28.11.10

Quem me dera ao menos uma vez

... que o mais simples fosse visto como o mais importante.

(Índios - Legião Urbana)

26.10.10

A vida é mesmo assim...

Quando era pequena tinha muita dificuldade em descrever minha família. As demais crianças diziam que suas famílias tinham 3, 4, 5 pessoas. A minha tinha 17. Até que me corrigiam dizendo que 'família' eram meus pais e irmãos. Éramos 5 até então. Os outros 12 eram meus avós, tios e primos até então nascidos, todos por parte de mãe. Mas não fazia sentido não contá-los em minha família, pois era assim que os sentia.

Meus avós maternos tiveram 7 filhos. Um deles morreu com 3 meses de vida, o outro com 3 anos. Não sei o nome deles nem o motivo da morte, pois ninguém fala nisso. Para minha avó ela tem 5 filhos, e pronto. O meu tio mais velho teve uma menina 1 ano depois que nasci, e nós crescemos juntas. Ele tentou outros, mas minha tia não conseguiu chegar ao final de nenhuma outra gravidez. Então minha prima e eu éramos como irmãs. Estávamos juntas sempre e somos confidentes até hoje. Ela se chama Aline. E meu tio me chama de riqueza, princesa ou moleca. Fofo.

Meu tio mais velho, o pai da Aline, teve muito dinheiro. Ele era o exemplo de sucesso que tínhamos e era quem provia tudo a quem precisasse, principalmente aos meus avós. Meus pais já precisaram de ajuda, e ele nos estendeu a mão mais de uma vez. O problema é que ele estendeu demais a mão para todos, e um dia perdeu tudo, inclusive coisas que não eram dele. Até o dia que não teve onde morar e foram meus pais que estenderam a mão para que eles morassem em casa. Pouco tempo depois disso meu tio conseguiu alugar uma casa e em seguida minha prima engravidou e nasceu a Maytê, que é minha afilhada. E a mocinha recém chegada trouxe consigo toda a responsabilidade à minha prima, que cresceu à força, mas com toda a dignidade do mundo.

Desde então meu tio tenta se reestabelecer. No último final de ano ele esteve em casa para jantar comigo e ele me disse que já teve tudo o que quis, e que ia conseguir de novo. Que ele ia reconquistar tudo e encher todo mundo de orgulho. Bem, nós temos orgulho. É bem verdade que já tivemos motivos para orgulho zero vindo dele, mas isso passa. O bom orgulho fica.

Meu tio passou os últimos tempos me dizendo que nós ganharíamos muito dinheiro se trabalhássemos juntos. E eu, que não quero dinheiro e só quero amar, dizia para ele que o tempo diria. No fundo eu ajudo meus tios pelo simples desejo de ajudar mesmo, pois se não fossem da minha família eu certamente não faria certos trabalhos que não gosto e não pagam bem. Em abril meu tio me ligou para pedir um trabalhinho simples que se tornou longo e chato. E para não ferir o orgulho dele pedi um valor simbólico, pois ele não queria favor.

Ele apareceu em casa vários domingos pela manhã para resolver questões do trabalho. Sempre me dizendo que estávamos aprendendo, e que nos próximos seria tudo mais fácil e ganharíamos muito dinheiro. Eu sorrio nessas ocasiões, pois eu adoro ajudar mas não tenho pretensão alguma com isso. Então não contrario, não digo 'estou fazendo apenas para te ajudar', pois gosto que as pessoas de minha família tenham metas e gosto de saber que pensam em partilhar sucessos comigo. Daí sorrio, e só. O tempo se encarrega do sim ou do não.

Então meu tio levou o projeto para aprovação e me ligou diariamente até a que fosse aprovado, dizendo que me pagaria assim que possível. A cada telefonema ele dizia 'Riqueza, eu vou te pagar dia tal'. E eu dizia para que não se preocupasse, que eu queria mesmo era aprovar o trabalho. Eu não estava nem aí para o dinheiro, comemorei mesmo foi quando aprovaram o projeto dele e o vi bem sucedido e cheio de promessas de um novo cliente. Esperei muitas vezes durante a vida em ganhar na loteria para ajudá-lo, mas enfim eu encontrava uma forma mais palpável de fazer isso e me senti realizada, como a quem ajuda um pai (que é um papel que ele desempenhou melhor que o meu próprio pai nos últimos tempos). Dia 11 pela manhã meu tio me ligou. Ele me disse: 'Riqueza, me passe o número da sua conta para eu depositar o seu dinheiro. Olha, é uma parte, depois te dou mais'. Eu sorri, mais uma vez, e respondi que não precisava nada a mais. Mas esse é o jeito dele.

