11.12.09

Saudade




De uma pessoa. De uma amiga e companheira de trabalho que me ensinou o sentido mais pleno de 'equipe' que pude conhecer. Da viagem que fizemos juntas e me ajudou a ter um novo olhar sobre algo já bem conhecido, um olhar que não pensei ser possível.

Há coisas no processo das escolhas que dóem um pouquinho, por mais que saibamos que acontecem para melhor. Eu adoraria ter o poder de encaixar o que amo em algumas circunstâncias da vida, mas... O prazer da vida também brota do inusitado, então melhor que seja assim. O que é bom há de permanecer, ainda que de outra forma. E eu sei que há!

28.11.09

Receita para ganhar o dia

As últimas semanas têm sido as mais difíceis de um ano bem difícil. Há vezes que quero sair gritando, questionando sempre o motivo de não eliminar de vez algumas coisas da vida que me fazem mal, e a vida aponta caminhos e caminhos, mas meu atual estado psicológico não me ajuda a enxergar bem o que fazer. Meus queridos estão todos distantes e ocupados com a vida, e acabo engolindo boa parte de coisas que gostaria de colocar para fora. Não têm sido fácil.

Daí resolvo entrar no e-mail e me deparo com a seguinte mensagem:

De Maytê Portella
Para mim

Tia Catinha, estou no sexto livro do Herry Potter !!!
Um beijo da sua macaquinha !!!
Te amo !!!
28/11/2009


No aniversário da Maytê eu queria incentivá-la a ler, e por coincidência ela me pediu um livro do Harry Potter. Dei a coleção inteira, com medo dela não terminar de folhear nem a primeira parte da saga. E demorou um pouco para que ela pegasse o embalo, mas agora ela sempre me escreve quando começa um novo livro. E sempre me deixa num estado de euforia sem igual.

Tenho ressalvas em ter uma prole própria, mas se eu escolher mesmo passar a vida sem isso eu sei que sempre terei a minha pequenina me adulando. O que me faz querer mudar de idéia é ter essa sensação perfeita de amar um ser que inicialmente só havia me dado oi através de chutes na barriga da mãe, e agora fala comigo como uma mocinha, me conta dos namoradinhos, diz que quer ser arquiteta quando crescer e sempre diz que me ama com aqueles olhinhos brilhantes todas as vezes que me encontra. Ai, ai...

26.9.09

Green grass, blue eyes, grey sky


I choose no face to look at, choose no way

I just happen to be here, and it's ok

(London, London - Caetano Veloso)



Minha não tão planejada estada na terra da Rainha foi tão corrida, tão voltada ao trabalho, que não sei se tenho algo grandioso a acrescentar a vocês com o breve relato mas, claro, há sempre algo a dizer sobre a primeira vez que pisamos em algum lugar diferente.

Eu comecei a me dar conta do que estava acontecendo pouco antes da aterrissagem em Heathrow, quando a aeromoça simpática me sugeriu que abrisse minha janela para ter a visão de Londres que só a chegada de avião no assento de janela do lado direito da aeronave proporciona. Todos os meus murmúrios por ficar presa naquele aperto pelos dois franceses do meu lado evaporaram em poucos instantes: lindo, lindo. Podia ter demorado mais tempo para chegar ao chão. E eu podia estar com a máquina fotográfica na mão, mas infelizmente essa é uma imagem que vou ficar devendo.

E então chegamos. Minha sensação era a de estar em algum cenário, rodando uma película. Começando pela coisa surreal de pegar um táxi com o motorista do lado direito e ficar tonta com as mãos trocadas nas ruas. Levava sustos a todo momento quando via um carro próximo chegando pelo meu lado direito, ao invés do investigado lado esquerdo. Além do susto mor de ver uma pequena ao redor dos 10 anos de idade 'dirigindo'. Demorava a processar que estava onde estava...

Quando postei isso, ainda não imaginava o significado dessa foto. Eu tinha um sentimento de que aquilo era muito londrino, mas não imaginava que seria uma imagem tão forte. Quem viu a foto desse post, viu praticamente tudo. A paisagem construída em Londres é tão certinha que chega um momento em que passa a incomodar, pois as coisas parecem sem personalidade. Dá a impressão de que um dia implodiram tudo ao mesmo tempo para sair construindo igualzinho depois, ao gosto do rei. Quase utópico. É tudo geminado, é tudo tijolinho. Muda o ornamento, a altura, um pouco da largura das edificações, e só. Todas têm subsolo, todas têm a porta elevada da rua, todas têm as maçanetas no meio da folha ao invés do canto de abertura, o que é um baita contrasenso do ponto de vista da física, mas até pra isso eles precisavam ser certinhos e simétricos.

Posso assegurá-los de que todos os símbolos de Londres estão lá: os black cabs, os hidrantes, os ônibus de dois andares, as cabines telefônicas, o chá das cinco. Esse último, devo dizer, virou hábito por alguns dias. Os aqui caríssimos Twinnings custavam ridículos 0,69 pence (cerca de R$2,25) e me arrependo de não ter reservado um tempinho para comprar uma caixinha de cada sabor para trazer na mala. E vale dizer que um dos lugares mais incríveis por onde passamos foi uma casa de chá: cheia de acessórios, cheia de utensílios tão peculiares para os pic-nics (uma prática muito comum por lá), bolachinhas, louças, pratarias, e tudo o mais que essa cultura necessita para ser chamada de tradição. Estranho e lindo.

Andar em Londres é bem possível. A cidade é muito plana e, compensando o táxi não tão acessível para quem recebe o salário em reais, o metrô é estruturadíssimo. A nossa simplória experiência underground em São Paulo nos deixa com um sentimento de caipirice com aquela complexidade toda, mas logo se acostuma com as plataformas servidas por 4 linhas e a recalcular o itinerário quando a voz informativa onipresente te pega de surpresa dizendo que sua estação de baldeação está fechada. E, quando se vai embora, sente-se falta daquela voz dizendo 'mind the gap, please!' em todas as paradas do trem.

