28.12.07

Machismo

- Pôxa, Théo! Não sabia que você era assim!
- Já falei que mulher minha não usa essas coisas!
- Mas é tão comum... Você deveria estar habituado, sabia?
- Habituado? Você é louca? Não tem como se habituar com isso!
- Você não acha que é machista não?
- Não é questão de machismo! É que isso é vergonhoso, não sei de homem que deixa a mulher usar esse tipo de roupa. Não, e ponto!
- Acho mesmo o fim não usar o que me deixa à vontade, e vou ficar vestida dessa forma e azar o seu se achar ruim!
- Nani, já falei: se deitar na cama com essa calcinha bege eu vou brochar!

19.11.07

Insônia

Passei noites e noites acordada durante a infância: eu morava em um lugar muito perigoso que tinha assaltos constantemente, e por medo acabava perdendo o sono. Eu me lembro de dormir bem apenas nas noites chuvosas, pois imaginava que os ladrões não iam querer sair de casa com água caindo lá fora. Lembro de uma vez que acordei minha mãe preocupada por meu pai que não havia chegado, e pouco depois recebemos a notícia de que ele havia sofrido um grave acidente. Outra que acordei meu pai por ter a impressão da casa ao lado estar sendo invadida por bandidos e bingo! Eu estava certa mais uma vez. O medo não me deixava dormir.

Mudamos de casa, e a insônia não passou. O medo foi embora com o tempo, e ao invés disso eu colocava a culpa da falta de sono no meu amor platônico pelo mocinho do colégio. Acordava todas as noites por volta da 1 hora da madrugada, ligava o rádio e escrevia sem parar: poeminhas, declarações, diário... Tenho tudo isso guardado até hoje. A vantagem dessa época foi minha ampliação de conhecimentos musicais, meu interesse literário nascente e meu vocabulário de inglês que crescia a cada dia, quando eu pegava letras de músicas para traduzir. Mais um tempo e eu seria autodidata no idioma, mas não deu: comecei a trabalhar e, estudando, me sobravam apenas 6 horas por noite para dormir, não havia mais tempo para insônia. Isso já tem uns 15 ou 16 anos.

Quando deixei o trabalho, sofri com depressão. Por volta de 1 ano passei as noites chorando e pensando em como a minha vida era uma completa desgraça. Após a longa crise, passei a preencher as noites estudando para o vestibular, depois para faculdade, depois fazendo trabalhos extras durante o estágio, depois era o emprego que me fazia levar trabalho para casa, depois a culpa foi do excesso de responsabilidade em meus projetos pessoais e meu perfeccionismo que não me permitiam delegar funções. Tornei-me notívaga. E assim, de fato em fato, eu me sentia realizada quando conseguia completar 6 horas de sono. Raro. Mais comum era varar a noite para cumprir algum dever.

Não tenho medo de assaltos onde moro, não sofro com o medo do 1o beijo e nem com algum amor platônico. Já passei no vestibular, sou formada há bons anos e acabei minhas responsabilidades do dia há 3 horas. Há duas semanas tenho conseguido atingir algumas metas e descansar um pouco mais. E há exatas duas semanas sofro de insônia. Quando desisto de esperar o sono chegar, tomo algum remédio que o provoque. Neste exato momento estou esperando com que o último que tomei faça efeito. Se eu ligar o som em um volume que julgue audível, o vizinho de baixo interfona em 3 segundos pedindo para respeitar a lei do silêncio. O que me resta? Diário! Ou melhor: o blog!

Tudo o que eu queria agora era ser uma pessoa muito, muito genial para escrever uma teoria que revolucionaria o planeta e fazer desse tempo algo útil.

15.11.07

Recuo


3 passos muito cuidadosos: 1, 2, 3. E ela se deparou com aquela imensidão de água que sempre olhou de longe. E assim, de perto, viu que aquilo realmente a seduzia. E o ar chegou a faltar quando pensou 'um toque, e talvez isso me dê coragem de mergulhar'. E então ela tirou a sandália e curvou o dedo do pé, levando-o lentamente à água. E a pontinha do dedo tocou a superfície, e uma série de ondas começaram a tomar a extensão do espelho d'água. O ar faltou de novo, e então o medo tomou conta da sua alma, e sua pele se arrepiou por completo. Percebeu que não conseguia, que não podia. E engolindo o susto, tornou a calçar a sandália e, virando as costas para toda a água que a cumprimentava, correu. Foi para longe, contemplar o espelho daquela janela onde sempre esteve, pensando que algum dia poderia molhar mais um dedo, e talvez aquilo desse a coragem que lhe faltou desde sempre.

3.11.07

Tarde, dona Cátia!

Os anos 50 me deixariam feliz. Eu adoraria, de verdade, ter vivido numa época onde a estrutura familiar fosse mais sólida, onde a liberdade individual fosse embrionária. Eu sou uma pessoa afeita às tradições, sim. Além de gamar na art déco e nos music halls.

Mas tendo um pouco mais dos pés no chão, algo que me faria bem no quesito ‘mudança de estilo de vida’ seria ir para o interior. Eu acho que sentiria falta do conforto de se ter a diversidade cultural vizinha como temos numa megacidade, apesar de raramente ter usufruído dela nos últimos meses. Mas se eu tivesse nascido lá, não sentiria falta de nada disso...

Eu acho que me seria mais útil viver contemplando a quantidade de folhas nas árvores e suas nuances durante as mudanças de estação, tomar um café preto debaixo de um flamboyant vermelho, sentada na grama, enquanto o vento gelado de um dia azul do outono viesse me abraçar. Conhecer todos os vizinhos (entenda-se por vizinhos as 100 famílias habitantes dos 30 km mais próximos), e poder ler um livro na porta de casa até ser interrompida por um passante que me dissesse ‘tarde, dona Cátia’ e eu pudesse lhe oferecer um bolo de fubá com erva doce. E enquanto conversássemos sobre a mudança do plantio na fazenda do Sr. Pedro Freitas depois que seu filho mais velho foi para a cidade grande estudar veterinária, o Seu Zé, no intervalo de sua degustação do melhor bolo de fubá das redondezas, me diria que deu no rádio uma notícia sobre uma tela como a televisão que existia na casa da dona Maria, viúva do Seu Alfredo, onde as pessoas poderiam conversar com as outras mesmo em outro lugar do mundo, como se pudessem ler a carta que o outro escreve instantaneamente, sem precisar esperar que o Sr. Antônio da central dos correios passasse na quinzena para pegar o envelope. E enquanto eu lhe servisse um licor de pêssego feito em casa e embrulhasse a compota de figo para que levasse à sua esposa com o convite de um almoço no domingo, lhe diria:

‘- É, Seu Zé... Esse povo da cidade não tem mais o que inventar! É cada idéia...’

1.11.07

Talento indiscutível

Parabéns ao são paulinos, que deram duro para ganhar o campeonato!
Segue a foto do time, que saiu no caderno de esportes do Estadão (pág. E8), para que vocês usem de fundo de tela.


Como diria Bart Simpson, 'eu não fiz isso!', juro que não é montagem...

A foto não nega o talento da equipe, fazendo o teste da ré no kibe para eleger o melhor mini kibe! (reparem na cara de felicidade da fila da frente!)
Parabéns novamente!

27.10.07

Quando a soma do tempo é muita

Minha tia avó faleceu hoje, após uma longa e dura convivência com o câncer. Ela era a irmã caçula da minha avó.
Minha avó é uma mulher que passou por muitas coisas. Aos 16 ela fugiu de casa com o meu avô para fazer pirraça ao mocinho de quem realmente gostava, e isso lhe rendeu uma surra e um casamento. Na realidade, ela conta, fugir era uma forma de casar: não havia possibilidade financeira de se programar o matrimônio, e fugindo as mocinhas eram obrigadas a devolver a honra à família, casando.
Meu avô bebia e tinha o hábito 'romântico' de surrar minha avó. Por qualquer motivo: por ter falado algo atravessado ou pelo absurdo de estar grávida novamente. Até que largasse a bebida, minha avó passou maus bocados nesse sentido. E olha, meu avô era imenso: a sua impressão digital no RG era maior que a foto 3x4! Eu levei algumas palmadas dele na infância, de levinho, mas desejei que morresse depois disso. Ele enfartou dias depois, me senti altamente culpada e pedia à Deus para voltar atrás, dizendo que só desejei aquilo de brincadeira. Ele ouviu.
Os dois tiveram 7 filhos, 5 sobreviveram. Um deles morreu já crescido, quando criança. Os outros foram a primeira geração que cresceu longe da roça, gritando por liberdade, que era coisa que ela não saberia reconhecer nessa vida.
Com 50 anos de casados, meu avô partiu desse mundo. E me lembro de chegar à casa dela de madrugada para dar colo àquela pessoa que me ninou durante a infância inteira, e dela dizendo no meu ouvido 'que Deus me ajude, que Deus me dê forças, eu não vou aguentar!'. Mas, mais uma vez, ela aguentou. E passados 6 anos desse golpe que foi o maior em sua vida, ela ainda chora.
Hoje um ciclo se fechou, e minha avó está sofrendo tanto quanto pela perda daquele homem que aprendeu a amar pela convivência. Sua irmã caçula era a única pessoa da sua geração que ainda estava nesse mundo. Com sua morte toda uma existência está sendo questionada, todas as reflexões sobre a vida estão batendo à porta de Dona Leondina. E à minha também.
Pois hoje pensei no quanto a vida pode ser cruel conosco, no quanto ela é obscura nesse sentido durante a adolescência e no quanto ela tem mostrado a mim que essa facada no peito, essa dor de perda maior que qualquer dor, me será dada muitas vezes. E não sabemos quando, nem por quem estaremos chorando, mas estaremos. E em algum momento nos daremos conta que a nossa linha também está chegando ao fim, e talvez até desejemos isso ao invés de sentir a facada novamente.
Minha avó sobreviveu diante de muitas situações duríssimas, e acredito que não será diferente. Mas ela tem fé, ela acredita em algo maior que a ajuda, que dá forças, que a faz aguentar. E eu, sinceramente, não sei como é possível alguém que não tem isso conseguir se reerguer.