Ultimamente eu tenho pânico de atender ao telefone. Há vezes que deixo tocar, respiro fundo e retorno a ligação depois. Não sei explicar, mas tenho medo, é estranho. Então no feriado do dia 12 o telefone tocou, eu deixei tocar. Depois vi que era minha mãe e retornei. Meu tio tinha tido um enfarto muito sério e estava em cirurgia. Corri para o hospital e lá fizemos plantão por dias. A cirurgia correu bem mas meu tio ficou sedado. Um dia subi e disse para ele que se eu soubesse que depositar o meu dinheiro lhe causaria tanto mal estar eu não tinha permitido. Uma lágrima escorreu no rosto dele, não sei se voluntariamente ou não, mas achei graça.

Alguns dias depois não consegui sair do trabalho a tempo de visitá-lo e comecei a passar muito mal. MUITO. Um mal estar que nunca tive na vida. Então liguei pra minha prima para avisá-la que iria no dia seguinte. Ela estava muito feliz, pois ele havia dado um salto na recuperação. Desligamos felizes e em 5 minutos ela me ligou de novo. Não atendi. Liguei em seguida e ela me disse que meu tio havia falecido.

Poucos entendem o meu choro por um tio, pois poucos têm o privilégio de ter uma família como a minha. Doeu muito pensar que ele não conseguiu reconquistar tudo, pois mais que eu duvidasse disso. No fundo ele teve tudo o que importa, mas isso não foi o suficiente para que enxergasse nesse mundo que ele era uma pessoa feliz. Os últimos tempos fizeram-no aparentar uma pessoa triste e muito mais velha do que realmente era. Um fato recente o envelheceu tanto que levei um susto quando o vi num espaço de 15 dias.

Dói muito. Não deve ser a dor da minha prima, da minha tia ou da minha avó. Mas dói pois eu sei que eu, meus irmãos e meus primos éramos filhos para ele. Ele tinha um orgulho de cada um... que só vendo para acreditar. E um bom humor. E disposição para recomeçar a cada dia. E desprendimento para ajudar os outros. E presença. E tantas coisas que nem sei listar.

Eu tenho uma preocupação exagerada com as palavras. Certa vez alguém me disse que a gente deve usar as palavras como se não houvesse amanhã, pois nunca sabemos quando a vida nos pregará uma peça e não seria bom que nossas últimas palavras para alguém fossem palavras de desamor. E no telefonema do dia 11, depois de pegar o número da minha conta, meu tio me disse 'olha, semana que vem te dou mais um pouco, você trabalhou muito. Te amo, princesa.' E eu disse que também o amava. E isso dói, mas me deixa feliz pois o ponto final da minha história com ele terminou da forma como sempre foi: com amor. Que, ao final, é a única coisa que importa.

25.6.10

Cadernos

Meus pais sempre guardaram bagunças. O salão de festas da casa da minha mãe é entulhado de velharias que não servem para absolutamente nada, a não ser que durem ainda uns 100 anos e sejam vendidos para museus do futuro para render algum dinheiro aos meus bisnetos. E eu odeio isso.

Moro num micro apartamento, então não consigo pensar na possibilidade de ficar guardando coisinhas. E não tenho nem de longe essa mania das nossas tias de guardar potinhos de vidro, de sorvete e afins: vai tudo para a reciclagem.

Mas devo confessar que meus cadernos não entraram nessa onda de desapego. Eu não consigo me desfazer deles. Certa vez havia tantos cadernos do colégio que, num surto, joguei tudo fora. Fiquei mal por dias. E ainda hoje guardo mágoa de uma professora de biologia que pediu meu caderno emprestado para montar suas aulas e nunca mais o devolveu.

E no trabalho eu também uso cadernos. Esses não foram embora desde que iniciei a carreira. São 10 anos de anotações que, vira e mexe, eu folheio para me lembrar. Me lembro de coisas importantes que devem permanecer na memória de um arquiteto, como o tamanho máximo de uma folha de vidro ou a dimensão de alguns equipamentos para montar uma loja de café. Geralmente são programações com meus horários absurdos (folha 1000 das 3 às 4:30 da madrugada, folha 4100 das 4:30 às 6:00 e fechamento dos desenhos das 6:00 às 7:00) ou a sequência para finalizar desenhos de entrega: 'cotar detalhes, hachurar pedras, inserir cotas de nível, ajustar viewports no layout'. Há também atas de reunião e uns desenhos que vão dos úteis (como esboços de detalhes) aos bobos para horas de tédio, como um pé, uma caricatura de uma amiga, um camelo que ilustrava que eu estava 'camelando' e um astronauta olhando o planeta Terra beeeeeem de longe, que provavelmente desenhei ouvindo 'Space Oddity' do Bowie.