E tem o verde. O verde que sinto falta aqui. Há parques por todos os lados. Com esquilos fofíssimos, corvos assustadores, albatrozes e... POMBOS. Pigeons everywhere. Há também os patos e cisnes, e uma lenda que não consegui confirmar ser verdade de que todos os cisnes brancos pertencem à Rainha. Bem, que ela faça bom proveito! Fico com os esquilos simpáticos que vêm comer na sua mão e sobem no seu ombro.

Para não dizer que tudo foi apenas trabalho, tive alguns poucos momentos turísticos. Uma risível visita de injusta meia hora ao British Museum me fez perceber que os ingleses roubaram o mundo. Ao menos eles não cobram entrada, mas eu acho que os gregos, por exemplo, poderiam pedir uma comissão ao ingressar lá. No entanto, deve-se reconhecer o valor que deram à história e o cuidado com que organizaram, catalogaram e mantiveram toda aquela loucura. Apesar de nunca ter ido à Grécia (um dos meus maiores sonhos) vi muito de perto um pedaço do Parthenon. Talvez muito mais perto do que deveria para que aquilo fizesse algum sentido, e não é exatamente o que posso chamar de realização, mas tive lá meus 5 minutos de embasbacamento.

No meu dia de turista fizemos um trajeto que saiu pela Saint Paul's Cathedral, passando pelo Tate Modern, pela London eye, o Parlamento e o Big Ben, indo até o Palácio de Buckingham, o Hyde Park e saindo, enfim, no bairro de Chelsea, onde as casinhas custam o valor simbólico de 11.500.000,00 pounds. Acreditem se quiserem. E nem eram assim umas casas absurdamente lindas e grandes.

No dia da nossa volta passamos por Covent Garden e vimos o bairro cultural da cidade, apesar da cidade toda respirar muita cultura. Mas é a Broadway deles, onde se concentram os teatros todos e a galerinha alternativa. Gostei bem e recomendo.

Eu acho que uma boa forma de mostrar o que vi é através de algumas (poucas) fotos que tirei. Então elas estão postadas aqui, para que esse post não fique super monótono. Assim vocês acompanham um pouco do trajeto turístico, o que pode ser útil para o dia que forem visitar a Money Land.

A frustração fica por conta da guarda da Rainha, que estava com roupa de verão e me chateou um bocado por não me mostrar aquele chapéu preto esquisitão, e pelo tempo que me faltou e me impediu de ir à Abbey Road. Meu chefe me disse, olhando um poster da Abbey Road em uma lojinha, que era pra eu não ficar chateada, pois afinal era apenas uma rua e talvez eu até me desapontasse. E a dona da loja do pôster disse, indignada: 'não é apenas uma rua, é a rua do estúdio onde os Beatles gravaram Abbey Road!!!'. Ah, jura? Vai ser intrometida assim... na Inglaterra! Eu fiquei irritada com algumas atitudes das pessoas. Como, por exemplo, da garçonete que colocou uma placa de 'reservado' em nossa mesa com o restaurante inteiro vazio, só para nos expulsar por não estarmos consumindo o suficiente para segurar uma mesa. Ou um grupo de ingleses nesse mesmo café, outro dia, que começou a falar de nós como se não entendêssemos nada do que falavam. Um deles perguntou às amigas que língua falávamos e a moça ao seu lado sugeriu o português. Ele disse: 'Sim, definitivamente português, mas não de Portugal.' E a imbecil à sua frente, com um ar de quem sabia tudo, diz de forma conclusiva: 'Isso é Tupi-Guarani!'. Sim, claro! E parabéns por ter adivinhado isso sem precisar reparar no meu penacho na cabeça. Humpf.

Mas tudo bem, Inglaterra para os ingleses. I don't care! O clima gelado e cinza basta para o tempo de cantarolar London, London. É até um clima que gosto, mas é bom que eu não tenha que viver assim por mais de uma estação. O céu azul faz falta e voltar foi bom, muito bom.

Não sei dizer o que mais me surpreendeu. Posso citar essa coisa certinha da cidade, mas também posso citar a sensação que tinha diante de cada ponto que foi cenário da história, que me proporcionava aquele pensamento tipo 'Shakespeare esteve aqui', sabe? Me surpreendeu também a quantidade de estrangeiros que moram naquele lugar. Indianos, sobretudo, pois não estou acostumada a ver uma galera de turbante andando na rua. Nem mulheres com aquelas burcas negras assustadoras. É tanto estrangeiro que ver um inglês autêntico é até estranho. Mas esses são os mais certinhos: usam roupas muito parecidas, falam polidamente, terminam boa parte das frases com 'lovely' e são cor-de-rosa. E eu achava que São Paulo era o máximo do cosmopolitano, mas fui obrigada a reconhecer que ainda tem chão pra chegarmos naquele estágio. Por esse motivo há restaurantes de todos os tipos. Isso é algo com que estou acostumada onde moro, mas nunca passei uma semana inteira comendo de forma tão diversificada: italiano, indiano, grego, turco, tailandês... E esse último, meus queridos, virou um vício. Mas não, eu não comi baked potato. Potáto.

Olha, gostei. Me surpreendi com o quanto gostei. É outro clima, e ver outra cultura de perto é sempre enriquecedor. Talvez eu volte um dia pra passear simplesmente, quem sabe?

Lovely!

