26.9.09

Green grass, blue eyes, grey sky


I choose no face to look at, choose no way

I just happen to be here, and it's ok

(London, London - Caetano Veloso)



Minha não tão planejada estada na terra da Rainha foi tão corrida, tão voltada ao trabalho, que não sei se tenho algo grandioso a acrescentar a vocês com o breve relato mas, claro, há sempre algo a dizer sobre a primeira vez que pisamos em algum lugar diferente.

Eu comecei a me dar conta do que estava acontecendo pouco antes da aterrissagem em Heathrow, quando a aeromoça simpática me sugeriu que abrisse minha janela para ter a visão de Londres que só a chegada de avião no assento de janela do lado direito da aeronave proporciona. Todos os meus murmúrios por ficar presa naquele aperto pelos dois franceses do meu lado evaporaram em poucos instantes: lindo, lindo. Podia ter demorado mais tempo para chegar ao chão. E eu podia estar com a máquina fotográfica na mão, mas infelizmente essa é uma imagem que vou ficar devendo.

E então chegamos. Minha sensação era a de estar em algum cenário, rodando uma película. Começando pela coisa surreal de pegar um táxi com o motorista do lado direito e ficar tonta com as mãos trocadas nas ruas. Levava sustos a todo momento quando via um carro próximo chegando pelo meu lado direito, ao invés do investigado lado esquerdo. Além do susto mor de ver uma pequena ao redor dos 10 anos de idade 'dirigindo'. Demorava a processar que estava onde estava...

Quando postei isso, ainda não imaginava o significado dessa foto. Eu tinha um sentimento de que aquilo era muito londrino, mas não imaginava que seria uma imagem tão forte. Quem viu a foto desse post, viu praticamente tudo. A paisagem construída em Londres é tão certinha que chega um momento em que passa a incomodar, pois as coisas parecem sem personalidade. Dá a impressão de que um dia implodiram tudo ao mesmo tempo para sair construindo igualzinho depois, ao gosto do rei. Quase utópico. É tudo geminado, é tudo tijolinho. Muda o ornamento, a altura, um pouco da largura das edificações, e só. Todas têm subsolo, todas têm a porta elevada da rua, todas têm as maçanetas no meio da folha ao invés do canto de abertura, o que é um baita contrasenso do ponto de vista da física, mas até pra isso eles precisavam ser certinhos e simétricos.

Posso assegurá-los de que todos os símbolos de Londres estão lá: os black cabs, os hidrantes, os ônibus de dois andares, as cabines telefônicas, o chá das cinco. Esse último, devo dizer, virou hábito por alguns dias. Os aqui caríssimos Twinnings custavam ridículos 0,69 pence (cerca de R$2,25) e me arrependo de não ter reservado um tempinho para comprar uma caixinha de cada sabor para trazer na mala. E vale dizer que um dos lugares mais incríveis por onde passamos foi uma casa de chá: cheia de acessórios, cheia de utensílios tão peculiares para os pic-nics (uma prática muito comum por lá), bolachinhas, louças, pratarias, e tudo o mais que essa cultura necessita para ser chamada de tradição. Estranho e lindo.

Andar em Londres é bem possível. A cidade é muito plana e, compensando o táxi não tão acessível para quem recebe o salário em reais, o metrô é estruturadíssimo. A nossa simplória experiência underground em São Paulo nos deixa com um sentimento de caipirice com aquela complexidade toda, mas logo se acostuma com as plataformas servidas por 4 linhas e a recalcular o itinerário quando a voz informativa onipresente te pega de surpresa dizendo que sua estação de baldeação está fechada. E, quando se vai embora, sente-se falta daquela voz dizendo 'mind the gap, please!' em todas as paradas do trem.

E tem o verde. O verde que sinto falta aqui. Há parques por todos os lados. Com esquilos fofíssimos, corvos assustadores, albatrozes e... POMBOS. Pigeons everywhere. Há também os patos e cisnes, e uma lenda que não consegui confirmar ser verdade de que todos os cisnes brancos pertencem à Rainha. Bem, que ela faça bom proveito! Fico com os esquilos simpáticos que vêm comer na sua mão e sobem no seu ombro.

Para não dizer que tudo foi apenas trabalho, tive alguns poucos momentos turísticos. Uma risível visita de injusta meia hora ao British Museum me fez perceber que os ingleses roubaram o mundo. Ao menos eles não cobram entrada, mas eu acho que os gregos, por exemplo, poderiam pedir uma comissão ao ingressar lá. No entanto, deve-se reconhecer o valor que deram à história e o cuidado com que organizaram, catalogaram e mantiveram toda aquela loucura. Apesar de nunca ter ido à Grécia (um dos meus maiores sonhos) vi muito de perto um pedaço do Parthenon. Talvez muito mais perto do que deveria para que aquilo fizesse algum sentido, e não é exatamente o que posso chamar de realização, mas tive lá meus 5 minutos de embasbacamento.

No meu dia de turista fizemos um trajeto que saiu pela Saint Paul's Cathedral, passando pelo Tate Modern, pela London eye, o Parlamento e o Big Ben, indo até o Palácio de Buckingham, o Hyde Park e saindo, enfim, no bairro de Chelsea, onde as casinhas custam o valor simbólico de 11.500.000,00 pounds. Acreditem se quiserem. E nem eram assim umas casas absurdamente lindas e grandes.

No dia da nossa volta passamos por Covent Garden e vimos o bairro cultural da cidade, apesar da cidade toda respirar muita cultura. Mas é a Broadway deles, onde se concentram os teatros todos e a galerinha alternativa. Gostei bem e recomendo.

