29.3.07

Rock street

Alguém como eu só poderia se encontrar em um ambiente retrô com esse endereço.
Daí escuto Pam V e Curse of comfort e quero estar nesse exato momento na Rock Street, cheirando paredes recém pintadas, com o pé escorregando no pó da massa corrida, na sala tingida de dourado às 5 e meia da manhã tomando o café-meu-de-cada-dia, amém. Tomar banho com Dove de chá verde, gritando as letras pelos corredores, tropeçando até a 14 bis enquanto sinto o cheiro da lavanderia no percurso.
Recordar é viver.

25.3.07

Perguntas sem resposta

- Por que a vida é dura?
- Porque se fosse mole, seria gelatina!

* para as horas em que rir é o melhor remédio!

Outubro

Ele era viciado em pornografia mas preferia dizer que apreciava a arte do erotismo. Colecionava wallpapers, pôsteres, revistas, vídeos e o que mais aparecesse pela frente. Alimentava o mercado pornográfico assim como um viciado alimenta o tráfico de drogas e seu maior hobby era navegar durante a madrugada pela web, quando todas as chamadas de primeira página apelavam para seus fetiches. Coisas do tipo 'baixe um calendário de bundas para deixar seu ano abundante', e lá estava ele fazendo 324 downloads ao mesmo tempo. E torcendo para que o mês virasse logo e uma nova bunda decorasse o desktop.
Vendo só esse tipo de coisa acabou por educar seu gosto ao corpo perfeito, e nenhuma namorada poderia ser flácida, ter um pneuzinho, celulite ou sequer uma mísera estria. Tinham que ser deusas, pois ele precisava exibir a exigência que seu gosto havia desenvolvido. E dentre o mar de pessoas fúteis que ele conheceu nesse sentido, a última era das melhores: ela saía na capa da capricho, era grande aspirante ao Big Brother - talvez se tornasse uma celebridade e um símbolo sexual do país! - e o melhor de tudo: sua posse.
- Frufruzinho, recebi um convite para posar na 'bundas de gostosas'. Não é ótima notícia?
- O quê??? Mulher minha não vai sair em revista pornográfica nenhuma!
- Mas não é pornográfica, meu mel! É uma revista de arte, arte erótica!
- Arte erótica? Você não entende nada disso! Não vai, e ponto.
- Mas ursinho, é meu trabalho! Eu ganho por isso!
- Então você é o quê? Prostituta? Não! Você é minha namorada, e namorada minha pode até aparecer na TV, mas cobre a bunda!
- Tá bem, bizungo... tá bem.
Ele respirou aliviado. E balbuciou:
- Já pensou se algum imbecil-escroto-que-não-tem-o-quê-fazer comprasse a tal 'bundas-não-sei-o-quê' e resolvesse homenagear a MINHA namorada gostosinha? (Vou fazer o download desse vídeo no L world) Só por cima de meu cadáver, que a pituca não é prá isso. (Preciso renovar minha assinatura de Hustler). Mulher minha pode ser fútil, mas não dada prá essas coisas. Que bom! A bunda do desktop de outubro é a melhor do ano!
A pituca, dia desses, sentou ao seu lado no computador. Sorriu. Sua bunda era linda, aquela era a melhor das fotos que tinha tirado até então, e ele gostava.

24.3.07

Caso antigo

Eu tenho um caso antigo e intenso com o trabalho. E a convivência com ele é insuportável algumas vezes. Hoje mesmo: olho prá ele, ele prá mim e ficamos assim, por tempo indefinido, sem nos entendermos. Daí fico brava, bato o pé e vou deitar, achando que na hora que acordar a gente faz as pazes. Algumas vezes funciona, mas ultimamente não tem adiantado mais.
A rotina acabou com a nossa harmonia.

Leguminosas

Eu achava que odiava creme de milho quando era criança, e beringela também. Daí meu pai me dava uma sova e me obrigava a comer tudinho. Ele dizia àquela menininha de 5 anos que ela não podia formar opinião sobre coisas que não tinha experimentado. É...
A gente cresce e aprende que nem chega a tentar várias coisas na vida por acreditar que não funcionará conosco. A gente prevê a derrota da beringela antes de prová-la. Daí podemos nunca descobrir o sabor dela, podemos descobrir que perdemos a oportunidade de comer a melhor coisa do mundo ao nosso paladar. Não é um desperdício?
É assim que as possibilidades vão embora. Hora dessas a beringela e o milho sucumbem à extinção e babau, já era... Você nunca vai saber como teria sido, pois você achava que não conseguiria lidar com aquilo. E elas foram embora do mundo. Do seu mundo.
Vai, tente se enganar. Dia desses, quando você precisar de proteínas, vitaminas e alcalóides, a beringela estará extinta, meu caro!