VONTADE*

* por Carolina Munhoz

Vontade de beber mais água durante o dia
Vontade de ver mais dias de sol
Vontade de comprar flores
Vontade de entrar em um vestido "bandage"
Vontade de usar mini-saia
Vontade de ser pedida em casamento
Vontade de ter o trabalho reconhecido
Vontade de meditar
Vontade de começar a fazer exercícios
Vontade de falar 5 línguas
Vontade de ler mais livros
Vontade de não dar mais satisfação a ninguém
VONTADE de apertar o botãozinho "reset" da vida,
E começar tuuuuuuuuudo de novo..........

Carolzinha é minha companheira de trabalho. Querida. Ela está sempre por aqui e nunca comenta. Me disse outro dia, se desculpando por alguma cobrança que fiz, que não escrevia como eu. É claro que ela quis encher minha bola e tirar o corpo fora. Mas daí ela me aparece com um post cheio de sentimento, vejam vocês. Bobinha: me pegou de surpresa!

E sobre ele, mocinha, a gente conversa pessoalmente. Hã. ;)

22.9.09

Quando fico sozinha eu não ligo a tv. Sempre acho que o barulho dela me irrita. Mas hoje eu percebi que, na verdade, o barulho que existe dentro de mim é que é ensurdecedor. A tv nunca fez diferença.

21.9.09

Um querer mais que bem querer

Eu quero que tenha sucesso. Que tenha motivos para sorrir a cada instante, que alcance sonhos. Que seja motivo de orgulho, não só para mim. Que se alimente bem, que caminhe, que enriqueça, que se goste. Mais do que eu mesma gosto, o que é muito.
Quero que tenha amigos. Amantes. Filhos.
Que se busque e que se conheça, que se entenda e que se encontre.
Que não veja meu choro e tenha força pra seguir em frente, e siga, e chegue adiante e mais adiante.
Que se liberte de todos os males, que seja realmente feliz.
Como o meu querer deseja, no mais profundo lugar da alma e na superfície.

7.9.09

24.8.09

Partida


A possibilidade iminente de deixar a cidade apareceu e me tirou o sono por dias. Com uma carga de trabalho acima do normal, não sabia se a insônia aliada à dor de estômago e enxaqueca eram resultado de um ou de outro. Ambos os fatos me fizeram pensar.

Deixar para trás família e amigos sempre foi dos meus maiores pesadelos. Eu jamais pensei em sair da cidade ou do país, apesar da insistência de alguns amigos que já tomaram esse rumo e qualquer viagem mais longa me faz querer voltar para casa após uma semana. Mas dessa vez foi diferente. Não sei se por causa do cansaço do trabalho, das pessoas, da vida, mas dessa vez olhei para isso de forma oposta.

Eu sou uma esponja. Eu absorvo os outros, o problema dos outros, cultivo uma responsabilidade sobre o alheio que chega a ser doentio. E essa carga vem me deixando pesada de uma forma que eu não consigo mais ir adiante. Então uma partida me pareceu tão sedutora, como se o foice que evitei usar a vida toda viesse pela mão de outra entidade e me cortasse o cordão umbilical, os vícios, o indesejável. O peso. Minha vida teria espaço para tantas coisas, melhores e mais sadias. Talvez eu conseguisse, enfim, me contentar com um turno de 8 horas (apesar dos mais chegados duvidarem disso veementemente), pudesse andar de bicicleta e ter um cachorrinho. Talvez eu curasse a gastrite, a bursite, o mioma, a tendinopatia, a esofagite e o hiato, e todos os problemas de saúde que surgem já graves para tratar em qualquer exame bobo de rotina.

Apesar da possibilidade estar quase descartada, tudo o que pensei diante disso não. Vejo um pequeno clarão com fundo azul despontando daquele céu escuro que me acompanha há anos. Pois eu cansei e, mais ainda, percebi o cansaço. E quero ver o céu azul, e quero sorrir, e quero tantas coisas que agora sei que quero.

Minha partida tem o gosto de chegada.

25.6.09

Dancing Machine

Eu e minha prima éramos grudadas quando crianças. Estávamos sempre juntas na casa de uma ou outra, dançando e rindo sem parar.

Tínhamos duas paixões: Menudos e Michael Jackson. Me lembro até de um dia em que uma tia dela nos via dançar Michael Jackson para julgar quem era melhor no rebolado. Exagerei com o quadril e perdi a competição.

Na pré adolescência eu ouvia BAD exaustivamente enquanto sonhava com o dia em que ia casar com aquele cantor fantástico que dançava de forma incrível. A paixão platônica começou a ir embora junto com a melanina de sua pele.

Um vizinha de quase 2 metros de altura foi comigo ao show dele aqui no Brasil, quando eu gastei meu salário de vendedora de shopping para ver meu ídolo mais de perto. Passei o dia na fila mas fiquei bem na frente, esmagada, suando sem parar. Lembro bem das vezes que tirava o pé do chão e era levada pela multidão para todos os lados. Lembro mais ainda do momento em que ele jogou o chapéu para o público e minha vizinha conseguiu segurá-lo com a pontinha dos dedos, mas desistiu do prêmio de tanto que foi pisoteada pelos vizinhos da pista. Jurei por muitos anos ver as manchas do suposto vitiligo sob a luva brilhante naquele dia, e até hoje tenho minhas dúvidas do que vi. O fato é que esse foi, sem dúvida, o melhor show que fui em minha vida.

Hoje cheguei em casa vendo os boatos da morte do Michael. Jurei por instantes que isso era um golpe publicitário que se somaria às demais bizarrices da vida do Peter Pan do mundo pop. Mas depois de quase duas horas eu assisti perplexa à notícia oficial de sua morte.