Mas o melhor mesmo é me lembrar dos momentos que fiz as anotações. Tem o dia da reunião com a moça que me terceirizava trabalhos de um grande escritório, me dizendo o que eu devia entregar no dia seguinte, no outro e no outro, e eu me lembro da sensação exata de cansaço e da aflição pelos dias que haveriam de vir. Tem o dia que minha letra está toda torta pois cheguei à reunião atrasadíssima, correndo e tremendo. Tem a padronização que o tal escritório me pediu para montar para eles, e o treinamento que dei após passar mal a noite inteira. Tem o dia que eu estava apaixonada, tem o dia que eu estava morrendo de raiva, o dia em que eu negociava o Pé-de-Pano com a financeira e o dia que eu estava sem dormir havia muitas horas. Há muitos recados de queridos e desenhos de projetos do meu bule, do meu saleiro, do meu quarto e do bebê da Fer com 3 meses de gestação. Dá para montar um museu inteiro de memórias.

Não. Não dá pra jogar fora.


Space Oddity?

17.6.10

Heart to Tell

Há dias em que uma simples música me faz pensar que a vida vale a pena.

31.3.10

Olga

Hum... Músicas com nomes de pessoas costumam ser boas. Talvez porque a mensagem vá mesmo para um sujeito. E tirando boa parte das composições nacionais, que incluem coisas nada fofas como Katia Flávia (belzebu provocante = trauma) e Silvia (a piranha), aí estão Layla, Julia, Kayleigh, Andrea Doria e Iolanda para não me deixar mentir.
Ganhei uma nova para o repertório.



Via Audio - Olga

30.3.10

Ouvi dizer do amigo de um amigo meu...

Esse amigo de um amigo meu resolveu que merecia aumento. A empresa que trabalhava gostava muito de seu trabalho, e ele adorava a empresa em que trabalhava. Mas julgou que merecia um salário maior e resolveu jogar um verde.

Chegou pro chefe e, fazendo drama, disse que o mercado oferecia salário melhor, que ele tinha propostas e que infelizmente ele não poderia continuar ganhando aquilo, já esperando a réplica com um valor calculado na ponta da língua. O chefe, super entristecido, pensou que não podia dar o aumento, que honestamente o funcionário até merecia, e infelizmente seria melhor que este se lançasse ao mercado e buscasse sua realização pessoal. Disse que sentia muito e desejou conformado toda a felicidade e sucesso em seu novo caminho.

Well, o mercado não era lá essas coisas: os salários oferecidos eram geralmente inferiores ao que tinha, e ele não gostou de nenhuma vaga disponível de tantas que achou promissoras.

Ficou desempregado.

29.3.10

Postura

Dor nas costas. Baita. Dói muito, e eu não arrumo a postura pois demoro a perceber que nesse exato momento estou super curvada à frente, numa tentativa inconsciente de me aninhar em mim mesma e me proteger dos meus próprios pensamentos.

4.3.10

"Desfrute hoje: é mais tarde do que supõe."
Provérbio chinês

3.3.10

Her morning elegance

Mais pelo clipe que pela música.

8.2.10

+ Juliana Kehl

Essa moça não vai longe... ela já está longe!

Merecidamente: Veja Música

Oração

O inverno de cada dia nos dai hoje e livrai-nos do calor, amém!

2.2.10

Famosidade

Na sequência dos meus amigos famosos, temos isso.
Gostaria de ressaltar que estou muito chateada com a Lê, que nem me mandou um beijo nessa entrevista!

31.1.10

Juliana Kehl

Houve tempo em que eu só ouvia música nacional. Era gosto mesmo, não era frescura. Havia uma rádio que tocava umas músicas nacionais supimpas e alimentava o gosto, mas a rádio ficou repetititva e naturalmente o meu repertório cotidiano voltou a ser globalizado. Pessoalmente eu devo dizer que a 'nova MPB' não é algo que me atraia muito. Coisa ou outra agrada, mas enjoa. Ao contrário do que costumo me apaixonar, que nem sempre me desperta interesse no primeiro momento, mas vira vício em seguida. Mas música, a gente sabe, é como uma grande loja de departamentos. Se você olha tudo-junto-misturado dificilmente vai ver algo que goste. Mas daí você presta atenção nas particularidades e algo salta aos olhos. É disso que vim falar.

Ano passado eu e um grupo de amigos fomos ao casamento de um amigo em comum no litoral e nos hospedamos todos juntos numa casa. Uma mocinha miúda e aparentemente muito delicada passou a manhã bordando um cinturão e se voluntariou para preparar o almoço de um batalhão de pessoas. Pensei comigo 'hum, prendada! Das minhas!' Mas daí ela começou a preparar o almoço de 15 pessoas e cantarolar despropositadamente, e vi que não sou uma das dela: a moça CANTA. Com a afinação que brota de uma segurança que só gente grande, de espírito, tem. E então é que juntei todas as informações para compor a imagem da Juliana Kehl: uma moça linda, prendada, talentosa, inteligente, marcante. Que estava construindo uma carreira em meio à toda a dificuldade que sabemos que esse meio oferece num país como o nosso.