19.3.07

Você sabia...

... que eu adoro aspargos*?

*frescos, grelhados, com azeite, sal e pimenta do reino!

Earth angel

Já falei que nasci na época e local errados, né? Então: o dia está cinzento e eu estou feliz por isso. Sou a única pessoa por aqui satisfeita com o vento que está soprando lá fora. Mas nada me remete mais ao meu verdadeiro eu do que as musiquinhas de bailes dos anos 50/ 60. Então...

Earth angel
(Marvin Berry)

Earth angel, earth angel, will you be mine,
My darling, dear, love you all the time.
I'm just a fool, a fool in love with you.

Earth angel, earth angel, the one i adore.
Love you forever and forever evermore.
I'm just a fool, a fool in love with you.

I fell for you, and i knew
The vision of your love's loveliness,
I hope and i pray that someday
I'll be the vision of your happiness.

Earth angel, earth angel, please be mine,
My darling, dear, love you all the time.
I'm just a fool, a fool in love with you.

18.3.07

Trânsito e TPM

Eu até gosto do transporte coletivo. Não o de São Paulo, mas como alternativa de transporte. Eu sinto toda a tensão do guia quando estou de carona num carro, e automaticamente assumo a irritabilidade por todos os transtornos de quem dirige numa cidade como a minha. É muito estressante conhecer o condutor do veículo e, pior, estar do lado dele. Então prefiro o coletivo. Metrô, pela facilidade; ônibus, pela oportunidade de contemplação. No ônibus eu não preciso fazer sala ao vizinho de banco e a lentidão sempre me faz prestar mais atenção no que acontece ao redor, muito propício às minhas vãs filosofias.
E falando em trânsito, eu estava pensando no mocinho que vi fazer malabarismos de farol noutro dia, indo ao trabalho com meu irmão. Ele jogava as bolinhas lá encima, para toda a fila do congestionamento conseguir enxergar. Dava voltas enquanto esperava-as descer, pegava algumas com o pescoço, e além do que esbanjava simpatia. Eu não ajudei pois sigo a política de não-incentivo ao subemprego, mas dá vontade! Ele é fofo, e diz um 'vai com Deus' lindo quando alguém colabora (mulher é bicho bobo, mesmo). Já na Paulista, outra vez, um tiozinho com andar bêbado passava de mão estendida de fora a fora pedindo esmola. Esse é o tipo de coisa que não entendo como alguém é capaz de ajudar. Tive vontade de descer e falar: 'Você é louco? Acha mesmo que tem o direito de pedir esmola para encher a cara?', mas daí eu lembrei da que estava de TPM e achei melhor respirar fundo e deixar prá lá.
Aliás, cuidado: estou de TPM!

17.3.07

A mulher de (quase) 30 anos

Eu me orgulhava tanto de não ter rituais de beleza até os 25 aninhos... A vida era bela!
Então você percebe que a celulite existe, que os cabelos ressecam e que a região dos olhos sofre a ditadura das leis da natureza. Talvez a natureza fosse mais justa se nos desse um dia de 48 horas para podermos cumprir toda a rotina pré 30. Acordar, tomar banho com óleos de pele, passar hidratante, usar o leite de limpeza seguido de tônico facial, corretivo, base com filtro solar, rímel, sombra, lápis, batom, perfume, desodorante para os pés. Precisamos de, no mínimo, uma hora para escolher se tanga, se saia, se calça, se camisa, se blusinha, se sandália, se sapato, se bota. Quando você pensa que vai respirar, é hora de combinar a bolsa, o cinto, o brinco, o anel, a pulseira e o colar. Daí você vai segurar sua vaga no mercado de trabalho machista, precisa doar-se o dobro para conseguir garantir metade do salário deles, ouvindo desaforos de todos os peões de obra e engenheiros, além das cantadas mais irritantes. Depois vai chegar em casa, lavar 3 tipos diferentes de folhas verdes e combinar com algo vermelho cheio de licopeno para combater os radicais livres: isso é tudo que você tem permissão de ingerir sem ganhar 1 quilo extra em seguida. Tomar banho sem esquecer de passar a bendita lixa para os pés, silicone nos cabelos, secador, lavar o rosto com sabonete adstringente, passar restaurador para região dos olhos, hidratante novamente, óleo secante nas unhas dos pés, lixar as unhas, tirar as lentes, escovar os dentes com toda a neurose de quem se move à café, enfrentar o segundo turno da infindável jornada de trabalho. Sem esquecer da manicure, depilação, do shampoo sem sal, da massagem anticelulite e das drenagens linfáticas. Com sorte você junta dinheiro para uma HLPA!
E eu queria ser gente grande. Tolinha.