Não é novidade para ninguém o quanto gosto dele. Já citei isso aqui no blog, e nos últimos dias dei a um post bobo o nome de uma de suas interpretações que mais gosto. Quem convive comigo é sempre obrigado a decorar todas as músicas do astro desde a sua infância e já me viu dançar I Want You Back pelo menos uma vez. Certamente pipocarão piadinhas por todos os lados nos próximos dias. Vou rir com elas, reproduzir algumas. Mas aqui no meu confessionário eu devo dizer que estou triste. Bem triste. Eu ainda cultivava o sonho de rever um show de Michael Jackson e mais ainda uma reunião dos Jackson Five. Essa foi uma grande perda.

Vi uma reportagem com alguém dizendo que Michael sempre foi um incompreendido, e que seus atos infantis vindos de um corpo de um adulto fizeram-no passar o inferno na terra. Uma criança com a infância tolhida certamente não seria um adulto normal: nos últimos tempos víamos um homem problemático, sozinho, triste. Talvez agora ele conheça um pouco de paz, talvez agora ele esteja realmente em Neverland.



Sei que essa história dele morrer dias antes da sua última série de apresentações me parece mais bizarra que a própria vida do popstar. Não estranhem se me encontrarem em alguma comunidade do tipo 'Michael is alive', segurando uma faixa com os dizeres 'Michael, I want you back' nos próximos dias.

24.6.09

O que é que há, velhinho?

A Carol achou o meu 1o fio de cabelo branco. E apesar da Helena ter dito que quando tinha 15 anos ela tinha uma mecha de cabelos brancos que depois sumiram, eu creio que no meu caso esse fio foi o 1o de uma série. Triste...

15.6.09

And in the end...

...the love you take
Is equal to the love you make.

14.6.09

Ain't no sunshine

Ele já não lembrava há quanto tempo não se viam: ambos eram adolescentes descobrindo como sofrer por perder o primeiro amor quando deixaram de se falar. Nenhum dos dois sabia se aquilo era necessário, mas o fato é que seguiram suas vidas, distantes, em cidades diferentes. Inesperadamente, ele se depara com aquela mulher linda, segura e com um sorriso que ele não conhecia bem. Ela o cumprimentou eufórica e deu um dos abraços mais apertados que ele recebera nos últimos tempos. Enquanto ele tentava responder às perguntas que saíam de sua boca em disparada, pensava em como o tempo havia sido generoso com ela, no quanto ela tinha amadurecido e nos motivos que o fizeram partir. Num curto espaço de silêncio, ele não conseguia pensar em que falar: estava para partir novamente e talvez uma nova década não desse outra chance para um encontro daqueles.

- Me dê seu telefone, e-mail, qualquer coisa que não nos deixe perder contato novamente!

Tantos anos, e ele não tinha perdido o jeito de se denunciar em frases soltas após o silêncio, ela pensou. Um novo abraço, mais demorado. Ela sorriu.

- Melhor não...

E dessa vez, foi ela quem se virou e partiu: aquele havia sido um encontro qualquer.

16.4.09

Oração

A Fer acaba de me ensinar a rezar corretamente:

"Senhor, sempre te peço força... Mas agora te peço paciência, pois se me deres força saio matando todo mundo pelo caminho!"

É rir pra não chorar.

28.3.09

Valores

E cada vez mais nós valorizamos coisas que não são minimamente necessárias. Trabalhamos o dia todo, para chegarmos em casa cansados com tempo apenas para um banho rápido antes de desmaiarmos na cama e começarmos o outro dia da mesma forma. E para quê? Para ter o móvel da revista, o carro do ano, o computador com o último processador do mercado ou um celular com um design mais interessante, com a desculpa de que ele é 3G e vai economizar seu tempo. Tempo para quê, mesmo? Para trabalhar mais e conseguir comprar mais coisas que não teremos tempo de usar. Enfim, é como diz Madá: a gente trabalha para pagar as necessidades que a gente insiste em criar e que, no fundo, nos afastam da vida.

Após anos, então, vejo o homem que já foi meu ícone masculino, meu ícone de proteção, provisão e segurança falando chorosamente ao pronunciar meu nome. Ele tem os cabelos muito mais grisalhos do que quando o vi pela última vez, e se aproximou com uma humildade que eu não conhecia nele. É herança dele a forma de se expressar de meu irmão mais velho. E também é dele a paixão que o mais novo tem por invencionices. Sua teimosia explica boa parte da personalidade da minha irmã. E eu... não me reconheço nele. Mas o amo, por ser quem é na minha vida. Coisa que Deus talvez explique, vai saber? O fato é que, felizmente, não herdei dele essa busca incessante pelo 'ter' que se sobrepõe ao que julgo essencial e que hoje reconheço mais que nunca como o que realmente importa. Foram necessários anos de solidão e distância para que ele percebesse o que é realmente necessário para viver.

Aqui dentro eu tenho um desejo imenso de que dessa vez ele faça as coisas de forma diferente, e de que não se esqueça das lições que a vida lhe deu nos últimos tempos. Tempo perdido, meus caros, é tempo perdido: não importa o quanto se aprenda com ele. Reconheço o tamanho do passo que ele deu para chegar até o meu lado do muro e sei o quanto isso foi difícil para alguém orgulhoso e que não admite estar errado jamais. Estou feliz.

Por outro lado estou achando muito esquisito ter um pai. Ele já não é mais ícone de coisa alguma que já foi. Preenchi essa lacuna assumindo na minha família justamente o papel de quem me faltou. E caso ele permaneça do lado de cá, precisarei achar um lugar para essa relação na minha vida. Isso tudo é muito estranho.

O que me alegra, em detrimento do que me chateia por ver tudo isso, é reconhecer que o lado do muro em que fiquei tem tudo o que eu preciso.

18.3.09

Aprenda a reclamar

Estou orgulhosa de mim mesma. Eu normalmente sou paciente demais na resolução de problemas e tento conversar mais vezes do que deveria, mas descobri que sou uma trouxa por ser assim.