21.10.07

Saudades

Estou à beira dos 30. E a sensação, confesso, não é das melhores. Pois chega numa certa idade e você se dá conta que a época de tomada de rumos já passou e há coisas que não terá mais tempo de fazer, coisas que você sonhou. E ao mesmo tempo, dá uma saudade enorme das crises adolescentes, quando o mundo parecia estar acabando por causa de um beijo não dado na festa de fim de ano do colégio.
Depois dos 18 anos eu forcei meu crescimento. E foi positivo, eu saí da mediocridade e aquele passo fez com que eu me tornasse uma pessoa com algo além, com algum conteúdo. Eu busquei cultura, auto-conhecimento, ser sempre cheia de empatia. Consegui tudo isso num grau maior do que imaginei ser possível até então, com a minha ignorância infantil. Mas hoje, passadas as grandes batalhas da construção do meu eu, não sei se o preço valeu. Tenho saudades de uma parte razoável da minha mediocridade, de parte da minha ignorância que me fazia sorrir mais, dos meus valores mais ortodoxos que faziam de mim uma pessoa melhor para os outros. Essas coisas todas faziam de mim uma pessoa incansável de buscar, com fé no mundo, com fé no próximo, que via bondade em cada sorriso e amor em cada demonstração de carinho. Eu era uma pessoa que não conhecia o egoísmo e que tinha finais de semana para ir ao cinema ou caminhar no parque.
A última peça de teatro que assisti deve ter 1 ano, o último filme que vi no cinema deve ter alguns meses, a última vez que caminhei num parque já nem me lembro. Então não creio mesmo que todo meu esforço para ser uma pessoa firme e uma profissional exemplar tenham valido a pena. Até porque eu tenho me reavaliado profissionalmente, e agora que estou retornando aos meus iguais vejo que não sei mais do que ninguém, e que estagiários do 2o ano estão mais por dentro do mundo da arquitetura do que eu, sem dúvida.
E nesses dias pensei na minha primeira sessão de terapia, quando minha terapeuta perguntou se eu tinha sentimentos ligados à morte. E eu pensei: 'não, que horror! Nem nas minhas piores crises!'. Aquilo não fazia sentido. Mas por esses dias, fez - tamanho o cansaço que estou da vida e das pessoas. E então vi que a coisa está fora de controle, e decidi ser mais drástica com as atitudes que já deveria ter tomado e protelei por apego. Estou, definitivamente, deixando meus trabalhos, deixando o status que construí por anos, para poder voltar a viver. Preciso voltar a ver amigos, a dormir uma noite de sono tranqüila, poder visitar meus irmãos ao menos uma vez por quinzena, ver minha afilhada crescer mais de perto, levar a Mel para andar na grama, deitar com o simples propósito de ouvir um disco novo ou ler um livro que ninguém nunca ouviu falar.
Estou cansada, muito. E estou matando um estilo de vida inteiro para poder matar, junto, a saudade que sinto de mim. Pois se a raça humana acabar em 50 anos ou se minha vida acabar em poucas semanas quero ter um sorriso nos lábios, e não olheiras mais profundas.

7.10.07

Rubi (*

Saio à rua de manhã e me deixo levar
Assisto à profusão de cores e de sons
Quem é essa multidão? Por que correr assim?
Ninguém aqui jamais será tão só como eu

Eu estou agora em outro tempo, outro lugar
longe de mim

Me vejo menina, num gramado
o sol bateu no vidro, e então
a janela se desenhou no chão

A vida era longa, às vezes distante
era promessa que não sei se cumpri
Meus olhos ainda eram diamante
Já chorei à beça...
de hoje em diante viraram rubi

2.10.07

Kriptonita

Péssimo. Essa é a melhor palavra para traduzir o sentimento de incapacidade que nos acomete ao nos depararmos com uma derrota em algum campo onde nos julgamos invencíveis.

Sim, pois todo ser humano normal tem algum campo na vida onde se sente quase infalível. Os que não têm são sofredores em potencial. Não é claro que devemos ter pelo menos alguma coisa na vida que nos dê saciedade, que nos mostre que somos capazes? Ser um ótimo pai, funcionário, amante, amigo? O melhor cortador de grama, possuir o melhor beijo, fazer a melhor sopa de tomate com coentro do sul de Piraciroca da Serra? Não importa: o homem sempre elege dentro de si algo que fica ali, no centro, no altar, protegido e vangloriado ao menos por si mesmo. E isso compõe seu combustível, alimenta sua esperança de passar pela vida tendo algo pelo que se orgulhar lá na frente, no final.

Pois...

Em algum momento aquilo que você dispôs no altar, talvez seu único altar, pode ser colocado à prova. E nesse momento, se te provarem ser falível, você sofrerá com isso. Pois a sua identidade diante dos seus semelhantes será questionada, e talvez não reste nada mais com que você se identifique dentro de você mesmo. Difícil... Sensação de quem semeou algo por anos e na hora da colheita viu que não deu frutos, e já não há mais nada por onde recomeçar.

Péssimo!

24.9.07

Strawberry (fields) forever

Sem fome, nem de viver...
Mas isso sempre funciona como uma injeção de ânimo!

Living is easy with eyes closed
misunderstanding all you see

It's getting hard to be someone but it all works out
it doesn't matter much to me


20.9.07

Desabafos gerais

Detesto o calor. Eu insisto que sou um erro de logística celestial, pois esse tempo me deixa péssima: a pressão cai, tenho náuseas horríveis, fico improdutiva. Lembro de uma pequena fase da vida onde fui feliz no calor, mas eu era pré adolescente e passava tardes no clube, e os maiores problemas que me cercavam giravam em torno do meu primeiro amor e do eminente primeiro beijo. Mas eu cresci e o detesto. E moro numa cidade que piora essa condição. E acho mesmo que esse calor insuportável é um sinal muito claro do fim dos tempos.
Para piorar, me sinto péssima. Desanimada com tudo e todos ao meu redor. As pessoas são egoístas e você é a vítima preferida justamente daqueles por quem se esforça tanto. Não é possível que um ser humano não consiga enxergar o quanto suas atitudes podem fazer mal ao outro, e nessas horas eu tenho vontade de desistir. Coisa, aliás, que tenho feito muito. Tenho desistido de amigos, de trabalhos, de posses e planos. Mas preciso mesmo é aprender a desistir de pessoas pelas quais me sinto responsável para não desistir da vida. Eu já amei viver, sabe? Não me lembro quanto tempo isso faz...

17.9.07

Desadmiração

Você certamente já deixou de admirar algo ou alguém, certo?
Pois... O fato é que hoje estou aqui pensando nisso: no quanto algumas pessoas ou coisas deixam de ser admiradas por mim de hora para outra. E de vez em quando não é por algo que tenham feito ou deixado de. E aí é que está a parte interessante da coisa: o ponto de vista sobre muda, simplesmente. E isso acontece tanto durante a vida! E de vez em quando uma série de coisas perde o valor ao mesmo tempo. Então acho que se isso acontece com várias coisas num curto espaço de tempo estamos vivendo uma fase de maturação (assim espero). Mas creio nisso pois na maioria das vezes (pensando aqui e concluindo isso de forma empírica) o objeto não mudou, mas sim nossa visão/ percepção sobre ele. Nossa verdade foi alterada sobre aquilo, entende? E é como já diria Nietzsche: a verdade é um conceito, como outro qualquer. E cada um tem a sua.

10.9.07

Arestas

Quando o meu oráculo me usa de objeto de análise eu me assusto. Pois eu sei que alguns sinais são infalíveis. De quando em vez os fatos convergem para o encapsulamento e esse momento não tão constante me assombra um pouco, pois ele traz uma certa parcela de sofrimento: a vida vai se ajeitando para que eu deixe coisas para trás, para que eu assuma certos fracassos, para que eu me assuma falível e apare as arestas que fui criando no meu caminho nada retilíneo.
Mas não é assim que crescemos? Aparando arestas, com perdas para posteriores ganhos?
A poda traz todo tipo de benefícios de crescimento e força. No entanto o processo da poda dói, machuca, faz sofrer. Mas como já diria uma parábola, 'se o grão de trigo não morrer, viverá na solidão. Mas se acaso ele morrer, muito fruto há de dar'. Hora de morrer para uma série de coisas. E a lista só faz crescer. C'est la vie.