13.3.07

Procura

Acorda e olha ao redor, e novamente olha ao redor. Passos curtos fazem com que os pés analisem cada instante. Cada pessoa é fonte de investigação, cada momento é seguido de um pensamento distante. E os minutos batem como facadas no peito, como se a esperança morresse a cada respiro de certeza que chega invadindo sua vida. E tudo se torna um mar de confusão, onde o que se busca afogar é justamente o que preenche seus pulmões.
Ela sou eu.

11.3.07

Legião

'Mentir prá si mesmo é sempre a pior mentira...'

10.3.07

Série: Para começar a amar...

...Super Furry Animals

Adoro o espírito criativo deles e o lado cômico de boa parte das músicas. Tão cômicos que o vocalista definiu o último álbum (Love Kraft) como 'viajandão'. Neste mesmo álbum, inclusive, há uma música chamada 'Oi, Frango', composta pelo guitarrista numa tentativa de compôr algo em português quando de sua estada de 1 mês no Brasil para finalizar o Love Kraft (tentativa frustrada, já que a música é instrumental).
Em 13 anos (a banda se formou em 1993) eles já gravaram 7 álbuns.
Minha lista de preferidas, na ordem, é a seguinte:

Demons (primeiríssima sem sombra de dúvidas!)
City Scape Sky Babe (a letra mais nonsense de todas)
Don't be a fool, Billy (don't be a stranger, be a friend!)
Pam V
Hello Sunshine
Receptacle for the Respectable
Juxtaposed With You
The Turning Tide
Frequency
Northern Lights
Y Teimlad
Hometown Unicorn
Atomik Lust
Liberty Belle
Venus and Serena


Bom proveito aos interessados!!!

8.3.07

The Truman Show

E o Bush está chegando. As ruas do Brooklin estão interditadas. A 23 de Maio e a Berrini também. O hotel vai funcionar em sua função, bla bla bla.
Para se ter uma idéia da cena toda, retiraram as faveletas de onde o pregador da 'democracia americana ou morte' vai passar. Ou seja: o cara vai sair daqui falando que São Paulo é uma cidade sem trânsito e sem miséria, linda linda... E isso pq ele veio aprovar programas de ajuda. Eu suponho que ele vai desembolsar bem menos do que poderia caso visse a realidade.
Daí questiono se só um país subalterno e ignorante como o nosso faz esse tipo de teatrinho ou se isso é uma ordem geral à visita do vesguinho. Se for assim, o Bush não conhece realidades! Ele passeia em ruas sem trânsito, sem faveletas, sem violência. Toma sempre a água Perrier que manda trazer e só precisa gritar 'save the american people!'. A vida dele é um roteiro no pior estilo Zorra Total, que usa sempre a mesma piada e só muda a cor da (pouca) roupa da fulana que mostra a bunda. É sempre a chegada triunfal, a escolta cinematográfica, a água Perrier inseparável, as visitas sociais, as mesmas pregações acaloradas que nunca mudam e as mesmas manifestações públicas vazias de verdade. A única coisa que muda é o cenário. O cenário de hoje é a Paulista recheada de integrantes do PSTU gritando palavras de ordem em português: 'FORA, BUSH!'
E tem gente que perde mesmo tempo com isso, só prá gastar o que restou do dinheiro público em expediente policial e balas de borracha contra eles mesmos. Tanta gente, só para somar hipocrisia.

7.3.07

Desilusão

Meu irmão estava me dizendo noutro dia que se sente super culpado por andar de carro sabendo do efeito estufa e das mudanças climáticas do planeta. Para a cabecinha dele eu acho que é o tipo de pensamento completamente dispensável.
Mas daí eu me lembro o quanto sofro quando penso na efemeridade das coisas. E cá estou, deprimida again, por concluir o óbvio: tudo acaba. Humpf.