O caso do post abaixo me deixou muito chateada. E eu, que sou tão paciente e honro meus compromissos financeiros tão religiosamente que sou capaz de passar fome para deixar minhas contas em dia, não pude conter minha raiva diante do que fizeram comigo.

Pois bem: MD me ajudou de imediato e família toda vai trocar de operadora. Denuncei num site de reclamações, na ANATEL, na Folha de São Paulo e consegui um contato no Procon e na Rádio Bandeirantes, esses dois últimos iriam conhecer meu caso amanhã.

Agora há pouco recebo um telefonema da TIM, que através do conhecimento de minha reclamação na Folha de São Paulo reviu todas as minhas contas e me concedeu em dobro os valores cobrados indevidamente, em forma de créditos. Isso me impede de trocar de operadora de imediato, mas troco assim que gastar tudo. É que foi crédito pra caramba, deve equivaler a 4 ou 5 meses de faturas que já posso considerar pagas. Minha irmã me chamou de 'vendida', mas não posso jogar 600 reais no lixo assim, não é verdade?

Infelizmente não falarei ao vivo na Rádio Bandeirantes, nem darei entrada ao meu primeiro processo no Procon. Mais triste ainda é que não farei o adesivo para colar no Pé-de-pano que dirá 'A TIM me roubou, mudei para a Claro' pelos próximos meses. Mas essa história me fez aprender duas lições muito importantes:

1 - Jamais se cale diante de uma injustiça: se eu fosse reclamar de cada fatura errada, poderia ganhar créditos para o resto da vida da TIM. Como só falei das últimas, terei que me contentar apenas com alguns meses.

2 - Reclame na Folha de São Paulo: Os caras não cobram um centavo para te ajudar, e de todos os meios que recorri foi o mais eficiente. Em pouco mais de 24 horas recebi um telefonema da TIM com todas as correções feitas e telefone desbloqueado no mesmo instante. Sensacional!

Sobre bloqueio, a atendente informou ser cláusula contratual de prestação de serviços com consentimento da ANATEL a prevenção de inadimplência. Anyway, acho um absurdo. E como eu não tenho mais o contrato do celular, vou ter que ficar quietinha até averiguar a cláusula 9.2. Mas vou prestar atenção nesse tipo de cláusula quando trocar de operadora.

13.3.09

TIM - o absurdo dos absurdos

Eu gostaria que vocês tivessem um pouco de paciência para meu desabafo, principalmente se você usar os serviços TIM.

Eu mudei meu plano de 120 minutos para um plano de 40 minutos em janeiro, de forma a me organizar com minhas contas pois suspeitava que a TIM estava cobrando minutos acima do meu gasto real. Como a desculpa que me davam para os valores altíssimos de minha conta eram cobranças retroativas, me senti acuada em provar que não tinha um gasto daquele tamanho, então mudei meu plano.

Quando minha empresa me transferiu em janeiro para passar 1 mês em Salvador solicitei a uma atendente que habilitasse um pacote para efetuar ligações em roaming e ela, insistindo que não havia um pacote promocional para efetuar chamadas fora do estado, me vendeu um pacote para recebimento de chamadas em roaming: não haveria cobrança de roaming nem AD por chamada em 100 minutos de ligação, durante 30 dias. Com esse pacote habilitado e protocolo devidamente anotado, avisei todos os meus conhecidos de que não efetuaria ligações, e que em caso de emergência enviaria uma mensagem sms para que me ligassem no celular.

Minha primeira conta, com apenas 1 semana de deslocamento interestadual, já veio absurda. Constatei que não haviam habilitado o plano de recebimento de chamadas que havia feito, mas sim um plano de efetuar chamadas em roaming (aquele que eu havia pedido e a atendente me informou não existir). Sendo assim, solicitei revisão de conta referente aos 40 minutos de roaming e chamadas recebidas em minha primeira semana fora do estado.

A fatura subsequente continuava cobrando o pacote que não havia sido habilitado e cobrando todas as ligações recebidas em Salvador. Liguei novamente e expliquei o caso, e a atendente terminou a conversa dizendo que habilitaria o plano correto. Ora, eu já estava em São Paulo e não queria plano nenhum, queria uma revisão de conta com o plano correto. Ela me pediu 5 dias para avaliação e a TIM daria um retorno. O retorno foi rápido, constataram o problema e fariam o cancelamento do pacote que não pedi, mas não revisaram minha conta. Pedi a outro atendente a revisão, novamente pediram 5 dias e deixaram um recado em meu escritório dizendo que o problema havia sido solucionado. Fiquei feliz, liguei para confirmar e a atendente, trocando em miúdos, me disse que foi constatado o erro mas que a TIM não julgava a conta incorreta. Falei que era a 6a vez que ligava para tentar resolver o problema e que não era possível constatarem o problema e não revisarem a conta: isso não era resolvê-lo. A ligação caiu misteriosamente...

Hoje estive na rua boa parte do dia, correndo como louca para retornar à São Paulo com meus deveres cumpridos. De volta ao escritório havia duas ligações perdidas de um número estranho em meu celular, que obviamente não retornei por estar fora de minha área. Tinha um compromisso no fim do dia com meu chefe, e chegando ao hotel fui descansar esperando sua ligação para encontrá-lo. Quando acordei, horas depois, verifiquei várias mensagens em meu celular. Tentei retorná-las, mas voltavam com mensagem de erro. Então fui tentar efetuar ligações e minha primeira tentativa foi redirecionada para a TIM. E agora, meus caros, é que segue a grande pérola do dia, para a qual vou até mudar de parágrafo.

