25.8.07

Conclusões literárias E balzaquianas

Dos romances mais recentes larguei no meio o sacal O código Da Vinci, fiquei um tanto frustrada com O caçador de pipas e me perguntando como ninguém comenta A Sombra do Vento. Esse tipo de situação me faz duvidar muito de best sellers. Então tenho procurado os clássicos, pois a chance de errar é menor, de forma que tenho obtido finais felizes.
Às vésperas do meu 29º aniversário eu entrei na crise dos três.ponto.zero. Então decidi que leria Balzac para me preparar ao próximo aniversário e tentar fazer com que o caminho do Calvário tivesse algum embasamento teórico. Após inúmeras tentativas consegui encontrar num sebo o Mulher de trinta anos.
Balzac me pareceu um paradoxo: aquele que de forma tão descritiva te faz compor um cenário onde se pode acertar a exata disposição de vasos e cores das suas espécies num parque, ou que te faz enxergar exatamente a composição da toilette de uma mulher desde o laço da cabeça até a renda que compõe sua lingerie pela descrição do seu caminhar, é o mesmo que te deixa perplexa por largar no plano das reticências o final de capítulos construídos numa quantidade razoável de páginas em meio a cenas de tirar o fôlego. Isso pode ser uma qualidade literária, mas eu realmente gostaria de saber o que se passou com uma série de personagens. Sou uma mulher de 30 anos, ora!
Brincadeiras à parte, eu já não lia algo realista há um tempo considerável e foi muito bom ter contato novamente com algo que compõe uma sociedade longínqua mas que retrata tão bem a atualidade. O romance é ótimo e em algumas horas nos prende como no melhor dos filmes de suspense. Valeria simplesmente pela história. Mas para mim o que faz dessa uma grande obra vai além disso: o caráter descritivo me desagrada muito quando dispensa páginas e mais páginas para compor cenários, e no entanto me agrada além da conta quando constrói personagens. E Balzac é descritivo para ambos, e da mesma forma que me deixou entediada falando de Saint Lange me conquistou definitivamente quando mostra um olhar cuidadoso que todo homem devia desenvolver, registrando pérolas como essa:

"Uma mulher de trinta anos possui atrativos irresistíveis para um rapaz. (...) De fato, uma jovem tem demasiadas ilusões, demasiada inexperiência, e o sexo é bastante cúmplice do amor para que um homem possa sentir-se lisonjeado, enquanto uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem que fazer. Uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas às do amor; a outra obedece um sentimento consciencioso. Uma cede, a outra escolhe. Essa escolha já não é por si uma imensa lisonja? Dotada de um saber quase sempre caramente pago por desgosto, dando-se, a mulher experiente parece dar mais que a si própria; enquanto a jovem, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode comparar nem apreciar, ela aceita o amor e estuda-o. Uma instrui-nos, aconselha-nos numa idade em que se gosta de ser guiado, em que a obediência é um prazer. A outra tudo quer saber, e, onde esta se mostra apenas ingênua, mostra-se a outra profundamente terna. Aquela apresenta-nos um só triunfo, esta obriga-nos a combates perpétuos. A primeira só tem lágrimas e prazeres, a segunda, voluptuosidades e remorsos. Para que uma jovem seja a amante, deve estar demasiado corrompida, e então a abandonamos com horror; enquanto uma mulher possui mil meios de conservar ao mesmo tempo o poder e a dignidade. Uma, extremamente submissa, oferece-nos tristes garantias de repouso; a outra perde demasiado para não pedir ao amor as suas mil metamorfoses. Uma desonra-se apenas a si; a outra mata em proveito do amante uma família inteira. A jovem tem apenas uma vaidade e crê ter dito tudo, despindo o vestido; porém a mulher tem-nas em grande número e oculta-se sob mil véus; enfim, ela acaricia todas as vaidades, e a noviça apenas lisonjeia uma. (...) Além de todas as vantagens da sua posição, a mulher de trinta anos pode tornar-se jovem, representar todos os papéis, ser pudica e embelezar-se até com a própria desgraça. Entre ambas, encontra-se a diferença incomensurável do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza."

Segundo Balzac, os 30 anos são a idade em que a mulher é bela pela maturidade mais que pela aparência, que em nada perde para a de uma mocinha de 20 anos. E eu me sinto exatamente assim: uma mulher que chega ao ponto de transição do capricho ao equilíbrio, do impulsivo ao reflexivo. Essa obra me faz entender que não era apenas uma tola aos 20 anos e que infelizmente abri os olhos para a vida tardiamente, mas uma mulher comum que atendeu à cronologia natural de desenvolvimento da alma feminina e se sente feliz com isso.
Balzac sabia das coisas e é prova viva que uma estatura pífia e uma aparência nada atraente jamais serão empecilho para a conquista de qualquer mulher. Eu sempre achei que o ponto G está no talento do homem em olhar a mulher: se quiser que ela a deseje ardentemente, repare no decote, na cor das unhas, na silhueta do colo e no perfume liberado pelos estrógenos. Se reparar e a fizer se sentir linda e única, você conseguirá o que quiser da mais desejada entre mulheres. Se achar difícil, ler esse livro pode ser um bom treino.
Mulher de trinta anos é um romance que me faz respirar em meio a leituras filosóficas mais complexas. Consegui respirar, consegui suspirar. Feliz escolha.