7.9.07

Focus

O tema é difícil, talvez eu dê voltas e não chegue a lugar algum. Mas e daí? Isso não é tese de coisa alguma mesmo, é só materialização de pensamentices.
Estou aqui divagando sobre o foco das pessoas. Sobre o fato de nossas alegrias e sofrimentos estarem diretamente ligados ao nosso olhar para as coisas, pois tanto maior é uma alegria se a gente sabe dirigir nosso olhar para ela e desfrutar do que ela nos proporciona, e o mesmo acontece com o sofrimento.
Eu observo muito: paisagens, edifícios, mas principalmente pessoas. Especificamente a forma como elas olham para a vida e as situações. Acho que sou assim pois quando eu era adolescente eu sofri, sofri. Sofrimentos adultos, eu diria, pelo tamanho da dor que me causavam. E com meu crescimento eu fui deixando de sofrer, pois descobri que podia escolher a forma de encarar as coisas. E não que eu esteja livre de sofrer, mas só não estou pois nem todo o meu olhar é direcionável. Ainda.
Lembro de um amigo estava prestes a ganhar uma filha. Tudo que as pessoas perguntavam para ele era "você está nervoso?". E então ele desabafou uma hora: Não entendo porque as pessoas perguntam esse tipo de coisa: os exames estão ótimos, o médico é bom, está tudo pago, ela tem uma cama para dormir e um peito para ser amamentada. Não tenho pq estar nervoso!'. E é desse tipo de pensamento que eu partilho.
Eu sou um tanto fria para situações limite. Cresci me desapegando de tudo que me ditava as formas de olhar. Eu não acredito que Deus me castiga, não acredito que se eu acender uma vela vai acontecer um milagre com o superaquecimento global, eu não acredito que o dia que nasci determina a cor que mais combina com meu tom de pele e muito menos a minha personalidade, eu não acredito que astros ordenam meu destino, eu não acredito em destino. Todas essas coisas me faziam escrava de um qualquer que diz ter visões do além em pedrinhas. Pedrinhas, para mim, são apenas pedrinhas. Além do que as previsões me davam alento e esperança de coisas que nunca chegavam e só postergavam meu sofrimento. Parei de ver assombrações a partir do dia que parei de acreditar nelas.
A Pollyanna aqui busca coisas positivas em quaisquer fatos, só por acreditar que o olhar tem mais poder do que conferimos a ele normalmente. Não que ele mude qualquer coisa, mas ele sempre terá algo bom para me ensinar.
Eu posso olhar para meu pai como um filho da puta que largou a família por um rabo de saia, mas eu olho para meu pai como uma pessoa carente, mimada e fraca, que encontrou alguém que dá atenção às chantagens emocionais dele pois sofre dos mesmos males, pois não teve família e não sabe dar valor para isso. Podia olhar meu ex-namoradinho como a pessoa mais insensível do mundo aos meus sentimentos mais nobres, mas olho para ele como um garotinho de 18 anos que acordou para a vida e me deu oportunidade de dar um salto na minha maturidade. A vida acontece, simplesmente: Todos somos iguais, todos temos direito de tudo, todos erramos, todos sofremos, todos amamos, todos nos surpreendemos. Não creio que estou pagando por isso ou aquilo. Graças à Deus!
Então a vida me ensinou que independente de mim, ela segue seu curso. Minha preocupação doentia e meu zelo total não servem de nada para aquilo que transpõe a minha pele. E o resultado de cada ação em mim vai depender mais da forma como olho para ela do que ela em si.

6.9.07

Da independência, do hoje

Do amanhã ninguém sabe, mas para o hoje tenho a minha própria resolução, e se há algum lugar aonde você não tem direito e possibilidade de invadir esse lugar sou eu. Não me ligue, não me chame, não me escreva: hoje é um dia daqueles em que eu me basto. Sou auto suficiente em minha solidão, a solidão que busco quando já me sinto absolutamente vazia. Busque em quem confiar, para quem contar seus planos, para quem contar seus casos e seus verdadeiros amores: eu deixei de ser, hoje, esse ombro e esse ouvido, mesmo sabendo que do amanhã sabe-se lá.

Já faz muito, muito tempo e não me lembro mais porque escrevi isso. Mas guardei, pois combina com um estado de espírito constante por aqui. E como a vontade de isolamento chegou forte, está publicado. Não tem horas quem o mundo parece te escolher e dá vontade de se encolher na sua bolha proxêmica? Ou que as pessoas parecem falar sem fim mas nem mesmo respondem ao seu bom dia? Então... Para digerir fatos existem os feriados!
;)

2.9.07

Alma gêmea

Uma certa vez a vida me deu um presente dos mais inusitados: encontrei a minha alma gêmea através de um post na internet, num blog da amiga do amigo. Desde então o Dani se tornou então meu amigo de fé e irmão camarada.
Ele me apruma nas horas de desespero, tristeza e afins. É um porto seguro e sabe enxergar exatamente a dimensão de cada alegria que me ocorre. E é por isso que a definição 'alma gêmea' é tão verdadeira conosco: a gente se entende BEM, sem precisar de grandes discursos explicativos acerca de qualquer sentimento que nos envolva, ao ponto de num simples oi conseguirmos sentir que o outro não está bem. Sei lá, mesma constituição de alma, vai entender. O fato é que se há alguém que eu possa falar que é um irmão fora da família, esse alguém é o Dani.
E hoje estou alegre e chateada. Alegre pois esse mocinho sensível, de alma delicada, que se faz presente mesmo quando está longe através de um simples sms ou um email rápido completa 27 aninhos. 27 anos! Eu só tenho que agradecer a Deus por ter criado esse ser humano tão lindo e ainda mais por ter essa presença em minha vida.
Mas estou chateadinha: chateada com a nossa distância e por estar, mais um ano, distante fisicamente de uma das pessoas que mais amo numa data tão linda como essa. Sinto toda saudade de você, meu querido! Ao ponto de doer, é verdade...
Para matar um pouco da saudade estou olhando fotitas. Logo quero poder comer maçã do amor ao vivo e em cores. Love you! Parabéns mais uma vez, e que essa nova fase seja linda e especial e te faça concretizar aqueles velhos planos que, é claro, vão me beneficiar imensamente! ;)

25.8.07

Conclusões literárias E balzaquianas

Dos romances mais recentes larguei no meio o sacal O código Da Vinci, fiquei um tanto frustrada com O caçador de pipas e me perguntando como ninguém comenta A Sombra do Vento. Esse tipo de situação me faz duvidar muito de best sellers. Então tenho procurado os clássicos, pois a chance de errar é menor, de forma que tenho obtido finais felizes.
Às vésperas do meu 29º aniversário eu entrei na crise dos três.ponto.zero. Então decidi que leria Balzac para me preparar ao próximo aniversário e tentar fazer com que o caminho do Calvário tivesse algum embasamento teórico. Após inúmeras tentativas consegui encontrar num sebo o Mulher de trinta anos.
Balzac me pareceu um paradoxo: aquele que de forma tão descritiva te faz compor um cenário onde se pode acertar a exata disposição de vasos e cores das suas espécies num parque, ou que te faz enxergar exatamente a composição da toilette de uma mulher desde o laço da cabeça até a renda que compõe sua lingerie pela descrição do seu caminhar, é o mesmo que te deixa perplexa por largar no plano das reticências o final de capítulos construídos numa quantidade razoável de páginas em meio a cenas de tirar o fôlego. Isso pode ser uma qualidade literária, mas eu realmente gostaria de saber o que se passou com uma série de personagens. Sou uma mulher de 30 anos, ora!
Brincadeiras à parte, eu já não lia algo realista há um tempo considerável e foi muito bom ter contato novamente com algo que compõe uma sociedade longínqua mas que retrata tão bem a atualidade. O romance é ótimo e em algumas horas nos prende como no melhor dos filmes de suspense. Valeria simplesmente pela história. Mas para mim o que faz dessa uma grande obra vai além disso: o caráter descritivo me desagrada muito quando dispensa páginas e mais páginas para compor cenários, e no entanto me agrada além da conta quando constrói personagens. E Balzac é descritivo para ambos, e da mesma forma que me deixou entediada falando de Saint Lange me conquistou definitivamente quando mostra um olhar cuidadoso que todo homem devia desenvolver, registrando pérolas como essa:

"Uma mulher de trinta anos possui atrativos irresistíveis para um rapaz. (...) De fato, uma jovem tem demasiadas ilusões, demasiada inexperiência, e o sexo é bastante cúmplice do amor para que um homem possa sentir-se lisonjeado, enquanto uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem que fazer. Uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas às do amor; a outra obedece um sentimento consciencioso. Uma cede, a outra escolhe. Essa escolha já não é por si uma imensa lisonja? Dotada de um saber quase sempre caramente pago por desgosto, dando-se, a mulher experiente parece dar mais que a si própria; enquanto a jovem, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode comparar nem apreciar, ela aceita o amor e estuda-o. Uma instrui-nos, aconselha-nos numa idade em que se gosta de ser guiado, em que a obediência é um prazer. A outra tudo quer saber, e, onde esta se mostra apenas ingênua, mostra-se a outra profundamente terna. Aquela apresenta-nos um só triunfo, esta obriga-nos a combates perpétuos. A primeira só tem lágrimas e prazeres, a segunda, voluptuosidades e remorsos. Para que uma jovem seja a amante, deve estar demasiado corrompida, e então a abandonamos com horror; enquanto uma mulher possui mil meios de conservar ao mesmo tempo o poder e a dignidade. Uma, extremamente submissa, oferece-nos tristes garantias de repouso; a outra perde demasiado para não pedir ao amor as suas mil metamorfoses. Uma desonra-se apenas a si; a outra mata em proveito do amante uma família inteira. A jovem tem apenas uma vaidade e crê ter dito tudo, despindo o vestido; porém a mulher tem-nas em grande número e oculta-se sob mil véus; enfim, ela acaricia todas as vaidades, e a noviça apenas lisonjeia uma. (...) Além de todas as vantagens da sua posição, a mulher de trinta anos pode tornar-se jovem, representar todos os papéis, ser pudica e embelezar-se até com a própria desgraça. Entre ambas, encontra-se a diferença incomensurável do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza."

Segundo Balzac, os 30 anos são a idade em que a mulher é bela pela maturidade mais que pela aparência, que em nada perde para a de uma mocinha de 20 anos. E eu me sinto exatamente assim: uma mulher que chega ao ponto de transição do capricho ao equilíbrio, do impulsivo ao reflexivo. Essa obra me faz entender que não era apenas uma tola aos 20 anos e que infelizmente abri os olhos para a vida tardiamente, mas uma mulher comum que atendeu à cronologia natural de desenvolvimento da alma feminina e se sente feliz com isso.
Balzac sabia das coisas e é prova viva que uma estatura pífia e uma aparência nada atraente jamais serão empecilho para a conquista de qualquer mulher. Eu sempre achei que o ponto G está no talento do homem em olhar a mulher: se quiser que ela a deseje ardentemente, repare no decote, na cor das unhas, na silhueta do colo e no perfume liberado pelos estrógenos. Se reparar e a fizer se sentir linda e única, você conseguirá o que quiser da mais desejada entre mulheres. Se achar difícil, ler esse livro pode ser um bom treino.
Mulher de trinta anos é um romance que me faz respirar em meio a leituras filosóficas mais complexas. Consegui respirar, consegui suspirar. Feliz escolha.