A atendente Alana pediu milhões de confirmações, inclusive sobre a data de vencimento da fatura. Informei que as faturas vencem no dia 15 de cada mês. Em seguida informou que foi verificado que meu uso de minutos está muito acima do pacote contratado. Para que vocês que me lêem tenham uma idéia, no 1o mês de plano de 40 minutos tive uma conta de R$180,00, e no último mês (cuja fatura vence no próximo domingo dia 15) a minha conta, pelos erros de ativação de pacotes da TIM, veio com o valor de R$350,00. Na mesma hora pensei 'nossa, lá vêm eles me oferecer um pacote maior...'. Mas não. Me informaram que minha conta estava sendo bloqueada para efetuar E RECEBER chamadas, a menos que eu efetuasse o pagamento ADIANTADO da fatura com vencimento no próximo domingo. Assustadíssima, perguntei novamente o motivo do bloqueio pois não devo nem 1 centavo à TIM e minha próxima fatura não venceu, e tive a reconfirmação de que minha conta estava sendo bloqueada se eu não pagasse antecipadamente a fatura que vence daqui a 3 dias. Falei que achava um absurdo fazerem aquilo sem nem mesmo um aviso prévio, e ela me informou que houve tentativa de contato hoje pela manhã. Informei que estava em outro estado e não tinha como efetuar o pagamento, ela me retrucou que se eu efetuasse no dia do vencimento teria o número bloqueado até lá e a reativação só ocorreria 3 dias após a constatação do pagamento. Falei novamente sobre minha indignação diante de tal absurdo, ela perguntou apenas se eu tinha mais alguma dúvida. Então disse que faria o pagamento de minha fatura na data do vencimento e que após a reativação do meu celular na próxima quinta-feira eu teria o prazer de dar o primeiro telefonema para cancelar meu contrato com a TIM, e em seguida levaria o caso para o PROCON. Ela respondeu que a TIM agradecia o contato, e me desejou boa noite, e tu tu tu tu...

Ainda estou indignada. Estou numa cidade distante, meu único meio de comunicação é o celular. Não devo absolutamente nada à operadora, desligaram minha linha sem aviso prévio e ainda ouvi que deveria efetuar o pagamento antes da data do vencimento da fatura num tom ameaçador pelo 'justo' motivo de que usei demais o celular. Isso é uma piada?

Tenho infinitas reclamações sobre o atendimento da TIM, sobre problemas de cobrança da operadora. Mas hoje não estou aqui simplesmente por estar emputecida pelo mau atendimento. Nem por ter feito 6 ligações de uma hora cada nos últimos 15 dias para tentar resolver meu singelo problema do erro de ativação do pacote. Estou aqui por estar indignada, me sentindo desrespeitada como consumidora de uma maneira que jamais imaginei ser possível. Nunca ouvi um caso tão absurdo em termos de prestação de serviços quanto esse que estou narrando e, infelizmente, aconteceu comigo.

Então, se você é meu amigo e tem um número TIM terei o prazer de pagar sua portabilidade para que mude de operadora junto comigo. Esse é um compromisso, uma proposta séria, registrada aqui para que não reste dúvidas.

E estou aqui, rezando, para que esteja tudo bem com minha família e que não haja nenhum problema até minha volta.

Perplexidade é pouco para traduzir meu estado.

12.3.09

O encanto de Quirino

Numa reunião tensa, um respiro de informações dito por alguém que possuía um tipo de problema nas cordas vocais. Inicialmente pensei que teria dificuldades para escutar alguém que falava como quem perdia completamente o ar a cada hiato, mas quanto mais ele falava mais interessada ficava a assembléia. De suas metas técnicas, talvez poucas tenham sido atingidas no discurso, mas no entanto ele foi o único a arrancar palmas entusiasmadas no meio do marasmo dos ânimos tão distintos daquele encontro.

No término da reunião, não resisti: perguntei se lhe poderia fazer uma visita. Ainda hoje, se o senhor puder. E fui. Eu não descobri se o homem de cabelos brancos era engenheiro, assistente social, poeta. E percebi o quanto podemos ser limitados como seres humanos quando defendemos nosso pífio ponto de vista profissional. O mundo é holístico, a vida não segue regras, a cidade pulsa, ouvi e tive que concordar.

Quando mudei de escritório há alguns meses, fiquei um pouco assustada com o discurso de 'equilíbrio de energias' na concepção de um projeto, pois eu tinha um ranso com a palavra 'energia' fora do contexto elétrico. Mas é que isso era um reflexo da minha pequeninice como humana, e da minha vaidade pseudo intelectual. Daí hoje a falta de ar do Sr. Quirino me fez ver claramente que a sua forma de se apresentar como 'Fulano de tal Quirino Sbrobous' e não como 'Quirino, profissional da área X' podem definir uma postura de vida. Se eu tivesse conversado com o Sr. Quirino Profissional X eu teria descoberto o que fui perguntar - as propostas municipais para minha área de atuação. Mas como fui atendida pelo Fulano de Tal Quirino Sbrobous, eu refleti sobre o mundo ser holístico, sobre a vida que não segue regras, a cidade que pulsa. Inclusive que tudo precisa de equilíbrio de energias para ser. Inclusive que o fato de ser arquiteta não significa nada se eu ignorar a rançosa energia. Na verdade, coisas que eu já sabia mas não dava crédito, pois insisto em ser somente arquiteta.

Uma imersão em lugar estranho por 1 mês ou uma faculdade de 5 anos não conseguiram moldar meu olhar da forma como o Quirino fez em poucos minutos. O encanto de algumas pessoas me fascina.

5.3.09

Meu caso com o dendê

Post tardio, mas de grande utilidade para meus conhecidos que desejam conhecer a cidade dos Soteropolitanos.

