O tema é difícil, talvez eu dê voltas e não chegue a lugar algum. Mas e daí? Isso não é tese de coisa alguma mesmo, é só materialização de pensamentices.
Estou aqui divagando sobre o foco das pessoas. Sobre o fato de nossas alegrias e sofrimentos estarem diretamente ligados ao nosso olhar para as coisas, pois tanto maior é uma alegria se a gente sabe dirigir nosso olhar para ela e desfrutar do que ela nos proporciona, e o mesmo acontece com o sofrimento.
Eu observo muito: paisagens, edifícios, mas principalmente pessoas. Especificamente a forma como elas olham para a vida e as situações. Acho que sou assim pois quando eu era adolescente eu sofri, sofri. Sofrimentos adultos, eu diria, pelo tamanho da dor que me causavam. E com meu crescimento eu fui deixando de sofrer, pois descobri que podia escolher a forma de encarar as coisas. E não que eu esteja livre de sofrer, mas só não estou pois nem todo o meu olhar é direcionável. Ainda.
Lembro de um amigo estava prestes a ganhar uma filha. Tudo que as pessoas perguntavam para ele era "você está nervoso?". E então ele desabafou uma hora: Não entendo porque as pessoas perguntam esse tipo de coisa: os exames estão ótimos, o médico é bom, está tudo pago, ela tem uma cama para dormir e um peito para ser amamentada. Não tenho pq estar nervoso!'. E é desse tipo de pensamento que eu partilho.
Eu sou um tanto fria para situações limite. Cresci me desapegando de tudo que me ditava as formas de olhar. Eu não acredito que Deus me castiga, não acredito que se eu acender uma vela vai acontecer um milagre com o superaquecimento global, eu não acredito que o dia que nasci determina a cor que mais combina com meu tom de pele e muito menos a minha personalidade, eu não acredito que astros ordenam meu destino, eu não acredito em destino. Todas essas coisas me faziam escrava de um qualquer que diz ter visões do além em pedrinhas. Pedrinhas, para mim, são apenas pedrinhas. Além do que as previsões me davam alento e esperança de coisas que nunca chegavam e só postergavam meu sofrimento. Parei de ver assombrações a partir do dia que parei de acreditar nelas.
A Pollyanna aqui busca coisas positivas em quaisquer fatos, só por acreditar que o olhar tem mais poder do que conferimos a ele normalmente. Não que ele mude qualquer coisa, mas ele sempre terá algo bom para me ensinar.
Eu posso olhar para meu pai como um filho da puta que largou a família por um rabo de saia, mas eu olho para meu pai como uma pessoa carente, mimada e fraca, que encontrou alguém que dá atenção às chantagens emocionais dele pois sofre dos mesmos males, pois não teve família e não sabe dar valor para isso. Podia olhar meu ex-namoradinho como a pessoa mais insensível do mundo aos meus sentimentos mais nobres, mas olho para ele como um garotinho de 18 anos que acordou para a vida e me deu oportunidade de dar um salto na minha maturidade. A vida acontece, simplesmente: Todos somos iguais, todos temos direito de tudo, todos erramos, todos sofremos, todos amamos, todos nos surpreendemos. Não creio que estou pagando por isso ou aquilo. Graças à Deus!
Então a vida me ensinou que independente de mim, ela segue seu curso. Minha preocupação doentia e meu zelo total não servem de nada para aquilo que transpõe a minha pele. E o resultado de cada ação em mim vai depender mais da forma como olho para ela do que ela em si.