesmo saber por quê vou mudar de emprego?

2.5.08

Sobre uma mulher fora de contexto

Quando eu morava na Rocha a dona do apartamento pediu para deixar uns móveis dela por lá pouco antes de colocá-lo para alugar, de forma a incluí-los do aluguel do futuro locatário. Eu topei, mas chorei de desespero (sem exagero) quando cheguei em casa: os móveis eram tão, tão velhos que eu tinha medo de dormir e no primeiro dia, de fato não dormi. No segundo, cambaleando de sono, deixei a porta aberta e a luz acesa e consegui dormir em alguns intervalos. No terceiro resolvi ser amiga de todos eles fazendo a política da boa vizinhança: olhei para a carinha de cada um e dei o nome que combinava melhor com cada coisa. Assim fiz de amigos a penteadeira Luís XV que era a Princesa Isabel, uma cama baixa com um espaldar alto e trabalhado que se chamava D. Pedro, o armário imenso conhecido como D. João e as várias peças que deveriam compor uma cozinha e ficaram pela casa que atendiam por Dona Benta. E daí por diante tivemos uma convivência pacífica. Desde então notei que é costume meu dar nome às coisas que preciso me familiarizar, assim como os apelidos às pessoas que começam a fazer parte da minha vida.

Durante anos eu sonhei ter um notebook. Assim eu poderia levá-lo até o cliente para uma modificação rápida de projeto, sentar para trabalhar em qualquer ponto de casa, redigir minhas atas de reunião durante as reuniões, enfim... Coisas de workaholic assumida. Duas semanas após a aquisição eu nem havia aberto os programas para testá-lo ainda. Eu realmente o uso em reuniões, nesse frio é bom ficar na cama escrevendo ao invés de sentar no escritório, mas é só em situações como essas que acabo usando de verdade o computador. Nem dei nome para ele ainda, não somos amigos. E olha que ele é até simpático, mas não adianta: gosto da boa e velha workstation.

O carro foi totalmente outra história, pois eu nunca quis ter um carro. Aos 18 anos tirei carta como um presente dos meus pais e logo bati, e então me desinteressei completamente. Nunca tive vontade de dirigir e, pasmem, eu gosto de andar de ônibus. As pessoas costumavam me dizer que quando eu dirigisse com frequência acabaria gostando, que talvez eu não gostasse ainda pois tinha medo, que eu teria uma sensação de liberdade incrível, blablabla. Elas me enganaram. Odeio dirigir. Não sei o que acontece, mas não gosto mesmo. Eu prefiro muito mais sentar no meu banquinho do ônibus e ler meu livro, ouvir música com fones de ouvido, até tirar um cochilo tem sua utilidade. Mas dirigir? O que se faz de útil enquanto se dirige? Sério: não gosto. Penso se não é birra minha, assim como o laptop que sonhei em ter durante anos e agora uso raras vezes. Mas na verdade acho que realmente sou uma pessoa fora do contexto, que consegue ser grande amiga de móveis do século passado e até sente falta deles, mas que não se adapta às modernidades do século XXI.

Então quando digo que queria viver num tempo regresso é dessas coisas que sinto falta: de se fazer um projeto à naquin com prazo justo para amadurecer idéias, de uma época em que as pessoas trabalhavam para viver, onde cartas escritas à mão eram comuns, onde as pessoas não precisavam de orkut para lembrar do seu aniversário e as mulheres não eram desmerecidas por adorar cozinhar ou bordar. Eu poderia usar um vestido rodado preto com bolinhas brancas e uma fita de cetin na cabeça sem chamar atenção de pessoas com fuseaus roxas sob um vestido amarelo limão como se a pessoa estranha fosse eu. Enfim, onde os móveis da Rocha eram contemporâneos e os laptops eram surtos de um louco vidrado em ficção científica.

21.4.08

Reprografia comportamental

‘Eu sou a soma de tudo o que vejo e minha casa é um espelho...’