22.8.07

Mês do cachorro louco

Era para eu estar feliz com os acontecimentos dessa semana, mas não consigo. Estou com a pior TPM de todos os tempos. É bastante comum que eu me irrite com facilidade, seja intolerante, ou chore, ou ria sem motivos nessa época. Mas fisicamente é uma dorzinha aqui ou acolá. Nesses dias, no entanto, estou insuportavelmente cansada e dolorida. Posso dormir 3 ou 12 horas que o resultado é o mesmo: me sinto pesando o triplo do que peso, e a sensação de que há uma bigorna sobre minha cabeça é constante. Me lembrem de nascer homem da próxima vez!

19.8.07

A assassina

Coisas que gosto da vida doméstica são sempre meio que artesanais. Adoro bordar, adoro cozinhar, adoro arrumar a disposição das coisas. Adoro plantinhas também. O único problema é que, como diria meu pai, eu não tenho 'mão' pra cuidar de plantas quando o assunto não é arquitetura. Então assassinei todas as minhas plantas, cada uma de uma forma: uma de sede, outra afogada, outra sufocada, outra por excesso de vento.
Mas com a minha alma compadecida, resolvi tentar ressuscitar todo mundo. Podei, replantei adubei, coloquei gel para que elas não contem com minha falta de noção nas regas, reloquei tudo para que as que não gostem de vento fiquem dentro de casa, e as outras fora, e algumas perto do sol. Mas sinceramente estou com medo de fracassar, não vou admitir ser uma assassina. Em série, ainda por cima! Enfim, vamos ver se só técnica funciona. Se der certo, eu posto fotos de antes e depois!

7.8.07

Re-ti-cên-cia

Eu já ouvi muitas críticas aos meus escritos. O que não me incomoda muito, já que sempre tirei notas razoáveis em redação onde fui testada nesse sentido. Mas costumam dizer que uso muitas reticências, e que reticências só devem ser usadas quando o interlocutor subentende a citação. Algo do tipo 'para meio entendedor...'
Então para que essa chatice pare de uma vez por todas, aprendam: a reticência tem mesmo essa função, além de dar pausas em citações para encurtar o enunciado, podendo ser usada TAMBÉM como pausa de hesitação, suspense, omissão pessoal.
E eu, caros, sou uma pessoa reticente.

reticente
re.ti.cen.te
adj m+f (lat reticente) 1 Em que há reticência. 2 Que manifesta reticência; hesitante. s m+f 1 Pessoa que silencia o que devia ou podia dizer. 2 Pessoa reservada.


5.8.07

Miscelânea política

Durante a faculdade eu fazia um estágio onde ganhava R$200,00 que me garantiam o transporte e um hot-dog dia-sim-dia-não durante os estudos. Consegui me formar negociando minha dívida por muitos meses após a formatura, após anos de sufoco a cada matrícula que eu provavelmente não conseguiria fazer por meu histórico devedor no semestre anterior. E me desculpe, eu não faço cara de dó por isso, eu sou uma pessoa privilegiada que conseguiu estudar com muito sacrifício e se mata todos os dias para crescer e ser alguém na vida. PQP, Deus é um cara realmente bacana comigo!
Todos os meu colegas bolsistas da faculdade haviam estudado em colégios particulares e conseguiam almoçar diariamente após pegar o carrinho que o papai deu para chegar até o campus. A maior parte dos meus colegas apoiavam o MST e votavam no PT.
Eu desanimo BEM quando paro para pensar em política, em qualquer grau. Pois é fato que numa cultura como a nossa a coisa não tem muita solução. E eu sou um tanto pragmática com isso, considero causa perdida mesmo: um país que só honra reclamações da classe baixa, como se apenas os miseráveis tivessem o direito divino da manifestação pública, me desanima.
Daí que temos um governante de atuação centro- direita- pseudo- esquerdista com marketing populista, que explora de forma nojenta a falta de informação das camadas mais pobres da população, adotando a política de pão e circo contemporânea: as classes mais baixas se vendem por bolsa família e uma cesta básica, e então o presidente apresenta 48% de aprovação. Receitinha de pão-de-ló, coisa simples. 'Governo Lula: o governo que não dá o peixe, ensina a pescar'. Hein???
Enquanto isso a classe média, que tem um número razoável para militar por qualquer causa e possui um pouco mais de informação toma uma das duas posturas: ou ignora a situação e não faz nada (comportamento padrão) ou não se considera classe média, pois é claro, dá trabalho. A classe média é a classe mais indefinida que há. Algo tão autêntico como 'católico não praticante', é a classe média não operante, uma subclasse. Então pessoas com 3o grau, casa própria, ganhando bem mais que um salário mínimo adotam discursos de classe baixa pois já há movimentação suficiente para isso. E dizendo pertencer a ela não é preciso fazer nada também, com a vantagem de poder ficar tranqüilo por isso e ainda fazer piadinhas de muito mau gosto com os gatos pingados da classe a qual realmente pertencem que decidem fazer algo. É patético...

4.8.07

Red fingernails, Red Wine


'Dá-me vinho para apagar
o incêndio da minha tristeza.

Bebe e esquece que
o punho da tristeza breve te derrubará.

Vinho! Vinho em torrentes!
Que ele palpite em minha veias.

Que ele borbulhe em minha cabeça!'

(Omar Khayyan [claro!], em Rubaiyat)

28.7.07

Desafios

Supondo que seus amigos de um partido influente, numa noite de bebedeira, joguem seu nome para disputa presidencial do país e, inesperadamente, você entra no páreo. Isso seria muito engraçado, talvez divertido. Mas como em 'Mera coincidência' (Wag the dog, 1997) a coisa vai tomando rumo, toma um corpo independente e incontrolável, e você ganha a disputa presidencial. E então o que se passa em sua cabeça? 'Caramba, eu sou presidente do Brasil. Eu posso mudar tudo. Isso é um desafio. Eu vou ter um salário inimaginável para alguém formado na minha área, fora os bônus para despesas de gabinete e moradia. Por Vênus! É o emprego dos meus sonhos, vou encarar!'
Acredite: toda oportunidade fora da sua alçada pode ser um grande desafio, mas você nem sempre estará pronto para todos os desafios que caírem em seus braços. Talvez você não tenha nem mesmo o dom para que possa desenvolver determinadas capacidades. Então, ouça um conselho: não encare todo desafio como aceitável, pois há coisas que realmente não lhe competem. Você pode colocar todos os envolvidos numa grande merda, só porque você não soube enxergar ou assumir que não se encaixa naquilo.

12.6.07

Death by Caffeine

Esse teste diz que tomando cerca de 80 xícaras de café eu bateria as botas. Eu adoro café: fato. Mas sendo assim, 80, acho que não morro disso não! YUPIEEEEE!

10.6.07

Musics of my life

Todo mundo tem a lista de músicas da vida, não? Então resolvi deixar meu top ten aqui. Ele não é imutável, mas quase tudo que julgo indispensável na minha playlist vocês encontram listado abaixo. Eu acho que na opinião geral, o que vem de fim vai parecer melhor que meus eleitos como tops. Mas como é uma classificação passional, pardon me! A discussão aqui não é a qualidade de qualquer coisa, certo?
ENJOY!

