21.12.08

Amanhã

Sou como você: alguém que busca incessantemente preencher-se, procurando sempre o não-sei-o-quê potencial cumpridor desse papel. Alguém que vive da ilusão que o próximo passo pode trazer o sentimento de completude.
Combinemos que isso não existe. No fundo, sabemos. Talvez não tão no fundo, e por isso nossos momentos de lucidez nos deixam tristes e insatisfeitos com o universo ao redor imediato. Algumas coisas surgem em nossas vidas para habitar o plano do 'e se...', só. E lá devem ficar, pois fora de lá perdem todo o sentido. Minha terapeuta me dizia que se estivermos 99% preenchidos e felizes, ainda assim vivemos buscando o 1% que falta como se ele fosse essencial para nossa felicidade.
Fato.
Após o abraço longo de quem não vê alguém que ama há meses, meu querido me fez uma pergunta intrigante. Eu respondi, na lata (pois consigo ser totalmente transparente com ele e praticamente com mais ninguém). Analisando agora, a resposta da pergunta se resume no seguinte: a gente se lança nas coisas impulsivamente para preencher vazios, buscando preservar o que se tem na ilusão de que o que está lá, lá está e vai ficar. No fundo, o conforto dos 99% nos faz pensar que há garantias. É... Mas elas não existem, meu bem. Nem para mim, nem para você. Nem para o corpo, o emprego ou as amizades. Muito menos para as promessas: essas ignoram completamente o amanhã.