4.3.07

29

Nasci há 29 anos. A primeira imagem que tenho em mente é de meu pai segurando minhas mãos me ensinando a dar os primeiros passos. Viagem ou não, é uma imagem forte. Lembro que aos 4 minha mãe me acordou na manhã de 24 de dezembro avisando que o papai Noel ia passar em casa à noite: esse é o primeiro Natal de que me recordo. Ainda pequeninha eu prendi o dedão na porta do quarto e doeu um monte, e minha unha desse dedo nunca mais foi a mesma. Uma outra vez, nesse mesmo quarto, fiquei de castigo e desarrumei tudo para demonstrar minha insatisfação com aquele corretivo que me aplicaram. Lembro do bolo de aniversário em forma de tronco de árvore e aquele da casa da Moranguinho. Eu colecionava papéis de carta e os trocava, mas o destino deles era o meu futuro namorado, que nunca recebeu nenhum daqueles papéis pois eu tinha um apego fora do normal com eles. Fui fã de Menudos e Dominó. Tinha pavor em dar meu primeiro beijo. Sofri um trauma com a mudança de casa em 1989, e ainda mais com a mudança de escola, pois deixava para trás os meus amigos e meu primeiro amor. Na nova escola aprendi a pensar em mocinhos com mais frequência e ouvir trilhas sonoras para um amor desencontrado. Foi lá também que aprendi a andar de ônibus. Era popular e jogava mal e porcamente o voleibol. Em compensação eu dançava como ninguém. Dei meu primeiro beijo no meu segundo amor, aos 12 anos de idade. Aos 13 mudei de escola e conheci amigos que são presentes em minha vida até hoje. Fiquei fanática por Information Society quando me apaixonei de verdade pela terceira vez na vida, engatando um namorico de 5 anos que moldou uma série de coisas em mim: me transformou em alguém pensativa e de alma envelhecida. Aos 15 eu arranjei o meu primeiro emprego e adquiri responsabilidade, ao mesmo tempo que fazia agenda e descobria meus dons. Foi nessa época que Roxette me fazia chorar, mas já ouvia Smiths e achava o máximo. Aos 16 eu descobri que Deus existia e minha mente começou a se abrir para a vida. Aos 17 eu sofri de depressão por motivos bem tristes, e aos 18 continuei mergulhada nisso por um bom tempo, renascendo com o fim do namorico. Tive um amigo importante que me ajudou a chorar nesse tempo e me levou para conhecer pessoas e diversões, mas foi uma época em que me senti perdida. Entrei na faculdade em 1996. Passei 5 anos nulos indo à graduação. Nulos de vida. Virei workaholic nesse meio tempo. Meu irmão mais velho sofreu um acidente de carro que mudou as nossas vidas em 2001, véspera de Natal. Meu namorado foi morar no sul do país. Meu pai foi embora de casa. Passei a ser o homem da casa e amadureci ’50 anos em 5 meses’. Abri um escritório com uma das minhas melhores amigas e saí da casa de minha família aos 27 anos. Aos 28 eu mergulhei em mim e tomei decisões de gente grande. Nesse período uma pessoa me perguntou:
- Quem é a Cátia???
E aos 29 eu ainda não sei responder bem a essa pergunta. Só sei que nasci na época e no local errados. Que sou dada à melancolia. Que tenho um gênio forte. Que gosto de bolinhos de chuva. Que gosto de me molhar na garoa. Que adoro o céu de outono. Que cultuo o hábito de acordar às madrugadas. Que amo ler. Que não como fritura sem torcer o nariz. Que venero música. Que sou viciada em café. Que morro por pessoas. Que possuo mais saias rodadas que calças. Que batalho além do normal. Que trabalho mais além ainda. Que tenho medos pertinentes. Que adivinho o sexo dos bebês. Que cozinho como Amélia. Que tenho fé em Deus. Que me acho cheia de imperfeições. Que sonho em fazer flamenco, teatro, gastronomia e filosofia. Que cresci como patinho feio. Que adoro o silêncio. Que sou polida ao extremo. Que condeno injustiça. Que escrevo por necessidade. Que tenho sede de cultura. Que adoro os presentes menos sofisticados e mais simbólicos. Que prefiro doces de compota à tortas holandesas e afins (mas deixe o brigadeiro fora disso). Que contemplo borboletas. Que não durmo sem banho. Que abomino machucar os outros. Que me derreto por fazer alguém que amo sorrir.
O essencial, no entanto, ainda está escondidinho.
Que será dos 30?

2.3.07

Patetices

Na pré escola o menininho mais chato da turma xingou Marina de boba e grudou chiclete em seu cabelo. Ele era perdidamente apaixonado por ela.


//

Logo após deixar pichado em frente à casa a poesia de ambos, derramou pétalas da sua flor preferida na entrada do seu escritório e pagou ao tio do 'caminhão da cândida, da super cândida' para que colocasse a música dos dois no megafone quando estivesse passando por sua rua. Então ela sentiu saudades e resolveu mandar um email:
"Oi, tudo bem?
Queria dizer que você é importante para mim e que se precisar de qualquer coisa estou aqui...
Sinto saudades - Marina"
10 minutos depois veio a resposta:
- Marina, sua vagabunda! Você prometeu que seria minha prá sempre! Você me usou, você é decepcionante!!! Te odeio, viu Marina?
E ela pensou, pela enésima vez: 'sim, eu sou patética...'