19.11.07

Insônia

Passei noites e noites acordada durante a infância: eu morava em um lugar muito perigoso que tinha assaltos constantemente, e por medo acabava perdendo o sono. Eu me lembro de dormir bem apenas nas noites chuvosas, pois imaginava que os ladrões não iam querer sair de casa com água caindo lá fora. Lembro de uma vez que acordei minha mãe preocupada por meu pai que não havia chegado, e pouco depois recebemos a notícia de que ele havia sofrido um grave acidente. Outra que acordei meu pai por ter a impressão da casa ao lado estar sendo invadida por bandidos e bingo! Eu estava certa mais uma vez. O medo não me deixava dormir.

Mudamos de casa, e a insônia não passou. O medo foi embora com o tempo, e ao invés disso eu colocava a culpa da falta de sono no meu amor platônico pelo mocinho do colégio. Acordava todas as noites por volta da 1 hora da madrugada, ligava o rádio e escrevia sem parar: poeminhas, declarações, diário... Tenho tudo isso guardado até hoje. A vantagem dessa época foi minha ampliação de conhecimentos musicais, meu interesse literário nascente e meu vocabulário de inglês que crescia a cada dia, quando eu pegava letras de músicas para traduzir. Mais um tempo e eu seria autodidata no idioma, mas não deu: comecei a trabalhar e, estudando, me sobravam apenas 6 horas por noite para dormir, não havia mais tempo para insônia. Isso já tem uns 15 ou 16 anos.

Quando deixei o trabalho, sofri com depressão. Por volta de 1 ano passei as noites chorando e pensando em como a minha vida era uma completa desgraça. Após a longa crise, passei a preencher as noites estudando para o vestibular, depois para faculdade, depois fazendo trabalhos extras durante o estágio, depois era o emprego que me fazia levar trabalho para casa, depois a culpa foi do excesso de responsabilidade em meus projetos pessoais e meu perfeccionismo que não me permitiam delegar funções. Tornei-me notívaga. E assim, de fato em fato, eu me sentia realizada quando conseguia completar 6 horas de sono. Raro. Mais comum era varar a noite para cumprir algum dever.

Não tenho medo de assaltos onde moro, não sofro com o medo do 1o beijo e nem com algum amor platônico. Já passei no vestibular, sou formada há bons anos e acabei minhas responsabilidades do dia há 3 horas. Há duas semanas tenho conseguido atingir algumas metas e descansar um pouco mais. E há exatas duas semanas sofro de insônia. Quando desisto de esperar o sono chegar, tomo algum remédio que o provoque. Neste exato momento estou esperando com que o último que tomei faça efeito. Se eu ligar o som em um volume que julgue audível, o vizinho de baixo interfona em 3 segundos pedindo para respeitar a lei do silêncio. O que me resta? Diário! Ou melhor: o blog!

Tudo o que eu queria agora era ser uma pessoa muito, muito genial para escrever uma teoria que revolucionaria o planeta e fazer desse tempo algo útil.

15.11.07

Recuo


3 passos muito cuidadosos: 1, 2, 3. E ela se deparou com aquela imensidão de água que sempre olhou de longe. E assim, de perto, viu que aquilo realmente a seduzia. E o ar chegou a faltar quando pensou 'um toque, e talvez isso me dê coragem de mergulhar'. E então ela tirou a sandália e curvou o dedo do pé, levando-o lentamente à água. E a pontinha do dedo tocou a superfície, e uma série de ondas começaram a tomar a extensão do espelho d'água. O ar faltou de novo, e então o medo tomou conta da sua alma, e sua pele se arrepiou por completo. Percebeu que não conseguia, que não podia. E engolindo o susto, tornou a calçar a sandália e, virando as costas para toda a água que a cumprimentava, correu. Foi para longe, contemplar o espelho daquela janela onde sempre esteve, pensando que algum dia poderia molhar mais um dedo, e talvez aquilo desse a coragem que lhe faltou desde sempre.

3.11.07

Tarde, dona Cátia!

Os anos 50 me deixariam feliz. Eu adoraria, de verdade, ter vivido numa época onde a estrutura familiar fosse mais sólida, onde a liberdade individual fosse embrionária. Eu sou uma pessoa afeita às tradições, sim. Além de gamar na art déco e nos music halls.

Mas tendo um pouco mais dos pés no chão, algo que me faria bem no quesito ‘mudança de estilo de vida’ seria ir para o interior. Eu acho que sentiria falta do conforto de se ter a diversidade cultural vizinha como temos numa megacidade, apesar de raramente ter usufruído dela nos últimos meses. Mas se eu tivesse nascido lá, não sentiria falta de nada disso...

Eu acho que me seria mais útil viver contemplando a quantidade de folhas nas árvores e suas nuances durante as mudanças de estação, tomar um café preto debaixo de um flamboyant vermelho, sentada na grama, enquanto o vento gelado de um dia azul do outono viesse me abraçar. Conhecer todos os vizinhos (entenda-se por vizinhos as 100 famílias habitantes dos 30 km mais próximos), e poder ler um livro na porta de casa até ser interrompida por um passante que me dissesse ‘tarde, dona Cátia’ e eu pudesse lhe oferecer um bolo de fubá com erva doce. E enquanto conversássemos sobre a mudança do plantio na fazenda do Sr. Pedro Freitas depois que seu filho mais velho foi para a cidade grande estudar veterinária, o Seu Zé, no intervalo de sua degustação do melhor bolo de fubá das redondezas, me diria que deu no rádio uma notícia sobre uma tela como a televisão que existia na casa da dona Maria, viúva do Seu Alfredo, onde as pessoas poderiam conversar com as outras mesmo em outro lugar do mundo, como se pudessem ler a carta que o outro escreve instantaneamente, sem precisar esperar que o Sr. Antônio da central dos correios passasse na quinzena para pegar o envelope. E enquanto eu lhe servisse um licor de pêssego feito em casa e embrulhasse a compota de figo para que levasse à sua esposa com o convite de um almoço no domingo, lhe diria:

‘- É, Seu Zé... Esse povo da cidade não tem mais o que inventar! É cada idéia...’

1.11.07

Talento indiscutível

Parabéns ao são paulinos, que deram duro para ganhar o campeonato!
Segue a foto do time, que saiu no caderno de esportes do Estadão (pág. E8), para que vocês usem de fundo de tela.


Como diria Bart Simpson, 'eu não fiz isso!', juro que não é montagem...

A foto não nega o talento da equipe, fazendo o teste da ré no kibe para eleger o melhor mini kibe! (reparem na cara de felicidade da fila da frente!)
Parabéns novamente!