10. Sapato Velho - Roupa Nova: Um dos melhores exemplares da MPB, na minha opinião. Roupa Nova é algo discutível, mas por causa de Sapato Velho eles terão créditos comigo por toda a eternidade. Então posso detestar muito da obra deles, mas me ofenderei profundamente se alguém disser que tudo o que fizeram é um lixo. E ainda adoro Frisson, antes que me digam que Sapato Velho é a única coisa que presta!
09. Demons - Super Furry Animals: Demons foi a música que me fez viciar em SFA. Poucas músicas da atualidade me parecem épicas como no estilo progressivo, que é dos meus preferidos, mas Demons é assim. E não conheço quem não tenha escutado e viciado. Obra prima dos peludinhos.
08. Try a Little Tenderness - Otis Redding & The Bar-Kays: Eu já ouvi N versões para Try a Little Tenderness, e gosto de boa parte delas. Mas as melhores são a do filme Duets, que me apresentou a música, e a de Otis Redding & The Bar-Kays, um remake da original que inseriu o estilo soul no clássico. Uma das músicas que mais traduzem um cantar apaixonado e explosivo. (E antes que me perguntem, Duets é um filminho muito ruim, mas a trilha sonora é ó-te-ma!)
07. Águas de Março - Elis Regina: Elis é indiscutível. Nem sabia quem era Elis Regina até que a morte dela me fez descobrir que a vida tinha fim, que meus pais não eram imortais e que um dia eu ia ter de parar de brincar com minhas bonecas. E então passei a ouvir Elis e chorar, todas as vezes, ainda pingo-de-gente. Se não fosse por Águas de Março, que sempre achei ter sido escrita para mim já que o dia de meu aniversário inaugura as enchentes na cidade, eu só choraria com Elis. A versão com Tom quase foi a escolhida, o problema é que acho Tom um ótimo compositor e péssimo cantor.
06. Lullaby - The Cure: Se você quiser fazer um streap tease para uma pessoa que não manja nada de inglês, use Lullaby! rs. A letra é uma viajem, literalmente, mas a parte instrumental é tão envolvente quanto um abraço dado no momento da entrega depois de meses de flerte.
05. Paralyzed - The Cardigans: Se a pessoa manja de inglês, use essa para o streap tease! Paralyzed é uma música perfeita. Eu sou suspeita, pois ela foi a trilha sonora de um carnaval inesquecível, mas as pessoas que a conhecem partilham da opinião de que essa música causa efeitos BEM interessantes, no sentido mais interessante dentre as coisas interessantes. E é provável que The Cardigans entre para sua playlist depois disso.
04. Firth of Fifth - Genesis: Que Genesis é uma das bandas da minha vida, todo mundo sabe. Difícil foi escolher a preferida, pois Carpet Crawlers brigou feio com Firth of Fifth (fico devendo a versão completa, mas mando por email se alguém quiser). Mas essa música foi o marco da melhora do meu irmão após um acidente que quase lhe tirou a vida. Lembro que ainda voltando lentamente ao normal, após um longo coma, demos o teclado para ver se o estimulava a falar e se locomover. Os primeiros acordes que saltaram foram do solo fantástico no início dessa música. Só de lembrar meus olhos enchem de lágrimas. É apaixonante.
03. How Deep is Your Love - Bee Gees: Dentre os clássicos, uma música perfeita para trilha sonora de um grande amor. Eu já tive um baita preconceito com o falcete agudérrimo do Barry Gibb antes de How Deep is Your Love, mas ela foi responsável, inclusive, pela adoração temporária que já tive por Bee Gees .
02. A Little Respect - Erasure: Sim, Erasure! A Little Respect é uma música que marcou um momento de transição importante da minha vida, das primeiras que me fizeram largar Xuxa e Mara Maravilha. Dos primeiros momentos que pensei que estava crescendo e que tinha vontade própria. Dos primeiros friozinhos na barriga, das primeiras descobertas do coração. É das coisas mais nostálgicas da minha história.
01. A Summer Wasting - Belle and Sebastian: Não me perguntem o porque, pode ser muito por causa de Belle, mas A Summer Wasting é a minha trilha para todos os momentos. Nos que estou feliz ela reforça o sentimento, e nos que não estou tão feliz ela me ajuda a sorrir. Me faz pensar em um campo de grama perfeita, com flores multicoloridas e borboletas everywhere: minha tradução para paz de espírito.

Foi difícil deixar de fora da lista 'Oh, Donna', do Richie Valens (que me faz sentir saudades de um tempo que não vivi), 'Live and Learn' dos Cardigans (que também me traz paz de espírito), '(They Long to Be) Close to you', dos Carpenters (uma das canções mais fofas de todos os tempos), 'Always on my mind', do Elvis (que aprendi a gostar com Pet Shop Boys), e 'Time' do Alan Parsons (sem comentários!). Então acho que vale citar!

8.6.07

A mistura da janta

Sobre expressões que incomodam:

Eu tenho lá meu grau de frescura, que nem é tão baixo assim, confesso! E talvez por causa disso algumas palavras me desnorteiam.
Eu cresci odiando a palavra beleza. Acho sem rima poética, sei lá. Fato é que essa palavra só se tornou suportável quando se tornou gíria. 'Então, beleza! BLZ!'. E só pensando assim eu consigo pronunciar. Fora desse contexto, ela só se encaixa em diálogos domésticos do tipo 'Comprei uma mandioca que é uma beleza, menina!'. E, definitivamente, não nasci pra ter esse tipo de diálogo.
Mas janta e mistura não se adaptam, passe o tempo que passar.
Sobre a primeira palavra, veja a diferença:

- Hora da janta! OU
- O jantar está servido!


O primeiro é sem classe, o repeteco do almoço. Mas jantar é tão sonoro e convidativo! Então não importa se estamos consumindo o repeteco do almoço, eu sempre uso jantar. Questão de estilo.
Agora mistura é palavra que não entendo. Meu pai abominava ouvir essa palavra e acho que o argumento dele fazia muito sentido: o que vem à cabeça quando você ouve a palavra mistura? Para mim soa como papa de neném, tudo que tem para comer numa grande maçaroca. Então não me conformo do atrativo principal do prato, o diferencial dele, levar apelido de maçaroca. É de perder o apetite.
Moral da história: faça um tutu-de-feijão-com-ovo-mexido, e me convide para JANTAR um prato especial composto de tutu-de-feijão-com-ovo-mexido, porém nada declarado como mistura, e aceitarei apetecida. Mas se me convidar para um risoto acompanhado de mistura, ainda que essa seja um salmão grelhado ao molho de mostarda, vou entender que estou consumindo o rest'o-donté.

7.6.07

Nem sim, muito menos não

"Não ver, não ouvir, não deixar muita coisa se aproximar - primeira mostra de inteligência, primeira prova do fato de que a gente não é um acaso, mas sim uma necessidade. A palavra usual para esse instinto de autodefesa é a palavra gosto. Seu imperativo não apenas ordena a dizer não, onde o sim seria uma 'atitude desinteressada', mas também a dizer não o menos possível... Separar-se, amputar-se daquilo em que o não sempre voltaria a ser necessário. A racionalidade nisso é o fato de que as despesas defensivas, por mais pequenas que sejam, quando levadas à categoria de regra, de hábito, acabam condicionando um empobrecimento extraordinário e completamente desnecessário. Nossas grandes despesas são o grande número de despesas pequenas. O ato de defender, de não-deixar-se-aproximar é uma despesa - ninguém se iluda a respeito disso-, uma força esbanjada para objetivos negativos. A gente pode, apenas na necessidade constante da defesa, ficar tão fraco a ponto de não conseguir se defender mais..." (NIETZSCHE, em Ecce Homo)

Pois é...

3.6.07

Série: para começar a amar...

... The Jackson Five

The Jackson Five é uma das poucas coisas que eu ouvia por vontade própria quando era mais nova e ainda faz parte importante do meu repertório. Das bandas que coloco para levantar o humor com garantia de dar certo. Todo o resto é herança paterna que acabou tomando forma em mim.
Fico realmente chateada quando as pessoas se mostram chocadas ao descobrirem do quanto gosto de Michael Jackson, como se o fato de ouvir suas músicas fosse uma aprovação à pedofilia. Sinceramente, acho que essas pessoas são surdas. Se fosse assim jogaríamos toda a obra do Michael Jackson no lixo por ter surtado na última década, e no entanto ele é indiscutivelmente um dos maiores ícones da música pop, com o record de álbum mais vendido da história que, por motivos óbvios, dificilmente será batido. E com o Michael iriam também inúmeros outros nomes de todos os gêneros que já se envolveram em escândalos. E não vou entrar no mérito do quanto a criação dos meninos foi sofrida para manter o sucesso absurdo da banda, ou da infância roubada, ou da carrasquice do pai dos garotos: seria uma ignorância ainda maior deixar de lado toda a obra por pensar assim.
Então você ouve aquele menininho ainda tímido e que mal havia saído das fraldas dando agudos e falcetes afinadíssimos, dançando como gente grande e não tem como se apaixonar. Mas é engano dizer que o talento todo veio às duras penas já que o talento, em si, foi descoberto quando ainda tocavam escondidos do pai que os trancava para ir ao trabalho: eles fugiam para a casa do vizinho e passavam o dia descobrindo o próprio dom. Até que o pai descobriu, assistiu e decidiu explorar, em todos os sentidos, do talento dos filhos. Dos cinco, depois seis, depois sete, enfim, nem sei qual o maior tamanho que atingiu a formação. E o resultado rendeu coisas geniais que sempre estão nas minhas playlists (na ordem, como sempre):

- I want you back;
- The love you save;
- Never can say goodbye (com versões de nomes como Isaac Hayes e Gloria Gaynor);
- Got to be there;
- ABC;
- I'll be there;
- Ben;
- Mama's pearl;
- Blame on the boogie;
- Can you feel it.

Não posso deixar de citar a versão dos mocinhos para Ain't no sunshine, que das dezenas existentes é a minha preferida, ganhando fácil de Bill Withers.
Se eu pudesse ter assistido a comemoração dos 30 anos, acreditem, eu teria chorado do começo ao fim E escandalosamente. Sou assim, apegada às paixões!

2.6.07

Cappuccino

Um dia perfeito é frio e com o céu azul, coisas que só o Outono oferece. Um dia quase perfeito é um dia frio com uma garoa fininha. Lá fora chove, mas sou capaz de gostar um tanto disso se estou dentro de casa, como agora. Um dia cheio de trabalho que se iniciará na cama, embaixo de muitos cobertores, lendo um livro e tomando um cappuccino. Aliás, o Outono e o Inverno me dão a possibilidade de viver grandes paixões: cappuccino, botas, sobretudo, sopa, lareira, fondue. Ai, ai... Amo muito tudo isso!

3.5.07

(minha) Teoria da Relatividade

Eu prezo muito, muito mesmo, a opinião do outro. Nem que for para dizer 'bah, que idéia lixo!', ouvir sempre será necessário. E olha: sou geniosa e extremamente teimosa, assumo! Mas não conheci nessa vida alguém infalível, e obviamente não vou conhecer. Então aprendi que muitas vezes, nem que seja apenas pela ótica alheia, eu sou o ser falível. E para ser sincera eu acho que em boa parte das filosofias que nos consomem podemos ser todos falíveis.
A verdade é um conceito, já diria um bigodudo amigo meu. E até ela, a verdade, é relativa. Eu lembro da minha primeira lição de física que tentei decorar para a prova: só fui entendê-la anos mais tarde, com um pouco mais de maturidade. "Tudo depende de referencial". E na vida tudo depende de referenciais, mesmo! De cultura, de bagagem, de vivência, de situações. Eu já perdi as contas de quantos conceitos meus foram por terra ainda no meio da minha pregação, então desisti. Desisti por postura de humildade e cultivo de sabedoria: não vou mais gastar energia brigando por coisas que eu não posso afirmar com 100% de certeza. Posso afirmar fatos passados, concretos e objetivos com absoluta certeza, nada mais. Mas não venha me perguntar sobre teorias, cores, promessas, sabores, gostos, Deus, achismos, crenças, razões, climas, sentimentos: até meu prato preferido muda constantemente e eu estou na mesma eterna construção que toda forma de vida inteligente.
Diante de tudo isso a vida se torna um apanhado de teorias pessoais somadas às nossas vivências. E nossas conclusões aos 91 anos poderão ser tão patéticas comparadas à verdade absoluta desconhecida quanto o fato de comermos cogumelos cancerígenos com a crença certa de que isso é o alimento mais saudável do qual já tivemos notícia. Vá por mim: a opinião alheia que você desdenha hoje pode ser sua verdade absoluta amanhã. E disso eu tenho certeza.

