Eu escutaria
'The Wedding Samba' até cair se tivesse escolhido a época em que nasceria. Mas não, sou uma workaholic na madrugada de um sábado, sentindo saudades do trabalho concluído (que eu maldizia ainda nessa semana). Um filme? Não, a TV me cansa. Poderia terminar meu livro (um bom livro é sempre uma excelente opção) mas a cabeça está cheia e quero ter olhos somente para ele quando folhear as últimas páginas: estou com medo de chegar ao fim e não ter mais sua companhia.
'Medo de chegar ao fim e não ter mais sua companhia'. O fim dos bons livros são como finais de relacionamentos: doem tanto! Me espanto quando me remeto aos 18 anos: sinto a dor que senti naqueles dias, quando ele me dizia que havia encontrado outra pessoa. Havia pouco ele me pedia para ter um filho dele! A adolescência tem um grau de insanidade, fruto da imaturidade, que é perigoso. E o ex-namoradinho vai ser pai em poucos meses. Ele deve estar feliz, queria ter visto sua alegria quando soube da notícia. Tem o boato que se separou da mulher pois ela queria filhos e ele não, e 6 meses depois já estava com outra mulher, esperando um filho. Até ele vai ser pai! Pai... o que dizer do sujeito cujo filho foi visitá-lo no
dia da paz universal, quando voltava de uma viagem de 7 horas, desviando o carro na estrada e viajando duas horas a mais no sentido contrário de seu destino para dar um
abraço-de- feliz-ano-novo, mas ouviu pelo interfone 'não vou atendê-lo, já é muito tarde: volte outro dia'? Aquelas atitudes difíceis que tomei, por mais dolorosas que tenham sido, me libertaram profundamente e me pouparam de situações assim. Pelo mesmo motivo a
ex-roomate saiu de sua casa. No caso dela, ela ficou feliz e quem sofreu fui eu. Naqueles dias pensei que a pior coisa que podia ter feito foi ter saído de casa. Mas com o tempo - que coisa! - aquilo se tornou a melhor experiência da minha vida. Saudade. Acho que por isso meu coração borbulha quando meus amigos me dão a notícia de estarem indo para um canto deles. Me dou conta agora de quantos farão isso em breve, o que dá um destino nobre para a partilha de todas as minhas experiências, de lavar a roupa à traçar um destino cultural de uma pessoa só. Vontade incontrolável de andar na Paulista sem rumo, durante a noite, vendo as figuras ímpares. Era o que eu fazia muitas vezes. Mas chove, certamente não faria isso hoje se estivesse na Rocha. Provavelmente abriria um vinho, ficaria no escuro da sala ouvindo a chuva se mixando com a trilha sonora escolhida. Hoje, seria Genesis. Quando chove ou faz frio, geralmente é Genesis. Começaria com Carpet Crawlers, e imaginaria os serezinhos rastejando... na chuva! A chuva me encanta. E, na Rocha ou na colina, não há melhor programa. Vinho e música. Vou lá.