4.3.07

29

Nasci há 29 anos. A primeira imagem que tenho em mente é de meu pai segurando minhas mãos me ensinando a dar os primeiros passos. Viagem ou não, é uma imagem forte. Lembro que aos 4 minha mãe me acordou na manhã de 24 de dezembro avisando que o papai Noel ia passar em casa à noite: esse é o primeiro Natal de que me recordo. Ainda pequeninha eu prendi o dedão na porta do quarto e doeu um monte, e minha unha desse dedo nunca mais foi a mesma. Uma outra vez, nesse mesmo quarto, fiquei de castigo e desarrumei tudo para demonstrar minha insatisfação com aquele corretivo que me aplicaram. Lembro do bolo de aniversário em forma de tronco de árvore e aquele da casa da Moranguinho. Eu colecionava papéis de carta e os trocava, mas o destino deles era o meu futuro namorado, que nunca recebeu nenhum daqueles papéis pois eu tinha um apego fora do normal com eles. Fui fã de Menudos e Dominó. Tinha pavor em dar meu primeiro beijo. Sofri um trauma com a mudança de casa em 1989, e ainda mais com a mudança de escola, pois deixava para trás os meus amigos e meu primeiro amor. Na nova escola aprendi a pensar em mocinhos com mais frequência e ouvir trilhas sonoras para um amor desencontrado. Foi lá também que aprendi a andar de ônibus. Era popular e jogava mal e porcamente o voleibol. Em compensação eu dançava como ninguém. Dei meu primeiro beijo no meu segundo amor, aos 12 anos de idade. Aos 13 mudei de escola e conheci amigos que são presentes em minha vida até hoje. Fiquei fanática por Information Society quando me apaixonei de verdade pela terceira vez na vida, engatando um namorico de 5 anos que moldou uma série de coisas em mim: me transformou em alguém pensativa e de alma envelhecida. Aos 15 eu arranjei o meu primeiro emprego e adquiri responsabilidade, ao mesmo tempo que fazia agenda e descobria meus dons. Foi nessa época que Roxette me fazia chorar, mas já ouvia Smiths e achava o máximo. Aos 16 eu descobri que Deus existia e minha mente começou a se abrir para a vida. Aos 17 eu sofri de depressão por motivos bem tristes, e aos 18 continuei mergulhada nisso por um bom tempo, renascendo com o fim do namorico. Tive um amigo importante que me ajudou a chorar nesse tempo e me levou para conhecer pessoas e diversões, mas foi uma época em que me senti perdida. Entrei na faculdade em 1996. Passei 5 anos nulos indo à graduação. Nulos de vida. Virei workaholic nesse meio tempo. Meu irmão mais velho sofreu um acidente de carro que mudou as nossas vidas em 2001, véspera de Natal. Meu namorado foi morar no sul do país. Meu pai foi embora de casa. Passei a ser o homem da casa e amadureci ’50 anos em 5 meses’. Abri um escritório com uma das minhas melhores amigas e saí da casa de minha família aos 27 anos. Aos 28 eu mergulhei em mim e tomei decisões de gente grande. Nesse período uma pessoa me perguntou:
- Quem é a Cátia???
E aos 29 eu ainda não sei responder bem a essa pergunta. Só sei que nasci na época e no local errados. Que sou dada à melancolia. Que tenho um gênio forte. Que gosto de bolinhos de chuva. Que gosto de me molhar na garoa. Que adoro o céu de outono. Que cultuo o hábito de acordar às madrugadas. Que amo ler. Que não como fritura sem torcer o nariz. Que venero música. Que sou viciada em café. Que morro por pessoas. Que possuo mais saias rodadas que calças. Que batalho além do normal. Que trabalho mais além ainda. Que tenho medos pertinentes. Que adivinho o sexo dos bebês. Que cozinho como Amélia. Que tenho fé em Deus. Que me acho cheia de imperfeições. Que sonho em fazer flamenco, teatro, gastronomia e filosofia. Que cresci como patinho feio. Que adoro o silêncio. Que sou polida ao extremo. Que condeno injustiça. Que escrevo por necessidade. Que tenho sede de cultura. Que adoro os presentes menos sofisticados e mais simbólicos. Que prefiro doces de compota à tortas holandesas e afins (mas deixe o brigadeiro fora disso). Que contemplo borboletas. Que não durmo sem banho. Que abomino machucar os outros. Que me derreto por fazer alguém que amo sorrir.
O essencial, no entanto, ainda está escondidinho.
Que será dos 30?

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