1.5.07

Dia do trabalho

Não há feriado que eu possa comemorar mais do que o 1o de Maio. Afinal de contas, trabalhar é o que mais faço na vida. E hoje, pra variar, here I am! Mas pelo menos tenho direito a uma taça de vinho. Hummmm

27.4.07

Sumiço

E volto ao sumiço, buscando o eu que foge ao hoje

Vai ver é a garoa, mas hoje estou assim-assim. Eu gostaria de entender melhor a dinâmica do nosso espírito que, de hora pra outra, murcha. Probleminhas insignificantes que nos rondam todos os dias parecem pesar mais, coisa assim. Pode ser só a garoa, mas pode ser a música da Elis que eu ouvia agorinha, o telefonema do meu irmão, o meu cronograma que não deu certo, a resposta atravessada da colega de trabalho, enfim. Ou nada disso, ou tudo isso. Mas daí penso: há um final de semana chegando, um final de semana para hibernar de verdade, dormir, esquecer que existe computador e afazeres domésticos. Final de semana de visitar a Catita que fica escondidinha num vértice do quarto lendo filosofias que não partilha com ninguém. Isso não é um sopro de alegria, é apenas um consolo para a alma abarrotada de coisas que não me interessam mas me consomem os dias e os sorrisos.

24.4.07

Guess who?

Eu adoro Pica-Pau, principalmente por dois motivos: ele é politicamente incorreto e se dá mal boa parte das vezes.
É claro que gosto do Fantástico mundo de Bobby e de Caverna do Dragão, mas o único que chega perto de competir com Pica-Pau dentre os meus preferidos são Os Simpsons. Com a diferença que eu poderia ter criado Os Simpsons, mas não o Pica-Pau. Eu não tenho criatividade suficiente para pérolas como 'Morou? Serrote!', 'Eu quero um bifão!' e 'Voodoo é pra Jacu!'.
Eu não seria capaz, por exemplo, de eleger um episódio preferido. Há os clássicos como o 'Niagara fools', mas eu gosto mesmo é da parceria com o Zé Jacaré, que rendeu coisas como isso aqui.
Se você quiser me fazer um favor, deixe o(s) seu(s) episódio(s) preferido(s) na caixa de comentários para que eu tenha o que fazer quando não tenho o que fazer.
Obrigada! 'Eu gosto de você, a senhora é boazinha! hehehehe he!'

22.4.07

Vícios de pensamento

Ah, os pensamentos! Eles vêm, eles vão, e quando acho que estou livre de pensar em coisas chatas e sem fim... Olha eles aqui novamente!
Eu tenho conceitos fortes que moldam meu agir, mesmo que meus impulsos queiram falar mais alto, e acho isso ótimo pois eu consigo um auto controle que raramente vejo nas pessoas. A minha preocupação é quando a improbabilidade deles gritarem e me deixarem acuada deixa de ser improvável. Eu sei que quando me deparo com algumas pessoas e fatos (com os quais não consigo brigar diretamente, pois não dá para colocar fogo e água no ringue) acabo sendo manipulada pelos instintos.
Fato é que eu preciso mesmo aprender a moldar algumas sutilezas na forma de olhar fatos. Pois pessoas são pessoas, homens são homens, mulheres são mulheres, coisas são coisas e por mais que cada um faça o maior esforço do mundo para ser diferente, nada muda a natureza. Então é isso: preciso me conformar com a natureza de coisas e pessoas. Assim paro de me chatear quando não tenho a tpm para usar como desculpa. Como já diria um sábio filósofo: 'ah, deixa prá lá!' hahahaha

29.3.07

Rock street

Alguém como eu só poderia se encontrar em um ambiente retrô com esse endereço.
Daí escuto Pam V e Curse of comfort e quero estar nesse exato momento na Rock Street, cheirando paredes recém pintadas, com o pé escorregando no pó da massa corrida, na sala tingida de dourado às 5 e meia da manhã tomando o café-meu-de-cada-dia, amém. Tomar banho com Dove de chá verde, gritando as letras pelos corredores, tropeçando até a 14 bis enquanto sinto o cheiro da lavanderia no percurso.
Recordar é viver.

25.3.07

Perguntas sem resposta

- Por que a vida é dura?
- Porque se fosse mole, seria gelatina!

* para as horas em que rir é o melhor remédio!

Outubro

Ele era viciado em pornografia mas preferia dizer que apreciava a arte do erotismo. Colecionava wallpapers, pôsteres, revistas, vídeos e o que mais aparecesse pela frente. Alimentava o mercado pornográfico assim como um viciado alimenta o tráfico de drogas e seu maior hobby era navegar durante a madrugada pela web, quando todas as chamadas de primeira página apelavam para seus fetiches. Coisas do tipo 'baixe um calendário de bundas para deixar seu ano abundante', e lá estava ele fazendo 324 downloads ao mesmo tempo. E torcendo para que o mês virasse logo e uma nova bunda decorasse o desktop.
Vendo só esse tipo de coisa acabou por educar seu gosto ao corpo perfeito, e nenhuma namorada poderia ser flácida, ter um pneuzinho, celulite ou sequer uma mísera estria. Tinham que ser deusas, pois ele precisava exibir a exigência que seu gosto havia desenvolvido. E dentre o mar de pessoas fúteis que ele conheceu nesse sentido, a última era das melhores: ela saía na capa da capricho, era grande aspirante ao Big Brother - talvez se tornasse uma celebridade e um símbolo sexual do país! - e o melhor de tudo: sua posse.
- Frufruzinho, recebi um convite para posar na 'bundas de gostosas'. Não é ótima notícia?
- O quê??? Mulher minha não vai sair em revista pornográfica nenhuma!
- Mas não é pornográfica, meu mel! É uma revista de arte, arte erótica!
- Arte erótica? Você não entende nada disso! Não vai, e ponto.
- Mas ursinho, é meu trabalho! Eu ganho por isso!
- Então você é o quê? Prostituta? Não! Você é minha namorada, e namorada minha pode até aparecer na TV, mas cobre a bunda!
- Tá bem, bizungo... tá bem.
Ele respirou aliviado. E balbuciou:
- Já pensou se algum imbecil-escroto-que-não-tem-o-quê-fazer comprasse a tal 'bundas-não-sei-o-quê' e resolvesse homenagear a MINHA namorada gostosinha? (Vou fazer o download desse vídeo no L world) Só por cima de meu cadáver, que a pituca não é prá isso. (Preciso renovar minha assinatura de Hustler). Mulher minha pode ser fútil, mas não dada prá essas coisas. Que bom! A bunda do desktop de outubro é a melhor do ano!
A pituca, dia desses, sentou ao seu lado no computador. Sorriu. Sua bunda era linda, aquela era a melhor das fotos que tinha tirado até então, e ele gostava.

24.3.07

Caso antigo

Eu tenho um caso antigo e intenso com o trabalho. E a convivência com ele é insuportável algumas vezes. Hoje mesmo: olho prá ele, ele prá mim e ficamos assim, por tempo indefinido, sem nos entendermos. Daí fico brava, bato o pé e vou deitar, achando que na hora que acordar a gente faz as pazes. Algumas vezes funciona, mas ultimamente não tem adiantado mais.
A rotina acabou com a nossa harmonia.

Leguminosas

Eu achava que odiava creme de milho quando era criança, e beringela também. Daí meu pai me dava uma sova e me obrigava a comer tudinho. Ele dizia àquela menininha de 5 anos que ela não podia formar opinião sobre coisas que não tinha experimentado. É...
A gente cresce e aprende que nem chega a tentar várias coisas na vida por acreditar que não funcionará conosco. A gente prevê a derrota da beringela antes de prová-la. Daí podemos nunca descobrir o sabor dela, podemos descobrir que perdemos a oportunidade de comer a melhor coisa do mundo ao nosso paladar. Não é um desperdício?
É assim que as possibilidades vão embora. Hora dessas a beringela e o milho sucumbem à extinção e babau, já era... Você nunca vai saber como teria sido, pois você achava que não conseguiria lidar com aquilo. E elas foram embora do mundo. Do seu mundo.
Vai, tente se enganar. Dia desses, quando você precisar de proteínas, vitaminas e alcalóides, a beringela estará extinta, meu caro!

19.3.07

Você sabia...

... que eu adoro aspargos*?

*frescos, grelhados, com azeite, sal e pimenta do reino!

Earth angel

Já falei que nasci na época e local errados, né? Então: o dia está cinzento e eu estou feliz por isso. Sou a única pessoa por aqui satisfeita com o vento que está soprando lá fora. Mas nada me remete mais ao meu verdadeiro eu do que as musiquinhas de bailes dos anos 50/ 60. Então...

Earth angel
(Marvin Berry)

Earth angel, earth angel, will you be mine,
My darling, dear, love you all the time.
I'm just a fool, a fool in love with you.

Earth angel, earth angel, the one i adore.
Love you forever and forever evermore.
I'm just a fool, a fool in love with you.