Sinceramente, fui à Salvador empolgada com o trabalho e nada empolgada com o lugar. Quem me conhece sabe que praia não é minha praia, e que o calor é o segundo motivo que mais colabora com minha falta de humor, perdendo apenas para a TPM.

A chegada já me deixou assustada com duas coisas: o calor (esperado, mas não achei que seria recepcionada por 40ºC) e os soteropolitanos ao volante. Os congestionamentos já se assemelham aos de São Paulo, mas as pessoas são completamente loucas no trânsito e a falta de educação deles na direção assusta até mesmo nós que temos os maiores congestionamentos do país: as pessoas não sabem o que é faixa, até por isso não dão sinal para qualquer movimento mais brusco numa rua. E o mais intrigante é que isso é tão comum que ninguém buzina para as barbeiragens alheias. Daí que percebi o quanto somos educados no trânsito aqui.

Sobre o calor, não tenho palavras para descrevê-lo. Eu não peguei um dia sequer cuja máxima fosse inferior a 35ºC. Ao acordar o sol já ardia, e quando saía de meu quarto para o elevador do hotel num percurso que não durava 30 segundos as gotas de suor começavam a tomar conta de partes do meu corpo que eu nem sabia que existiam. Andar nas ruas de Salvador com uma calça jeans foi a experiência mais bizarra da minha vida, e foi a primeira vez que vi que minhas pernas poderiam escorrer, ou que eu poderia literalmente torcer uma peça de roupa molhada de suor sem que isso fosse apenas uma força de expressão. Aliás, tudo o que usamos aqui como força de expressão para falar de calor eram literais para as queixas sobre o calor de lá. E não pensem que era por que sou galega, o pessoal local reclamava tanto quanto eu! Daí a leseira, da qual não abro mais a boca para criticar. Trabalhando um turno de 8 horas normais eu sentia como se estivesse duas noites sem dormir, tal era o cansaço que o calor me dava. Insano. Me sinto patética em lembrar dos casaquinhos que levei.

Talvez por estar acostumada com a camuflagem das favelas por onde passo em São Paulo, fiquei impressionada com a quantidade e o tamanho de invasões de Salvador. Não chega a ser o Rio, mas está quase empatando. E a cidade é geograficamente tão acidentada que realmente salta aos olhos passar numa avenida ampla e movimentada e estar cercado por morros cravejados de casinhas humildes com escadarias que não vemos o fim subindo por diversos pontos.

Por outro lado, a arquitetura histórica é fantástica, e é impossível dissociá-la da história da cidade: a cidade foi crescendo e o estilo das épocas foram se imprimindo nos casebres, nos solares, nos fortes, nas igrejas. Salvador tem tantos sítios históricos que se torna paisagem comum. Daí meu quarto susto: com exceção do Pelourinho que teve uma intervenção recente, tudo é abandonado, invadido, deteriorado. No começo eu fiquei revoltada com o poder público, mas depois percebi que não há esforço público que consiga restaurar uma cidade histórica do tamanho de Salvador. E deu um baita nó no coração ver tanta coisa perdida.

Trabalhei num lugar maravilhoso, e esse projeto é o trabalho mais especial que já tive contato na vida. A rua tem toda característica de uma cidadezinha de interior, mas as casas ficam coladas na beirada da cidade alta, no limite da encosta com 70 metros de altura, com uma vista mágica para a Baía de Todos os Santos. Em 10 minutos a pé entre subidas, descidas e muitas escorregadas nos paralelepípedos tão gastos pelo tempo, se chega ao Pelô. E toma outro susto: aquilo é uma Disneylândia onde todos te pegam pelo braço para tentar te vender correntinhas, fitinhas, miudezas folclóricas. Eu fico imaginando um estrangeiro de cultura bem fria com tanta gente o tocando, deve ser muito assustador! E meu amigo, loirinho de olhos claros e extremamente cordial, era um prato cheio. Fomos abordados n vezes, e em todas elas meu amigo parou para conversar. Em determinado momento achei que estaria mais segura se sozinha. Descendo o Elevador Lacerda fomos pegos por um círculo de ciganas querendo ler nossos destinos. Consegui convencer aquela que me puxou de que não acreditava em destino, mas meu amigo parou para escutar. E eu fiquei conversando com a 'minha' cigana quando ao final ela me disse: 'muita felicidade para vocês!', ou algo assim, entendendo que eu e meu amigo formávamos um casal. Então continuo não acreditando em destino, e muito menos em quem diz saber dele.

Outra decepção foram as praias. Demorei dias para encontrar de perto com o mar, e o cheiro de maresia que eu adoro quando vou ao Litoral não chegou ao meu nariz nem quando fui à orla. Salvador tem boa parte do mar chegando em áreas portuárias, encostas e praias de pedras. As praias mais afastadas ao Sul foram tomadas por invasões, e só passando Itapoã é que encontrei algumas praias com cara de praia, que estavam tomadas por algas. Imaginava Salvador como uma grande Praia do Forte, linda, mas não é bem assim... São poucos pontos com faixas de areia, e quando cheguei a essas praias maiores, elas eram tomadas de barracas onde vivem pessoas, que trabalham e moram lá e despejam seu esgoto direto no mar. Triste. A cidade toda é bem suja, e nos locais por onde fiquei trabalhando o cheiro mais marcante é o de urina. E além da urina, a sujeira é muita, em qualquer bairro. Talvez por isso lavam o Bonfim, o Rio Vermelho, Itapoã e tantos lugares mais! Brincadeiras à parte, a sujeira é um ponto muito negativo da cidade.