‘Como ele é educado’ é uma frase que poderia significar ‘como ele é adestrado, como ele é manipulado’. Mas, com isso, não teríamos orgulho de ‘educar’ ninguém, então se inventou essa palavra. De início todos temos escrúpulos. Parece que nasce com a gente (parece, não sei se é assim) o essencial para ser minimamente sociável, para podermos conviver com outras pessoas minimamente sociáveis: nascem controlados, com as pessoas consideradas ‘normais’, os impulsos de matar, roubar, desrespeitar. De resto, tudo é moldado. Na China se come como se não se comesse há 10 anos e se suga com um barulho insuportável o que há no prato, mal se respira, coroando-se toda refeição com um festival de arrotos. Se você não arrota, você é ‘mal educado’. Isso é uma amostra mínima de como nossos hábitos mais básicos são espelhados no que nos rodeia.

Enfim, somos a soma do que se julga coletivamente como correto e ‘educado’. E algumas pessoas prolixas, como são todas as pessoas menos medíocres mas não menos educadas, passam a vida a discutir o resultado das somas alheias como se elas não fossem resultado de nada, como se fossem autênticas. Bah, isso não existe.

Não importa, não sei por que gasto tempo com isso, mas há vezes que gostaria de saber o que seria de minha vida caso eu não tivesse recebido os filtros que recebi. Até porque eu sou uma pessoa que absorve filtros naturalmente, tantos quantos me tocarem. E isso é uma grande tristeza pois eu bem sei, e mais ninguém, quem eu sou sem os filtros. Eu sei o que faria sem eles, acho.

Um querido sempre diz que somos pessoas, eu e ele, que precisam construir um lar ao nosso redor, onde quer que vamos. É verdade, e isso explica meu bem estar ou não diante de um grupo: esse sentimento de me sentir em casa tão essencial para que eu consiga permanecer. O que é absolutamente paradoxal, se penso que no fundo eu busco criar laços como um alguém que não existe, que é apenas resultado de quem quiseram que eu fosse. A verdade é somente velha conhecida de mim mesma. E se souberem quem sou, qual seria o julgamento que teriam de mim? E essa questão é o que me faz permanecer assim, deixando as coisas como são. Pois eu amo, e meu maior medo é não ter os que amo ao meu favor.

Tá, isso realmente parece um surto psicológico, mas não se assustem. É normal que pense assim, e é bom que saibam que penso assim. Pois talvez um dia eu possa te perguntar um ‘como vai?’ e você possa me responder a verdade ao invés do automático ‘tudo bem’. E talvez você também queira assim. Talvez queira me dizer ‘estou aflito pois vou fugir hoje, à meia noite, com uma loira que conheci na internet’, ou ‘estou mal, com uma gastrite nervosa que não me deixa dormir há dias pois quero me assumir homossexual’, e talvez possamos falar sobre isso como quem fala sobre o tempo, da forma mais natural possível mas com uma diferença crucial: no momento em que for dita a verdade socialmente incorreta haverá troca, haverá leveza e, que é o mais importante, não haverá julgamento. Pois não haverá mais necessidade de filtros, as pessoas poderão ser realmente sinceras. Eu poderei responder que acho lindo ou absurdo, e daí? Minha opinião teria a devida importância na sua vida: nenhuma.

12.4.08

Acaso

"Cada um que passa em nossa vida passa sozinho,
pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida passa sozinho,
mas não vai só, nem nos deixa sós;
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito, mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida
e a prova de que duas almas não se encontram ao acaso."

Antoine de Saint-Exupéry

2.4.08

Zona de conforto

Certa vez, um perito pediu para analisar minha assinatura. Dentre outras coisas, disse que eu não sabia sorrir quando pisavam em meu calo e que não nasci para ter patrão. Começo a acreditar piamente nisso. E lá vou eu, novamente, me enveredar por novos desafios (ou melhor dizendo: novas tentativas!).

Eu sempre fui muito pró-ativa. Acho que o grande diferencial entre mim e a grande massa que cruzou comigo na questão de desenvolvimento profissional foi justamente essa. Um dia, na construtora em que trabalhava, meu diretor me chamou para uma conversa. Eu havia proposto trabalhar para ele com um horário reduzido e tocar meus projetos pessoais, e então ele perguntou o que eu queria exatamente. Nem eu soube dizer, mas então ele me disse que sentia que eu estava numa zona de conforto, e que se preocupava com uma possível estagnação de minha parte por causa disso. Doeu.