I fell for you, and i knew
The vision of your love's loveliness,
I hope and i pray that someday
I'll be the vision of your happiness.

Earth angel, earth angel, please be mine,
My darling, dear, love you all the time.
I'm just a fool, a fool in love with you.

18.3.07

Trânsito e TPM

Eu até gosto do transporte coletivo. Não o de São Paulo, mas como alternativa de transporte. Eu sinto toda a tensão do guia quando estou de carona num carro, e automaticamente assumo a irritabilidade por todos os transtornos de quem dirige numa cidade como a minha. É muito estressante conhecer o condutor do veículo e, pior, estar do lado dele. Então prefiro o coletivo. Metrô, pela facilidade; ônibus, pela oportunidade de contemplação. No ônibus eu não preciso fazer sala ao vizinho de banco e a lentidão sempre me faz prestar mais atenção no que acontece ao redor, muito propício às minhas vãs filosofias.
E falando em trânsito, eu estava pensando no mocinho que vi fazer malabarismos de farol noutro dia, indo ao trabalho com meu irmão. Ele jogava as bolinhas lá encima, para toda a fila do congestionamento conseguir enxergar. Dava voltas enquanto esperava-as descer, pegava algumas com o pescoço, e além do que esbanjava simpatia. Eu não ajudei pois sigo a política de não-incentivo ao subemprego, mas dá vontade! Ele é fofo, e diz um 'vai com Deus' lindo quando alguém colabora (mulher é bicho bobo, mesmo). Já na Paulista, outra vez, um tiozinho com andar bêbado passava de mão estendida de fora a fora pedindo esmola. Esse é o tipo de coisa que não entendo como alguém é capaz de ajudar. Tive vontade de descer e falar: 'Você é louco? Acha mesmo que tem o direito de pedir esmola para encher a cara?', mas daí eu lembrei da que estava de TPM e achei melhor respirar fundo e deixar prá lá.
Aliás, cuidado: estou de TPM!

17.3.07

A mulher de (quase) 30 anos

Eu me orgulhava tanto de não ter rituais de beleza até os 25 aninhos... A vida era bela!
Então você percebe que a celulite existe, que os cabelos ressecam e que a região dos olhos sofre a ditadura das leis da natureza. Talvez a natureza fosse mais justa se nos desse um dia de 48 horas para podermos cumprir toda a rotina pré 30. Acordar, tomar banho com óleos de pele, passar hidratante, usar o leite de limpeza seguido de tônico facial, corretivo, base com filtro solar, rímel, sombra, lápis, batom, perfume, desodorante para os pés. Precisamos de, no mínimo, uma hora para escolher se tanga, se saia, se calça, se camisa, se blusinha, se sandália, se sapato, se bota. Quando você pensa que vai respirar, é hora de combinar a bolsa, o cinto, o brinco, o anel, a pulseira e o colar. Daí você vai segurar sua vaga no mercado de trabalho machista, precisa doar-se o dobro para conseguir garantir metade do salário deles, ouvindo desaforos de todos os peões de obra e engenheiros, além das cantadas mais irritantes. Depois vai chegar em casa, lavar 3 tipos diferentes de folhas verdes e combinar com algo vermelho cheio de licopeno para combater os radicais livres: isso é tudo que você tem permissão de ingerir sem ganhar 1 quilo extra em seguida. Tomar banho sem esquecer de passar a bendita lixa para os pés, silicone nos cabelos, secador, lavar o rosto com sabonete adstringente, passar restaurador para região dos olhos, hidratante novamente, óleo secante nas unhas dos pés, lixar as unhas, tirar as lentes, escovar os dentes com toda a neurose de quem se move à café, enfrentar o segundo turno da infindável jornada de trabalho. Sem esquecer da manicure, depilação, do shampoo sem sal, da massagem anticelulite e das drenagens linfáticas. Com sorte você junta dinheiro para uma HLPA!
E eu queria ser gente grande. Tolinha.

13.3.07

Procura

Acorda e olha ao redor, e novamente olha ao redor. Passos curtos fazem com que os pés analisem cada instante. Cada pessoa é fonte de investigação, cada momento é seguido de um pensamento distante. E os minutos batem como facadas no peito, como se a esperança morresse a cada respiro de certeza que chega invadindo sua vida. E tudo se torna um mar de confusão, onde o que se busca afogar é justamente o que preenche seus pulmões.
Ela sou eu.

11.3.07

Legião

'Mentir prá si mesmo é sempre a pior mentira...'

10.3.07

Série: Para começar a amar...

...Super Furry Animals

Adoro o espírito criativo deles e o lado cômico de boa parte das músicas. Tão cômicos que o vocalista definiu o último álbum (Love Kraft) como 'viajandão'. Neste mesmo álbum, inclusive, há uma música chamada 'Oi, Frango', composta pelo guitarrista numa tentativa de compôr algo em português quando de sua estada de 1 mês no Brasil para finalizar o Love Kraft (tentativa frustrada, já que a música é instrumental).
Em 13 anos (a banda se formou em 1993) eles já gravaram 7 álbuns.
Minha lista de preferidas, na ordem, é a seguinte:

Demons (primeiríssima sem sombra de dúvidas!)
City Scape Sky Babe (a letra mais nonsense de todas)
Don't be a fool, Billy (don't be a stranger, be a friend!)
Pam V
Hello Sunshine
Receptacle for the Respectable
Juxtaposed With You
The Turning Tide
Frequency
Northern Lights
Y Teimlad
Hometown Unicorn
Atomik Lust
Liberty Belle
Venus and Serena


Bom proveito aos interessados!!!

8.3.07

The Truman Show

E o Bush está chegando. As ruas do Brooklin estão interditadas. A 23 de Maio e a Berrini também. O hotel vai funcionar em sua função, bla bla bla.
Para se ter uma idéia da cena toda, retiraram as faveletas de onde o pregador da 'democracia americana ou morte' vai passar. Ou seja: o cara vai sair daqui falando que São Paulo é uma cidade sem trânsito e sem miséria, linda linda... E isso pq ele veio aprovar programas de ajuda. Eu suponho que ele vai desembolsar bem menos do que poderia caso visse a realidade.
Daí questiono se só um país subalterno e ignorante como o nosso faz esse tipo de teatrinho ou se isso é uma ordem geral à visita do vesguinho. Se for assim, o Bush não conhece realidades! Ele passeia em ruas sem trânsito, sem faveletas, sem violência. Toma sempre a água Perrier que manda trazer e só precisa gritar 'save the american people!'. A vida dele é um roteiro no pior estilo Zorra Total, que usa sempre a mesma piada e só muda a cor da (pouca) roupa da fulana que mostra a bunda. É sempre a chegada triunfal, a escolta cinematográfica, a água Perrier inseparável, as visitas sociais, as mesmas pregações acaloradas que nunca mudam e as mesmas manifestações públicas vazias de verdade. A única coisa que muda é o cenário. O cenário de hoje é a Paulista recheada de integrantes do PSTU gritando palavras de ordem em português: 'FORA, BUSH!'
E tem gente que perde mesmo tempo com isso, só prá gastar o que restou do dinheiro público em expediente policial e balas de borracha contra eles mesmos. Tanta gente, só para somar hipocrisia.

7.3.07

Desilusão

Meu irmão estava me dizendo noutro dia que se sente super culpado por andar de carro sabendo do efeito estufa e das mudanças climáticas do planeta. Para a cabecinha dele eu acho que é o tipo de pensamento completamente dispensável.
Mas daí eu me lembro o quanto sofro quando penso na efemeridade das coisas. E cá estou, deprimida again, por concluir o óbvio: tudo acaba. Humpf.

4.3.07

29

Nasci há 29 anos. A primeira imagem que tenho em mente é de meu pai segurando minhas mãos me ensinando a dar os primeiros passos. Viagem ou não, é uma imagem forte. Lembro que aos 4 minha mãe me acordou na manhã de 24 de dezembro avisando que o papai Noel ia passar em casa à noite: esse é o primeiro Natal de que me recordo. Ainda pequeninha eu prendi o dedão na porta do quarto e doeu um monte, e minha unha desse dedo nunca mais foi a mesma. Uma outra vez, nesse mesmo quarto, fiquei de castigo e desarrumei tudo para demonstrar minha insatisfação com aquele corretivo que me aplicaram. Lembro do bolo de aniversário em forma de tronco de árvore e aquele da casa da Moranguinho. Eu colecionava papéis de carta e os trocava, mas o destino deles era o meu futuro namorado, que nunca recebeu nenhum daqueles papéis pois eu tinha um apego fora do normal com eles. Fui fã de Menudos e Dominó. Tinha pavor em dar meu primeiro beijo. Sofri um trauma com a mudança de casa em 1989, e ainda mais com a mudança de escola, pois deixava para trás os meus amigos e meu primeiro amor. Na nova escola aprendi a pensar em mocinhos com mais frequência e ouvir trilhas sonoras para um amor desencontrado. Foi lá também que aprendi a andar de ônibus. Era popular e jogava mal e porcamente o voleibol. Em compensação eu dançava como ninguém. Dei meu primeiro beijo no meu segundo amor, aos 12 anos de idade. Aos 13 mudei de escola e conheci amigos que são presentes em minha vida até hoje. Fiquei fanática por Information Society quando me apaixonei de verdade pela terceira vez na vida, engatando um namorico de 5 anos que moldou uma série de coisas em mim: me transformou em alguém pensativa e de alma envelhecida. Aos 15 eu arranjei o meu primeiro emprego e adquiri responsabilidade, ao mesmo tempo que fazia agenda e descobria meus dons. Foi nessa época que Roxette me fazia chorar, mas já ouvia Smiths e achava o máximo. Aos 16 eu descobri que Deus existia e minha mente começou a se abrir para a vida. Aos 17 eu sofri de depressão por motivos bem tristes, e aos 18 continuei mergulhada nisso por um bom tempo, renascendo com o fim do namorico. Tive um amigo importante que me ajudou a chorar nesse tempo e me levou para conhecer pessoas e diversões, mas foi uma época em que me senti perdida. Entrei na faculdade em 1996. Passei 5 anos nulos indo à graduação. Nulos de vida. Virei workaholic nesse meio tempo. Meu irmão mais velho sofreu um acidente de carro que mudou as nossas vidas em 2001, véspera de Natal. Meu namorado foi morar no sul do país. Meu pai foi embora de casa. Passei a ser o homem da casa e amadureci ’50 anos em 5 meses’. Abri um escritório com uma das minhas melhores amigas e saí da casa de minha família aos 27 anos. Aos 28 eu mergulhei em mim e tomei decisões de gente grande. Nesse período uma pessoa me perguntou:
- Quem é a Cátia???
E aos 29 eu ainda não sei responder bem a essa pergunta. Só sei que nasci na época e no local errados. Que sou dada à melancolia. Que tenho um gênio forte. Que gosto de bolinhos de chuva. Que gosto de me molhar na garoa. Que adoro o céu de outono. Que cultuo o hábito de acordar às madrugadas. Que amo ler. Que não como fritura sem torcer o nariz. Que venero música. Que sou viciada em café. Que morro por pessoas. Que possuo mais saias rodadas que calças. Que batalho além do normal. Que trabalho mais além ainda. Que tenho medos pertinentes. Que adivinho o sexo dos bebês. Que cozinho como Amélia. Que tenho fé em Deus. Que me acho cheia de imperfeições. Que sonho em fazer flamenco, teatro, gastronomia e filosofia. Que cresci como patinho feio. Que adoro o silêncio. Que sou polida ao extremo. Que condeno injustiça. Que escrevo por necessidade. Que tenho sede de cultura. Que adoro os presentes menos sofisticados e mais simbólicos. Que prefiro doces de compota à tortas holandesas e afins (mas deixe o brigadeiro fora disso). Que contemplo borboletas. Que não durmo sem banho. Que abomino machucar os outros. Que me derreto por fazer alguém que amo sorrir.
O essencial, no entanto, ainda está escondidinho.
Que será dos 30?