22.8.07

Mês do cachorro louco

Era para eu estar feliz com os acontecimentos dessa semana, mas não consigo. Estou com a pior TPM de todos os tempos. É bastante comum que eu me irrite com facilidade, seja intolerante, ou chore, ou ria sem motivos nessa época. Mas fisicamente é uma dorzinha aqui ou acolá. Nesses dias, no entanto, estou insuportavelmente cansada e dolorida. Posso dormir 3 ou 12 horas que o resultado é o mesmo: me sinto pesando o triplo do que peso, e a sensação de que há uma bigorna sobre minha cabeça é constante. Me lembrem de nascer homem da próxima vez!

19.8.07

A assassina

Coisas que gosto da vida doméstica são sempre meio que artesanais. Adoro bordar, adoro cozinhar, adoro arrumar a disposição das coisas. Adoro plantinhas também. O único problema é que, como diria meu pai, eu não tenho 'mão' pra cuidar de plantas quando o assunto não é arquitetura. Então assassinei todas as minhas plantas, cada uma de uma forma: uma de sede, outra afogada, outra sufocada, outra por excesso de vento.
Mas com a minha alma compadecida, resolvi tentar ressuscitar todo mundo. Podei, replantei adubei, coloquei gel para que elas não contem com minha falta de noção nas regas, reloquei tudo para que as que não gostem de vento fiquem dentro de casa, e as outras fora, e algumas perto do sol. Mas sinceramente estou com medo de fracassar, não vou admitir ser uma assassina. Em série, ainda por cima! Enfim, vamos ver se só técnica funciona. Se der certo, eu posto fotos de antes e depois!

7.8.07

Re-ti-cên-cia

Eu já ouvi muitas críticas aos meus escritos. O que não me incomoda muito, já que sempre tirei notas razoáveis em redação onde fui testada nesse sentido. Mas costumam dizer que uso muitas reticências, e que reticências só devem ser usadas quando o interlocutor subentende a citação. Algo do tipo 'para meio entendedor...'
Então para que essa chatice pare de uma vez por todas, aprendam: a reticência tem mesmo essa função, além de dar pausas em citações para encurtar o enunciado, podendo ser usada TAMBÉM como pausa de hesitação, suspense, omissão pessoal.
E eu, caros, sou uma pessoa reticente.

reticente
re.ti.cen.te
adj m+f (lat reticente) 1 Em que há reticência. 2 Que manifesta reticência; hesitante. s m+f 1 Pessoa que silencia o que devia ou podia dizer. 2 Pessoa reservada.


5.8.07

Miscelânea política

Durante a faculdade eu fazia um estágio onde ganhava R$200,00 que me garantiam o transporte e um hot-dog dia-sim-dia-não durante os estudos. Consegui me formar negociando minha dívida por muitos meses após a formatura, após anos de sufoco a cada matrícula que eu provavelmente não conseguiria fazer por meu histórico devedor no semestre anterior. E me desculpe, eu não faço cara de dó por isso, eu sou uma pessoa privilegiada que conseguiu estudar com muito sacrifício e se mata todos os dias para crescer e ser alguém na vida. PQP, Deus é um cara realmente bacana comigo!
Todos os meu colegas bolsistas da faculdade haviam estudado em colégios particulares e conseguiam almoçar diariamente após pegar o carrinho que o papai deu para chegar até o campus. A maior parte dos meus colegas apoiavam o MST e votavam no PT.
Eu desanimo BEM quando paro para pensar em política, em qualquer grau. Pois é fato que numa cultura como a nossa a coisa não tem muita solução. E eu sou um tanto pragmática com isso, considero causa perdida mesmo: um país que só honra reclamações da classe baixa, como se apenas os miseráveis tivessem o direito divino da manifestação pública, me desanima.
Daí que temos um governante de atuação centro- direita- pseudo- esquerdista com marketing populista, que explora de forma nojenta a falta de informação das camadas mais pobres da população, adotando a política de pão e circo contemporânea: as classes mais baixas se vendem por bolsa família e uma cesta básica, e então o presidente apresenta 48% de aprovação. Receitinha de pão-de-ló, coisa simples. 'Governo Lula: o governo que não dá o peixe, ensina a pescar'. Hein???
Enquanto isso a classe média, que tem um número razoável para militar por qualquer causa e possui um pouco mais de informação toma uma das duas posturas: ou ignora a situação e não faz nada (comportamento padrão) ou não se considera classe média, pois é claro, dá trabalho. A classe média é a classe mais indefinida que há. Algo tão autêntico como 'católico não praticante', é a classe média não operante, uma subclasse. Então pessoas com 3o grau, casa própria, ganhando bem mais que um salário mínimo adotam discursos de classe baixa pois já há movimentação suficiente para isso. E dizendo pertencer a ela não é preciso fazer nada também, com a vantagem de poder ficar tranqüilo por isso e ainda fazer piadinhas de muito mau gosto com os gatos pingados da classe a qual realmente pertencem que decidem fazer algo. É patético...

4.8.07

Red fingernails, Red Wine


'Dá-me vinho para apagar
o incêndio da minha tristeza.

Bebe e esquece que
o punho da tristeza breve te derrubará.

Vinho! Vinho em torrentes!
Que ele palpite em minha veias.

Que ele borbulhe em minha cabeça!'

(Omar Khayyan [claro!], em Rubaiyat)