A exploração do turismo é uma coisa engraçada. Me pergunto o que se considera 'turístico', pois julgo que a coisa mais interessante para se fazer numa cidade estranha é conhecer o estilo de vida das pessoas de lá e seus costumes, como elas se relacionam com a cidade em que vivem e como a cidade responde a tudo isso. Tudo bem em ir ao Bonfim, tudo bem comer moqueca, tudo bem ir ao Elevador Lacerda, mas acho ridículo ver as Baianas vestidas com aquelas fantasias de 3 séculos atrás pedindo 1 real para tirar uma foto com você, como se fosse essencial sair de Salvador com uma foto de coisa que não existe mais. Então não me faz muito sentido o Pelourinho, que é o dos principais cartões postais da cidade, ser o que é. É desconcertante chegar num lugar com aquela magnitude e ver 1 milhão de lojinhas iguais vendendo pseudos abadás com fitinhas do Bonfim. Se querem saber, a melhor parte da minha estada foi sentar na Biblioteca Municipal e ler os jornais do bairro desde 1960, ouvindo Bethânia a tarde toda junto com a conversa fifi das bibliotecárias.

A cidade é perigosa. O André perdeu a máquina fotográfica que nem tinha terminado de pagar num passeio rápido para um trombada . E diversas vezes as pessoas que nem me conheciam me alertavam na rua para meu jeito de segurar a bolsa, ou locais onde eu não deveria me atrever a fotografar. E isso é uma caractetísca do soteropolitano: eles se sentem íntimos de qualquer pessoa e falam com um estranho como se estivessem aconselhando um irmão, primo, sobrinho. Era algo para se deduzir de um povo que chama o Pelourinho de Pelô, Caetano Veloso de Caê, Daniela Mercury de Dani e Cláudia Leite de Claudinha. Eles são acolhedores, até demais. Logo que cheguei fui recebida por uma paulista que me dizia justamente que a hospitalidade do povo baiano era sem igual. Em poucos instantes alguém já te convida para ir à sua casa, a passar uma temporada na casa do primo que fica na praia não sei qual, e toda vez que eles te levam para sair resolvem mudar o itinerário para visitar um fulano novo com o simples intuito de te apresentar. Isso aconteceu muitas vezes, e em todas torci o nariz quando fui informada da alteração de planos, mas em todas me surpreendi com o carinho com o qual recebem um estranho em casa e no quanto eles fazem questão de te fazer sentir-se em casa.

Somando isso à gastronomia local, eu sinceramente esquecia dos pontos negativos. Se não fosse a mania que têm de colocar coentro em tudo o que se faz eu teria passado muito bem. Comi tanta moqueca, de todo o tipo de coisas que se possa imaginar, vatapá, caruru e tanto acarajé que considero um milagre voltar à São Paulo depois de 1 mês sem ter ganhado um quilinho extra. Acarajé eu comia no pé do hotel, pois em Salvador você encontra barraca de acarajé em cada esquina, como temos de cachorro quente aqui. É o que salva o cheiro de urina da cidade: o disfarce do dendê. E descobri que adoro dendê. Aliás, lá o dendê é chamado simplesmente de azeite, e o nosso azeite é 'azeite doce' ou 'óleo de oliva'. Eu paguei mico pedindo azeite para colocar na salada mais de uma vez, enquanto o garçon me olhava como se visse uma louca que gostasse de dendê no alface. Enfim, o cheiro de dendê é a minha lembrança de Salvador.

Pouco antes de vir embora o pessoal com quem trabalhei perguntou se eu sentiria saudades de lá. Com o calor que fazia, não consegui disfarçar minha satisfação em voltar para casa, e estava feliz por dar um tempo ao axé que tomava conta dos meus ouvidos na cidade onde é carnaval o ano todo, na semana antecedente ao carnaval de fato. Não posso negar que eu sentiria falta da moqueca e do acarajé, mas no entanto estou na cidade com o melhor circuito gastronômico do país, e batendo uma saudade do dendê eu dou um pulinho num bom restaurante. A saudade mesmo fica por conta das ótimas pessoas que conheci, que fazem festa por qualquer pequeno motivo e que diante de tanta coisa negativa conseguem encontrar motivos sem número para celebrar. Essa sim é a melhor coisa de Salvador: um povo daquela pele escura linda e que faz morrer de inveja qualquer branquelo sem graça como eu, que de tanto ter sofrido pela escravidão consegue sorrir ao estranho e fazer música para qualquer pequena coisa, numa eterna ode de quem reconhece de onde veio e o quanto sofreu para poder andar livremente nas ladeiras de paralelepípedo.

10.2.09

Assertividade. Ou não.

Eu tenho sérias dificuldades com assertividade e me prejudico horrores com o abuso dos outros. Quando a atitude do outro é óbvia eu fico apenas torcendo para que ele perceba e se manque. Daí o outro distorce as coisas propositadamente e eu fico olhando, patética e passivamente.
E o pior é que sei exatamente o que fazer, mas sempre tomo outro caminho. Ridícula.

9.1.09

Essa vida é um teatro

As pessoas choram socialmente, riem socialmente, sofrem socialmente sem nem mesmo estarem tristes, felizes ou sofrendo. Há uma tia que chora como se fosse a viúva do morto quando ele é o vizinho-da-amiga-da-sobrinha-da-tia-avó-do-interior, com quem ela cruzou uma vez na vida.

Me acusam de fria. Eu acho que sou apenas sincera comigo mesma, que não sou tão teatral quanto a maioria. Não faz muito sentido verter lágrimas por todas as coisas que me deixam chateada: a energia me tem sido tão rara que dispensá-la para proceder no padrão social não faz muito sentido para mim desde que o 1o dígito da minha idade subiu uma casa. Tantas coisas me deixam triste e chateada! Que seria de minha vida se ficasse no canto cultivando lágrimas e sofrimento?

As pessoas cansam. As situações cansam. A vida cansa. E eu cresci, me aprendi e cansei de ficar interpretando os fatos vida: melhor é viver, sem atuações.