Há várias coisas que me tiram do sério, mas na ordem de prioridade vêm as pessoas que amo e em seguida, colada à anterior, vem a avaliação que as pessoas ao meu redor têm do meu trabalho. Falar para uma pessoa como eu que ela está numa zona de conforto, estagnada, é como xingar a mãe de mulher da vida. Não deu, fui embora. Eu nem tinha muito certo o que faria quando saísse de lá, e ao final o 1o escritório que trabalhei como formada, que tem trabalhos fantásticos, me convenceu a voltar e eu fui. Isso tem 7 meses.

Daí que lá ocorreu o contrário: eu cheguei com todo o gás do mundo. Estava tão certa da minha escolha e tão motivada com minhas possibilidades profissionais que doei todo o meu tempo para dedicar-me ao desenvolvimento de meu projeto, rompendo com todos os clientes que eu atendia, digamos, como 'pessoa física', sem vínculos. Estava realmente feliz.

Por um acaso do destino, algo deu errado no que havia sido planejado: minha chefe, que me treinava para assumir o projeto em que eu estava, teve problemas sérios de ordem pessoal e precisou ausentar-se por um período não muito breve. Nesse momento eu assumi tudo, a coisa começou a andar do meu jeito, estava tudo bem. Fui elogiada interna e externamente ao escritório. Mas então chegou uma terceira pessoa que conseguiu melar com toda a minha desenvoltura, fazendo com que me sentisse incompetente diversas vezes e questionar a escolha que eu havia feito para sair da zona de conforto. E eu fui colocada na zona de conforto novamente, contra a vontade. Acho que nunca me senti tão deslocada e perdida profissionalmente como estive nos 2 últimos meses.

É muito estranho comunicar à chefe que você admira e se dá bem que você não quer mais ficar na zona de conforto, até porquê nem eu sei bem definir a zona de conforto de onde estou hoje. Sei, por exemplo, que mandar e-mail assinando por outra pessoa e ignorar e-mails que me mandam diretamente para que outra pessoa responda me dão sensação que estou na situação mais patética do universo, mas não dava para usar isso como O argumento. Mas consegui dizer, por exemplo, que desisti de tentar me sobressair e trabalhei como estagiária nas últimas semanas só para evitar atritos, e que achava que me manter dessa forma era injusto com o salário que me pagavam. Há também uma série de problemas na estrutura, que acho que poderiam ser resolvidos, mas ainda assim eu resisti às possibilidades que ela me apresentou para reconsiderar. Penso que se não fosse a terceira pessoa eu poderia estar contente, e sabe-se lá se um dia sairia de lá. Mas parece que o cosmos não gosta que eu chame um lugar de meu.

Não faço a menor idéia do que me aguarda. Mas, juro, prefiro trabalhar com um zé-ninguém que saiba aproveitar minha ambição profissional, e crescermos juntos, do que ter toda a autonomia do mundo num lugar que queira me deixar numa zona de conforto. Definitivamente, isso não combina comigo.

Mesmo sem ter noção do que me aguarda, não me sinto mais perdida. Espero que daqui outros 7 meses eu possa dar boas notícias sobre o lugar MARAVILHOSO que estarei trabalhando, e sossegar.

1.4.08

Talassemia

Numa crise de estresse há 7 anos tive uma espécie de alergia que espalhou umas feridinhas parecidas com catapora pelo meu corpo todo. Então descobri que sou portadora de uma anomalia genética no sangue cheia de manifestações chatas chamada TALASSEMIA, ou anemia do mediterrâneo, ou anemia dos italianos. Isso porquê a anomalia surgiu na península européia, principalmente entre gregos, italianos, portugueses e espanhóis. Dai achei importante contar para vocês pois muita gente descendente dessas regiões têm a anomalia e não sabe, e apesar de não haver cura é possível tomar alguns cuidados para que o problema não se torne maior.

A talassemia é uma doença hereditária de transmissão recessiva que causa anemia leve ou severa. Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, nem toda anemia é falta de ferro. Pessoas com talassemia, inclusive, costumam apresentar índices de ferro acima do normal, que prejudicam o metabolismo. A anemia talassêmica, na verdade, é decorrente da hemoglobina reduzida (hemoglobina é a proteína do sangue) devido às cadeias genéticas defeituosas do organismo: os genes que codificam a hemoglobina estão faltando ou são diferentes. O organismo, então, compensa essa falta com um número excessivo de glóbulos vermelhos, mas estes apresentam um tamanho menor que o normal e uma forma defeituosa. A produção de glóbulos vermelhos consome muita vitamina B e ácido fólico (que é o regulador de ferro no organismo, e por isso o ferro torna-se um vilão nos talassêmicos), causando uma desordem no metabolismo.

