Os anos 50 me deixariam feliz. Eu adoraria, de verdade, ter vivido numa época onde a estrutura familiar fosse mais sólida, onde a liberdade individual fosse embrionária. Eu sou uma pessoa afeita às tradições, sim. Além de gamar na art déco e nos music halls.
Mas tendo um pouco mais dos pés no chão, algo que me faria bem no quesito ‘mudança de estilo de vida’ seria ir para o interior. Eu acho que sentiria falta do conforto de se ter a diversidade cultural vizinha como temos numa megacidade, apesar de raramente ter usufruído dela nos últimos meses. Mas se eu tivesse nascido lá, não sentiria falta de nada disso...
Eu acho que me seria mais útil viver contemplando a quantidade de folhas nas árvores e suas nuances durante as mudanças de estação, tomar um café preto debaixo de um flamboyant vermelho, sentada na grama, enquanto o vento gelado de um dia azul do outono viesse me abraçar. Conhecer todos os vizinhos (entenda-se por vizinhos as 100 famílias habitantes dos 30 km mais próximos), e poder ler um livro na porta de casa até ser interrompida por um passante que me dissesse ‘tarde, dona Cátia’ e eu pudesse lhe oferecer um bolo de fubá com erva doce. E enquanto conversássemos sobre a mudança do plantio na fazenda do Sr. Pedro Freitas depois que seu filho mais velho foi para a cidade grande estudar veterinária, o Seu Zé, no intervalo de sua degustação do melhor bolo de fubá das redondezas, me diria que deu no rádio uma notícia sobre uma tela como a televisão que existia na casa da dona Maria, viúva do Seu Alfredo, onde as pessoas poderiam conversar com as outras mesmo em outro lugar do mundo, como se pudessem ler a carta que o outro escreve instantaneamente, sem precisar esperar que o Sr. Antônio da central dos correios passasse na quinzena para pegar o envelope. E enquanto eu lhe servisse um licor de pêssego feito em casa e embrulhasse a compota de figo para que levasse à sua esposa com o convite de um almoço no domingo, lhe diria:
‘- É, Seu Zé... Esse povo da cidade não tem mais o que inventar! É cada idéia...’
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Um comentário:
Corazón!!! Seria tão bom viver nessas circunstâncias...muitos males da vida moderna não existiriam...Saudades beijos Fe
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