2.3.07

Patetices

Na pré escola o menininho mais chato da turma xingou Marina de boba e grudou chiclete em seu cabelo. Ele era perdidamente apaixonado por ela.


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Logo após deixar pichado em frente à casa a poesia de ambos, derramou pétalas da sua flor preferida na entrada do seu escritório e pagou ao tio do 'caminhão da cândida, da super cândida' para que colocasse a música dos dois no megafone quando estivesse passando por sua rua. Então ela sentiu saudades e resolveu mandar um email:
"Oi, tudo bem?
Queria dizer que você é importante para mim e que se precisar de qualquer coisa estou aqui...
Sinto saudades - Marina"
10 minutos depois veio a resposta:
- Marina, sua vagabunda! Você prometeu que seria minha prá sempre! Você me usou, você é decepcionante!!! Te odeio, viu Marina?
E ela pensou, pela enésima vez: 'sim, eu sou patética...'

17.2.07

Brilho eterno de uma mente sem lembranças

Sexta-feira de carnaval, quase meia noite, e estou aqui escrevendo. Mas esse não é qualquer assunto. Acabo de assistir ‘Brilho eterno de uma mente sem lembranças’, indicação de Verena que resolvi ir atrás tardiamente. Melhor assim, ele tem tudo a ver com meu momento: hoje é carnaval, e entro no ritual de reflexões que marca essa época em mim nos últimos anos. Nietzsche está lá. Korgis e a maior filosofia que me ronda nos últimos tempos também.

Estou lendo ‘Além do Bem e do Mal’ e a citação é daquelas que martelou na cabeça quando li. Nada demais, quase tudo martela na minha cabeça quando leio, mas gosto quando algo que assisto, leio, ouço aparece em outra obra que estou assistindo, lendo e ouvindo. O mesmo com acontece com Korgis, que me lembram muito algumas pessoas que amo e estão distantes, e tenho escutado exaustivamente. E as duas melhores no mesmo filme? Sem comentários, isso já bastaria para marcar a noite. Mas daí a tratar da (minha) maior filosofia dos últimos tempos? Aplausos para o filme que tem Jim Carrey maravilhoso (eu sei que não se aplica tão bem o nome dele à ‘drama’ nem ‘maravilhoso’, mas isso faz com que o filme seja mais surpreendente) junto à Kate Winslet como protagonistas.

Vamos à filosofia, que partiu do diálogo:
- Acho o seu nome mágico.
- É isso, Joel. Daqui a pouco vai acabar.
- É, eu sei.
- E o que podemos fazer?
- Enjoy! (não admito traduzir ‘enjoy’)

Aviso aos navegantes: Viver não é preciso! A vida é um acumulado de incertezas que nós fingimos não enxergarmos para conseguirmos poder de ação, pois somos covardes numa série de quesitos. A fonte de todo sofrimento é a constatação da vitória do que negamos para nós mesmos desde o início de qualquer história. Você não tem como garantir as pessoas que ama eternamente ao teu redor. Ou a vida, ou a morte, podem tirar isso de você a qualquer momento. Não se frustre por deixar de constatar o óbvio logo no início.

É isso: ENJOY!

O que dá a você alguma certeza de futuro? O que dá a certeza que sua saúde é infalível, que sua empresa não vai quebrar, que seu doce preferido não vai ser revelado como o vilão mais recheado de gorduras trans? Que o seu maior amor estará vivo daqui 50 anos ou, pior, vai te querer nos próximos 50 anos? Que seus filhos vão partir depois de você e você pode deixar para dizer que os ama amanhã? Que o ano que vem terá estações bem definidas e você poderá programar sua viagem dos sonhos? Que na véspera da competição você não quebrará a falangeta? Já parou para pensar que ninguém te pertence? Que seus planos são apenas planos? Que sua vida é frágil? Não deixe de agir. ‘E se isso, e se aquilo? Se? SE?’ Os ‘mas’ e os ‘se’s vão limar quase todas as suas oportunidades.

Há certeza (não, não há!) que algo lhe trará sofrimento? Hum... E??? Se o sofrimento não for por si a paga da sua escolha, ele trará crescimento, vivência, maturidade. Há algo que pague isso?

O que fazer? ENJOY! Viva, de verdade...

E então, na seqüência, dentro da casa que não lhes pertence (como tudo em nossa vida), ele diz:
- Eu queria ter ficado. E agora que eu queria ter ficado, eu também queria ter feito um monte de coisas. Queria sim.
- Eu queria que tivesse ficado.
- Eu também, mas saí. Fui embora.
(...)
- Estava com medo? – ela diz
- Sim.
- Por quê?
- Pensei que soubesse que eu era assim.
(...)
- E se você ficasse, dessa vez? Volte e faça uma despedida pelo menos. Vamos fingir que tivemos uma.
E olhando nos olhos dele, ela diz sorrindo:
- Goodbye, Joel.
- Eu te amo.

Depois disso eu quis voltar a várias situações na minha vida e fazer as coisas novamente, assim como gostaria de ter feito. ‘Queria sim’. Mas e daí? Eu sou a somatória de todas as coisas boas e ruins pelas quais passei. Olhar para trás, só se for para suspirar e aplaudir, independente do fim de cada história.

Assista. Se já assistiu, reprise.

Don’t look back!

‘Enjoy!’

Everybody’s got to learn sometime...

7.2.07

Filhos

Eu realmente não quero ter filhos. Torço fortemente para que isso mude um dia, mas a idéia, hoje, me apavora. E todo mundo questiona isso. Afinal, como EU, a mãe do mundo, posso não querer filhos?
Nada contra crianças. Amo minhas sobrinhas como amo minha própria vida. Mas ter um filho exige coisas de uma pessoa que acho que nunca estarei preparada para oferecer.
Ter um filho pede desprendimento e doação extremos.
Para se ter um filho você precisa ter estômago para cuidar do machucado e disposição para passar as madrugadas ao lado dele na convalescência.
É preciso engolir o ciúme diante da primeira namorada, estar pronta para ser avó antes do tempo e saber apoiá-lo se isso acontecer.
É preciso ser incentivadora para os estudos do vestibular e as defesas de teses da faculdade e da pós, além de conseguir receber com um sorriso a notícia de que vai morar fora de casa, talvez do país.
Saber ser fria para dar uma bronca. Saber ser força numa possível depressão. Saber ter força se ele partir antes de mim.
Para ter um filho preciso aprender, antes, ser guerreira, psicóloga, matemática, professora, médica e colo. Eu realmente não sei se tenho vida prá aprender tanto.

Daí alguns desvairados saem arrastando uma criança de 6 anos pelas ruas e eu concluo que não consigo nem sonhar com a possibilidade de ter um filho MESMO!

31.1.07

Querido Diário

Era um diário dos sonhos melhorado. As páginas em branco iam sendo escritas com canetas multicoloridas ao lado de recortes bem escolhidos. Planos, esperanças e descobertas. Coisas que começaram a se desenvolver naquelas páginas, onde era possível acompanhar sagas inteiras. Às vezes algo normal, às vezes uma pequena desilusão. E o tempo, e a vida, e as dores se mostravam. E a mulher com sorriso de menina foi amarelando como as páginas daquele diário.
Num outro canto da cidade outro diário amarelava. Algumas páginas caíam, mas seu escritor não se importava: ele já não se lembrava mais nada daquelas letras que havia passado madrugadas despejando em folhas ainda brancas.

26.1.07

Cansaço

Hoje saí disfarçada de população: apática, indiferente.
Pois tem hora que cansa viver e buscar caminhos.
Já que tudo pode ser falacioso, tem hora que buscar viver não faz sentido.
Então saí, disfarçada de população.