Como consequência, o talassêmico apresenta uma série de sintomas. A mais perceptível é a cor da pele, geralmente muito branca. Além disso, devido ao tamanho reduzido dos glóbulos vermelhos (responsável pelo transporte de oxigênio pelo organismo) os talassêmicos costumam apresentar sono e fraqueza acima do normal, além de cansaço e palpitação quando praticam atividades que exijam um pouco mais de esforço. Também apresentam muita queda de cabelos e unhas quebradiças.

A vida de um talassêmico minor, que é meu caso, é normal. Exceto pelo sono, cansaço e falta de ar constantes, se pode fazer de tudo. Há necessidade de tomar ácido fólico diariamente para evitar o excesso de ferro no organismo e a piora dos sintomas em decorrência disto. Grave mesmo é carregar a carga genética, que se somada à outro gene portador de thalassemia minor pode gerar um indivíduo com thalassemia major, ou anemia de Cooley, que é algo bem mais grave. Nesse caso, a pessoa necessita de constantes transfusões de sangue e outra série de cuidados. Até pouco tempo, a maioria dos portadores da anemia de Cooley não chegavam à adolescência. Um hematologista é capaz de diagnosticar se você é portador do gene e qual a gravidade de sua talassemia com facilidade através de exames de sangue simples, mas que não são solicitados num clínico geral. E é muito importante saber disso antes de pensar em filhos.

Então é isso, queridos! Me senti na obrigação de difundir a informação. ;)

30.3.08

Comicidade: top 3

Eu ando com uma sorte invejável para ver coisas cômicas pela cidade. Sério.
No último mês bati todos os recordes de gargalhadas em vias públicas. Legal como sou, vou partilhar risos com vocês montando um top 3.


3o lugar: Funerária Meta 2000

Sim, eu cruzei com um carro funerário que trazia esse nome estampado na porta. E fiquei pensando o que levaria uma funerária a adotar um nome assim: a meta é enterrar 2000 defuntos? Será que o morto nº 2000 ganha o acolchoado interno grátis?


2o lugar: Transportadora laser

Esse foi bom, vi quando estava entediada num trânsito infernal. Havia um caminhão de mudanças na minha frente, com aquele baú imenso que impede qualquer visão do que te aguarda numa avenida. Daí atentei para o logo, que era mais ou menos assim:


E no começo fiquei com dó, pensei que o raiozinho' laser' desenhado só poderia ter sido feito por uma pessoa muito simples que não tinha noção do que estava fazendo. Whatever, eu não levei isso em consideração quando li o lema 'FORA DA LEI, MAS DENTRO DO PRAZO' mais abaixo e comecei a sessão gargalhada que deve ter durado uns 10 minutos. Acreditem, é verdade. Eu queria tirar uma foto, mas ainda sou monotarefa no trânsito.


Primeiríssimo lugar: Coletivo's Tabajara.

Essa, infelizmente, não tive o prazer de ver ao vivo. Quem viu foi o Guilherme, que trabalha comigo e me passou a foto dessa pérola. Ele estava no ônibus quando alguém deu o sinal e pediu ao motorista que abrisse a porta de trás. Essa pessoa colocou algo pela porta de trás, entrou pela frente (aquele ritual de cargas em coletivos), pagou a passagem, pegou a sua 'carga' e SENTOU NELA. E ele, incrédulo, tirou a foto dessa idéia FENOMENAL. Sério: vou vender o Pé-de-Pano e começar a andar com a minha própria cadeira. De rodinhas, então... tem algo mais prático?

22.3.08

Mulher

Uma das boas coisas de se estudar arquitetura é o contato com o mundo plástico. E foi assim que vi um pouco de Auguste Rodin e Camille Claudell.

Quando tive aula de escultura havia um professor-astro, desses que têm nome e se acham o umbigo do universo. No fundo, acho que a maior parte dos artitas tende ao egocentrismo, mesmo. E quando vejo algumas coisas de Rodin, penso se não é de Camille, daquelas várias obras do aprendiz que o mentor assina por ter dito um 'lixe mais aqui e acentue a curva do quadril'. Mas sobre o desenho abaixo, não há dúvida: é Rodin. No entanto, olho isso e penso se não é a própria Camille, por Rodin.