Eu acho que uma boa forma de mostrar o que vi é através de algumas (poucas) fotos que tirei. Então elas estão postadas aqui, para que esse post não fique super monótono. Assim vocês acompanham um pouco do trajeto turístico, o que pode ser útil para o dia que forem visitar a Money Land.

A frustração fica por conta da guarda da Rainha, que estava com roupa de verão e me chateou um bocado por não me mostrar aquele chapéu preto esquisitão, e pelo tempo que me faltou e me impediu de ir à Abbey Road. Meu chefe me disse, olhando um poster da Abbey Road em uma lojinha, que era pra eu não ficar chateada, pois afinal era apenas uma rua e talvez eu até me desapontasse. E a dona da loja do pôster disse, indignada: 'não é apenas uma rua, é a rua do estúdio onde os Beatles gravaram Abbey Road!!!'. Ah, jura? Vai ser intrometida assim... na Inglaterra! Eu fiquei irritada com algumas atitudes das pessoas. Como, por exemplo, da garçonete que colocou uma placa de 'reservado' em nossa mesa com o restaurante inteiro vazio, só para nos expulsar por não estarmos consumindo o suficiente para segurar uma mesa. Ou um grupo de ingleses nesse mesmo café, outro dia, que começou a falar de nós como se não entendêssemos nada do que falavam. Um deles perguntou às amigas que língua falávamos e a moça ao seu lado sugeriu o português. Ele disse: 'Sim, definitivamente português, mas não de Portugal.' E a imbecil à sua frente, com um ar de quem sabia tudo, diz de forma conclusiva: 'Isso é Tupi-Guarani!'. Sim, claro! E parabéns por ter adivinhado isso sem precisar reparar no meu penacho na cabeça. Humpf.

Mas tudo bem, Inglaterra para os ingleses. I don't care! O clima gelado e cinza basta para o tempo de cantarolar London, London. É até um clima que gosto, mas é bom que eu não tenha que viver assim por mais de uma estação. O céu azul faz falta e voltar foi bom, muito bom.

Não sei dizer o que mais me surpreendeu. Posso citar essa coisa certinha da cidade, mas também posso citar a sensação que tinha diante de cada ponto que foi cenário da história, que me proporcionava aquele pensamento tipo 'Shakespeare esteve aqui', sabe? Me surpreendeu também a quantidade de estrangeiros que moram naquele lugar. Indianos, sobretudo, pois não estou acostumada a ver uma galera de turbante andando na rua. Nem mulheres com aquelas burcas negras assustadoras. É tanto estrangeiro que ver um inglês autêntico é até estranho. Mas esses são os mais certinhos: usam roupas muito parecidas, falam polidamente, terminam boa parte das frases com 'lovely' e são cor-de-rosa. E eu achava que São Paulo era o máximo do cosmopolitano, mas fui obrigada a reconhecer que ainda tem chão pra chegarmos naquele estágio. Por esse motivo há restaurantes de todos os tipos. Isso é algo com que estou acostumada onde moro, mas nunca passei uma semana inteira comendo de forma tão diversificada: italiano, indiano, grego, turco, tailandês... E esse último, meus queridos, virou um vício. Mas não, eu não comi baked potato. Potáto.

Olha, gostei. Me surpreendi com o quanto gostei. É outro clima, e ver outra cultura de perto é sempre enriquecedor. Talvez eu volte um dia pra passear simplesmente, quem sabe?

Lovely!

VONTADE*

* por Carolina Munhoz

Vontade de beber mais água durante o dia
Vontade de ver mais dias de sol
Vontade de comprar flores
Vontade de entrar em um vestido "bandage"
Vontade de usar mini-saia
Vontade de ser pedida em casamento
Vontade de ter o trabalho reconhecido
Vontade de meditar
Vontade de começar a fazer exercícios
Vontade de falar 5 línguas
Vontade de ler mais livros
Vontade de não dar mais satisfação a ninguém
VONTADE de apertar o botãozinho "reset" da vida,
E começar tuuuuuuuuudo de novo..........

Carolzinha é minha companheira de trabalho. Querida. Ela está sempre por aqui e nunca comenta. Me disse outro dia, se desculpando por alguma cobrança que fiz, que não escrevia como eu. É claro que ela quis encher minha bola e tirar o corpo fora. Mas daí ela me aparece com um post cheio de sentimento, vejam vocês. Bobinha: me pegou de surpresa!

E sobre ele, mocinha, a gente conversa pessoalmente. Hã. ;)

22.9.09

Quando fico sozinha eu não ligo a tv. Sempre acho que o barulho dela me irrita. Mas hoje eu percebi que, na verdade, o barulho que existe dentro de mim é que é ensurdecedor. A tv nunca fez diferença.

21.9.09

Um querer mais que bem querer

Eu quero que tenha sucesso. Que tenha motivos para sorrir a cada instante, que alcance sonhos. Que seja motivo de orgulho, não só para mim. Que se alimente bem, que caminhe, que enriqueça, que se goste. Mais do que eu mesma gosto, o que é muito.
Quero que tenha amigos. Amantes. Filhos.
Que se busque e que se conheça, que se entenda e que se encontre.
Que não veja meu choro e tenha força pra seguir em frente, e siga, e chegue adiante e mais adiante.
Que se liberte de todos os males, que seja realmente feliz.
Como o meu querer deseja, no mais profundo lugar da alma e na superfície.

7.9.09