Estou à beira dos 30. E a sensação, confesso, não é das melhores. Pois chega numa certa idade e você se dá conta que a época de tomada de rumos já passou e há coisas que não terá mais tempo de fazer, coisas que você sonhou. E ao mesmo tempo, dá uma saudade enorme das crises adolescentes, quando o mundo parecia estar acabando por causa de um beijo não dado na festa de fim de ano do colégio.
Depois dos 18 anos eu forcei meu crescimento. E foi positivo, eu saí da mediocridade e aquele passo fez com que eu me tornasse uma pessoa com algo além, com algum conteúdo. Eu busquei cultura, auto-conhecimento, ser sempre cheia de empatia. Consegui tudo isso num grau maior do que imaginei ser possível até então, com a minha ignorância infantil. Mas hoje, passadas as grandes batalhas da construção do meu eu, não sei se o preço valeu. Tenho saudades de uma parte razoável da minha mediocridade, de parte da minha ignorância que me fazia sorrir mais, dos meus valores mais ortodoxos que faziam de mim uma pessoa melhor para os outros. Essas coisas todas faziam de mim uma pessoa incansável de buscar, com fé no mundo, com fé no próximo, que via bondade em cada sorriso e amor em cada demonstração de carinho. Eu era uma pessoa que não conhecia o egoísmo e que tinha finais de semana para ir ao cinema ou caminhar no parque.
A última peça de teatro que assisti deve ter 1 ano, o último filme que vi no cinema deve ter alguns meses, a última vez que caminhei num parque já nem me lembro. Então não creio mesmo que todo meu esforço para ser uma pessoa firme e uma profissional exemplar tenham valido a pena. Até porque eu tenho me reavaliado profissionalmente, e agora que estou retornando aos meus iguais vejo que não sei mais do que ninguém, e que estagiários do 2o ano estão mais por dentro do mundo da arquitetura do que eu, sem dúvida.
E nesses dias pensei na minha primeira sessão de terapia, quando minha terapeuta perguntou se eu tinha sentimentos ligados à morte. E eu pensei: 'não, que horror! Nem nas minhas piores crises!'. Aquilo não fazia sentido. Mas por esses dias, fez - tamanho o cansaço que estou da vida e das pessoas. E então vi que a coisa está fora de controle, e decidi ser mais drástica com as atitudes que já deveria ter tomado e protelei por apego. Estou, definitivamente, deixando meus trabalhos, deixando o status que construí por anos, para poder voltar a viver. Preciso voltar a ver amigos, a dormir uma noite de sono tranqüila, poder visitar meus irmãos ao menos uma vez por quinzena, ver minha afilhada crescer mais de perto, levar a Mel para andar na grama, deitar com o simples propósito de ouvir um disco novo ou ler um livro que ninguém nunca ouviu falar.
Estou cansada, muito. E estou matando um estilo de vida inteiro para poder matar, junto, a saudade que sinto de mim. Pois se a raça humana acabar em 50 anos ou se minha vida acabar em poucas semanas quero ter um sorriso nos lábios, e não olheiras mais profundas.
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Um comentário:
e que descanse em paz!
mate, mesmo.
e nem preciso falar que entendo PERFEITAMENTE tudo o que você disse e sente, né?
saudades imensas de você, querida.
um beijo e ótima semana"
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