Mulher

Daí sinto inveja! Não pelo caso dos dois, porque ele... Pelamor! Mas uma mulher inspirar um olhar desses... Ahhh! Lindo, lindo...

'Eu prefiro ser...'

'...uma metamorfose ambulante,
do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...'

Queria entender as pessoas que sempre querem dar pitacos sobre qualquer assunto. Não é tão mais legal dizer que não sabe, e ouvir quem sabe, e aprender de verdade? Ou não ser prolixo e sair falando besteira por aí? Pôxa, é tão mais legal!

15.3.08

Certificação x preservação da retaguarda

Têm coisas que eu costumo guardar pra mim e rir sozinha, mas não vou aguentar nesse caso pois servirá também de um conselho valioso.
O ginecologista me pediu alguns exames de rotina. E o ginecologista, como todo médico, escreve daquela forma que você só entende a letra inicial da palavra.
Então ligo no laboratório para marcar os exames e segue o seguinte diálogo:

- Quais os exames a senhora vai fazer?
- Um deles é ultrossonografia mamária (esse foi fácil, eu consegui ler o UL de ultrassonografia, além da palavra ter um tamanho facilitador para fazer associações, e 'mamária' eu consegui ler o MAM, tranquilo!).
Continuei:
- Gostaria de tentar marcar o outro no mesmo horário.
- Qual o outro exame, senhora?
Me esforcei mas só consegui ler o COL inicial, e não me veio nenhum exame em mente. Então abri a lista de exames do plano e lá estava: COLONOSCOPIA.
- O outro é uma Colonoscopia.
- Senhora, para este exame não damos as instruções pelo telefone. A senhora precisará ir até a unidade coletora para conversar sobre a preparação.
Daí pensei: 'Puxa, esse laboratório é melhor que o último, pois da outra vez eles fizeram o exame sem essa preparação toda'. Mas perguntei:
- Para fazer colonoscopia preciso ir até a unidade coletora, pegar informações e só depois marcar o exame?
- Sim senhora, esse é o procedimento.
- Ok, obrigada. Vou providenciar.
- O laboratório blablabla agradece, tenha uma boa tarde.

Sabe como é, eu sou curiosa. Fui pesquisar o por quê uma colonoscopia precisaria de um procedimento tão peculiar. E ainda bem que fiz isso. Ia ser a coisa mais estranha do mundo ir fazer a colonoscopia e, pior, levar o resultado ao gineco. Graças à minha curiosidade natural, consegui descobrir que precisava, mesmo, de uma COLPOSCOPIA, e me safei do mico federal que estava prestes a pagar.

5.3.08

Alívio

O dia começou com poesia e terminou com um céu estrelado, me deixando feliz e tranquila, ao contrário de todas as expectativas acumuladas nos últimos tempos. No final, não doeu. Ao contrário, terminei o dia concluindo o quanto é bom chegar até aqui e ser quem sou, com erros e acertos. Alguém que se descobre e se reinventa a cada passo, que se permite ser humana e viver cada dia mais. Pois lá na frente, no final propriamente dito, o que vai ficar é o resultado das somas e subtrações que vivi. E espero que o resultado seja positivo.
A vida é boa, minha gente!

24.2.08

Correspondentes

Uma amiga me indicou um projeto muito interessante, e achei que alguma das pessoas que passam por aqui também aprovariam a idéia.

O Projeto Correspondentes pretende desenvolver a troca de experiências entre os seus beneficiados (crianças e adolescentes que vivem em abrigos) e voluntários através de correspondências (cartas, não e-mails). De carona, estaremos ajudando-os na reflexão e no desenvolvimento da escrita. Para participar, basta fazer um cadastro e assinar um termo de compromisso se responsabilizando em responder as correspondências recebidas num prazo máximo de 20 dias. O período para cumprimento da responsabilidade de 'adoção' é de 1 ano.

Eu gosto mesmo desse tipo de iniciativa. Tenho o costume de montar sacolinhas de Natal, e esse projeto é uma maneira de estender minha forma de ajudar por todo o ano. Acho isso muito mais válido do que pegar uma criança em um orfanato para passar o Natal com uma família, e depois deixá-la no esquecimento.