No ano passado ela lançou seu primeiro CD e desde então está fazendo um agradável barulho. Comentários positivos brotam de todos os lados e não há como não ficar feliz com isso. Eu precisaria ser especialista em música para falar da Juliana como ela merece, só que infelizmente não entendo tanto além do que toca o espírito e nem tenho influência alguma em veículos de divulgação consistentes. Mas não há como não vir falar bem e dar a minha mínima contribuição: não é apenas pela pessoa, que gosto muito, mas pelo talento que realmente merece ser divulgado.

Para quem quiser ouvir e conhecer um pouco mais, aqui está o perfil da moça no MySpace.

Para quem quiser ler mais opiniões e ver que não sou uma simples puxa-saco, aqui vão alguns links só para começar:

Estadão- Jornal da Tarde
Veja Recomenda
Conexão Vivo
Entrevista para o Radar Cultura
Entrevista para a Web Radio TV CCSP

Sucesso para a querida!

20.1.10

Presentinho de Deus*

Há fatos na vida que fazem com que todas as coisas que nos afligem nos dias pareçam banais.

Desde a última segunda-feira estou pisando em ovos com o fato que mudou a vida de uma das pessoas mais presentes na minha vida de uma forma especialmente linda: a Dora chegou ao mundo num parto natural, em casa (por opção, pois sei que vão perguntar), mansinha, derretendo o coração de todo mundo e virando mascote de uma turma que amo. Já não bastasse ser de minha amiga de longa data, fiel escudeira, dos meus afilhados queridos e o primeiro bebê da tribo Tupi, ela ainda tinha que passar na fila da fofura 2 milhões de vezes para que nos deixasse ainda mais encantados.

Não faço outra coisa senão pensar nisso de 5 em 5 minutos e sorrir, e agradecer aos céus pois o mundo ainda tem coisas muito, muito belas. Ela não podia ter outro nome!

Parabéns à Xuxu e ao Tom pela pequena!

* Dora: do grego, significa dádiva, presente.

7.1.10

Bye bye, so long, farewell*

Os últimos tempos não estão sendo fáceis. Eu sinto que dei a volta ao mundo para parar no mesmo lugar depois de descobrir que entre tantas coisas que achei não conseguir conviver, há algumas que até consigo em prol de outras. Mas teimosa que sou, precisei dar a volta para chegar no mesmo lugar e dizer 'ok, o caminho parece ser por aqui'.

Tem um lado bom. Estou crescida em muitos sentidos, que farão bem à mim e aos que me acompanharão na nova trilha. Mas a dureza de uma situação como essas é o sentimento de fracasso que fica depois de investir tanta energia em algo que outras pessoas fizeram questão de ver desmoronar, passivamente. E meu medo é imaginar que o desânimo desse tipo de situação mude em mim qualidades que julgo me constituirem: energia, alegria, dedicação. Há momentos em que simplesmente me dá vontade de me jogar na maré, como vejo tantos fazerem, e ver onde isso me leva, já que o que dispendi não me fez ir mais longe que os demais. E isso é tão desmotivador! Espero que o que virá depois não pague as consequências do desânimo que se instaurou por aqui.

Mas de toda viagem que se retorna ficam as boas lembranças. As más viram boas histórias, e há também os bons amigos que fazemos pelo caminho, cada um com sua riqueza particular que sempre é soma dentro dos nossos mundinhos limitados.

Eu não sou dessas que faz mil promessas de ano novo ou de aniversário, pois acho que todo dia é um bom dia para novos propósitos, e deixá-los para agrupar tudo no início de um ciclo qualquer nos faz pessoas atrasadas em nossa própria história. Mas coincidentemente muito aconteceu no final do ano e está para acontecer no início deste. Boa parte não é ótima, mas algumas são boas. Outras são indefinidas, mas eu realmente pretendo gastar a energia que me resta para tentar fazer brotar novas energias, muito positivas. E espero profundamente que pessoas queridas possam partilhar comigo disso, nem que seja apenas dos sorrisos já colhidos, mas partilhar... Pois não há nada pior do que a sensação de querer gritar e imaginar que o único que te ouve é o nada. Ou de falar sozinho, mesmo quando se fala com alguém.

O que passou, passou. Se ainda não está morto e enterrado, no velório eu não vou estar.

*O título desse post serve para pessoas queridas não esquecerem de mim e de meu talento com as 'pick ups' nas tardes de expediente que não teremos mais.