2.4.08

Zona de conforto

Certa vez, um perito pediu para analisar minha assinatura. Dentre outras coisas, disse que eu não sabia sorrir quando pisavam em meu calo e que não nasci para ter patrão. Começo a acreditar piamente nisso. E lá vou eu, novamente, me enveredar por novos desafios (ou melhor dizendo: novas tentativas!).

Eu sempre fui muito pró-ativa. Acho que o grande diferencial entre mim e a grande massa que cruzou comigo na questão de desenvolvimento profissional foi justamente essa. Um dia, na construtora em que trabalhava, meu diretor me chamou para uma conversa. Eu havia proposto trabalhar para ele com um horário reduzido e tocar meus projetos pessoais, e então ele perguntou o que eu queria exatamente. Nem eu soube dizer, mas então ele me disse que sentia que eu estava numa zona de conforto, e que se preocupava com uma possível estagnação de minha parte por causa disso. Doeu.

Há várias coisas que me tiram do sério, mas na ordem de prioridade vêm as pessoas que amo e em seguida, colada à anterior, vem a avaliação que as pessoas ao meu redor têm do meu trabalho. Falar para uma pessoa como eu que ela está numa zona de conforto, estagnada, é como xingar a mãe de mulher da vida. Não deu, fui embora. Eu nem tinha muito certo o que faria quando saísse de lá, e ao final o 1o escritório que trabalhei como formada, que tem trabalhos fantásticos, me convenceu a voltar e eu fui. Isso tem 7 meses.

Daí que lá ocorreu o contrário: eu cheguei com todo o gás do mundo. Estava tão certa da minha escolha e tão motivada com minhas possibilidades profissionais que doei todo o meu tempo para dedicar-me ao desenvolvimento de meu projeto, rompendo com todos os clientes que eu atendia, digamos, como 'pessoa física', sem vínculos. Estava realmente feliz.

Por um acaso do destino, algo deu errado no que havia sido planejado: minha chefe, que me treinava para assumir o projeto em que eu estava, teve problemas sérios de ordem pessoal e precisou ausentar-se por um período não muito breve. Nesse momento eu assumi tudo, a coisa começou a andar do meu jeito, estava tudo bem. Fui elogiada interna e externamente ao escritório. Mas então chegou uma terceira pessoa que conseguiu melar com toda a minha desenvoltura, fazendo com que me sentisse incompetente diversas vezes e questionar a escolha que eu havia feito para sair da zona de conforto. E eu fui colocada na zona de conforto novamente, contra a vontade. Acho que nunca me senti tão deslocada e perdida profissionalmente como estive nos 2 últimos meses.

É muito estranho comunicar à chefe que você admira e se dá bem que você não quer mais ficar na zona de conforto, até porquê nem eu sei bem definir a zona de conforto de onde estou hoje. Sei, por exemplo, que mandar e-mail assinando por outra pessoa e ignorar e-mails que me mandam diretamente para que outra pessoa responda me dão sensação que estou na situação mais patética do universo, mas não dava para usar isso como O argumento. Mas consegui dizer, por exemplo, que desisti de tentar me sobressair e trabalhei como estagiária nas últimas semanas só para evitar atritos, e que achava que me manter dessa forma era injusto com o salário que me pagavam. Há também uma série de problemas na estrutura, que acho que poderiam ser resolvidos, mas ainda assim eu resisti às possibilidades que ela me apresentou para reconsiderar. Penso que se não fosse a terceira pessoa eu poderia estar contente, e sabe-se lá se um dia sairia de lá. Mas parece que o cosmos não gosta que eu chame um lugar de meu.

Não faço a menor idéia do que me aguarda. Mas, juro, prefiro trabalhar com um zé-ninguém que saiba aproveitar minha ambição profissional, e crescermos juntos, do que ter toda a autonomia do mundo num lugar que queira me deixar numa zona de conforto. Definitivamente, isso não combina comigo.

Mesmo sem ter noção do que me aguarda, não me sinto mais perdida. Espero que daqui outros 7 meses eu possa dar boas notícias sobre o lugar MARAVILHOSO que estarei trabalhando, e sossegar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Putz... ler o seu post na situação que eu estou é foda!

Concordo muito com você, mas as coisas são mais complicadas do que parecem e lugar perfeito para trabalhar, infelizmente, não existe...

Continuo na luta!
Beijokas.

Lucca disse...

Ai, ai...
E quanto de NÓS há no que você escreve. Mais "DOIS", impossível. E isso de "zona de conforto" é mesmo uma buesta, vamos combinar. Mas Cá, meu amor, não se iluda: não há SOSSEGO para pessoas como nós! Quiçá um lugar pra chamar de "nosso", camaleônicos que somos.
A verdade é que NÃO NOS ACOMODAMOS e NÃO NOS PRENDEMOS. Mostrem-nos um novo DESAFIO e lá iremos nós, seduzidos. Trocando qualquer VIDA MORNA por uma situação de TEMPESTADE IMINENTE!
Estou dizendo tolices? Rs.
Assim somos nós, babe!
Mas vá com fé que é por aí que a banda toca!
Beijooooooooooooooo!
Amooooooooooooooo1