E fica um pedido: se você gosta da idéia e tem como divulgá-la através de um e-mail ou um post no seu blog, sendo o caso, faça isso. Teria um valor igual, ou ainda maior, que adotar alguém do projeto. ;)

17.2.08

Reconhecimento

Dois pontos
Eu sou medíocre. Medíocre como a maior parte das pessoas. No entanto, reconheço isso. E aceito, e fico no meu cantinho, e tomo todo o cuidado com a inclinação, natural e humana, ao poser. E até por ser humana e medíocre, e saber disso e blablabla, há uma certa facilidade em reconhecer isso nos outros. Cá para nós, que porre. QUE PORRE. Eu não tenho paciência, não. E sinto toda a saudade da singeleza da minha família, e das pessoas com quem eu convivia há um tempo atrás e que não fazem mais parte do meu cotidiano, totalmente autênticas na própria e santa ignorância.

Isso me lembra Frank Abgnale, do 'Prenda-me se for capaz', que se passando por médico e diante do primeiro paciente pergunta aos residentes qual a opinião deles sobre o assunto. Com toda a pose do universo, e sem a menor noção do problema e do significado das opiniões, ele olha com aquele ar de entendido e responde 'Concordo, façamos isso!' . É...

O que me mata, além de ver pessoas que gosto fascinadas com o pedestal que elas criam diante de um assunto inútil qualquer, e vê-las falando um bando de baboseiras sem parar, é saber que tenho que engolir seco reuniões intermináveis com os maiores posers do universo - e essa foi a hipérbole melhor aplicada ao mundo corporativo já utilizada.

Tudo o que não quero na vida é me tornar algo do tipo. Preciso tomar cuidado.

4.2.08

Filho de peixe?

Me lembro agora da Luzia me dizendo que meu espírito maternal era minha força e minha fraqueza, e que isso era tão claro aos outros que as pessoas, mesmo que inconscientemente, se aproveitavam de mim e me manipulavam descaradamente. E daí essas palavras martelam na minha cabeça e eu me sinto uma completa idiota.
De vez em quando penso que quando reclamo do espírito machista da minha mãe, posso estar me fazendo de vítima. E nesses dias conversava com meus irmãos, que confirmavam isso: minha mãe me explorou tanto me fazendo acreditar que eu devia aceitar o destino por ser mulher, que se eu acreditasse nisso talvez estivesse com 6 filhos grudados na minha saia, pesando 6 vezes o meu peso e, pior, estaria feliz e conformada com isso. Em contrapartida, mimou tanto aos meus irmãos que eles não conseguem andar com as próprias pernas. Mesmo ouvindo isso da boca do meu irmão mais velho, ainda acho que estou sendo injusta por pensar assim, e que talvez esteja mendigando atenção.
Mas daí vejo que fiz um empréstimo bancário que foi para o ralo em 2 dias, para que somente eu me doesse com isso. Tentei ficar brava com o caçula, mas não consigo. A culpa, mesmo, é daquela mulher que amo MAS que me machuca por não enxergar que estraga a própria cria. Enquanto minha irmã e melhor amiga senta do meu lado e diz 'é foda, você não deveria se importar e nem se esforçar mais', o caçula vê um filme e minha mãe conversa e ri ao lado. Como se nada tivesse acontecido. Na verdade, nada diferente aconteceu: é isso que me emputece.
É foda.

14.1.08

'Baixo calão'

Depois de montar um relatório de 90 páginas, estou enfim passando o corretor ortográfico para poder anexar as imagens e me livrar desse perrengue. Mas é como sempre digo: melhor confiar no meu português mesmo. Tem coisas que só a microsoft faz por você. Viva a diversidade!

(se não consegue ver, clique na imagem para ampliá-la)

Depois de rir sem parar por 10 minutos, refleti sobre algo importante: nunca, jamais fique clicando em 'Alterar' sem prestar atenção no que ele sugere, É SÉRIO!



12.1.08

Gênese de pensamentos

Eu escutaria 'The Wedding Samba' até cair se tivesse escolhido a época em que nasceria. Mas não, sou uma workaholic na madrugada de um sábado, sentindo saudades do trabalho concluído (que eu maldizia ainda nessa semana). Um filme? Não, a TV me cansa. Poderia terminar meu livro (um bom livro é sempre uma excelente opção) mas a cabeça está cheia e quero ter olhos somente para ele quando folhear as últimas páginas: estou com medo de chegar ao fim e não ter mais sua companhia. 'Medo de chegar ao fim e não ter mais sua companhia'. O fim dos bons livros são como finais de relacionamentos: doem tanto! Me espanto quando me remeto aos 18 anos: sinto a dor que senti naqueles dias, quando ele me dizia que havia encontrado outra pessoa. Havia pouco ele me pedia para ter um filho dele! A adolescência tem um grau de insanidade, fruto da imaturidade, que é perigoso. E o ex-namoradinho vai ser pai em poucos meses. Ele deve estar feliz, queria ter visto sua alegria quando soube da notícia. Tem o boato que se separou da mulher pois ela queria filhos e ele não, e 6 meses depois já estava com outra mulher, esperando um filho. Até ele vai ser pai! Pai... o que dizer do sujeito cujo filho foi visitá-lo no dia da paz universal, quando voltava de uma viagem de 7 horas, desviando o carro na estrada e viajando duas horas a mais no sentido contrário de seu destino para dar um abraço-de- feliz-ano-novo, mas ouviu pelo interfone 'não vou atendê-lo, já é muito tarde: volte outro dia'? Aquelas atitudes difíceis que tomei, por mais dolorosas que tenham sido, me libertaram profundamente e me pouparam de situações assim. Pelo mesmo motivo a ex-roomate saiu de sua casa. No caso dela, ela ficou feliz e quem sofreu fui eu. Naqueles dias pensei que a pior coisa que podia ter feito foi ter saído de casa. Mas com o tempo - que coisa! - aquilo se tornou a melhor experiência da minha vida. Saudade. Acho que por isso meu coração borbulha quando meus amigos me dão a notícia de estarem indo para um canto deles. Me dou conta agora de quantos farão isso em breve, o que dá um destino nobre para a partilha de todas as minhas experiências, de lavar a roupa à traçar um destino cultural de uma pessoa só. Vontade incontrolável de andar na Paulista sem rumo, durante a noite, vendo as figuras ímpares. Era o que eu fazia muitas vezes. Mas chove, certamente não faria isso hoje se estivesse na Rocha. Provavelmente abriria um vinho, ficaria no escuro da sala ouvindo a chuva se mixando com a trilha sonora escolhida. Hoje, seria Genesis. Quando chove ou faz frio, geralmente é Genesis. Começaria com Carpet Crawlers, e imaginaria os serezinhos rastejando... na chuva! A chuva me encanta. E, na Rocha ou na colina, não há melhor programa. Vinho e música. Vou lá.

8.1.08

1908

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08 de janeiro de 1908

Nada mudou, mas cheguei às minhas conclusões. Se meu hoje retrocedesse 7 anos, saberia o que fazer. E toda a dor e indignação por meus atos, agora, não fariam sentido. Mas há 7 anos eu não sabia. Eu não conhecia, eu não permitia, eu não
vivia. E com um repertório tão insignificante eu simplesmente não poderia saber como fazer. Eu me perdôo: a vida não é uma experiência e não há depois, não há 'da próxima vez'. Cada fato tem seu início, meio e fim, ainda que retornemos a algo semelhante. A vida é única. E eu... Eu escrevi meu próprio romance antes de descobrir a mim mesma, e como saberia? Não havia vislumbrado os espelhos aos quais me atentei nos últimos anos: as histórias que ouvi, os livros que li, as pessoas que conheci - fragmentos que me possibilitaram vislumbrar a vida que não me permiti e quem eu realmente sou (seria?).
Então hoje, agora, me resta prosseguir arrastando-me na lama onde me joguei. A lama é o lar das pessoas que concebem a felicidade como sendo um eterno estado de inércia. E eu sei disso, mas o caminho de volta é longo demais e numa única vida não haveria tempo de retroceder. Parada, afundo. E isso, hoje, não quero. Prossigo pois talvez chegue noutra margem, talvez encontre outro fato para viver, dessa vez guiada por uma seta formada pelos fragmentos que reuní e que formam o mosaico que sou EU. Quando as pernas não conseguirem mais e não houver margem no horizonte, talvez desista. Talvez, afunde. Mas apenas não havendo forças nas pernas e possibilidade de margem no horizonte.
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